Estar internado no hospital numa altura em que as visitas estão suspensas devido à pandemia da COVID-19 não é fácil, nem para o doente nem para a família. Apercebendo-se desta realidade, alguns enfermeiros do Hospital Padre Américo começaram a fazer video-chamadas dos seus próprios telemóveis, sobretudo para que os mais idosos e sem acesso às tecnologias pudessem matar as saudades.
“A moda” pegou e, agora com telefones dedicados oferecidos, são realizadas dezenas destas chamadas de vídeo que acalmam os medos e angústias, não apenas na Unidade de AVC, onde o serviço nasceu, mas também na Medicina Interna I e no Bloco de Partos.
A meta, explica Carlos Alberto, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, é alargar esta ideia a todo o hospital e mantê-la mesmo depois de ultrapassada a pandemia.
“Isto dá mais ânimo e motivação a quem está internado. Ajuda na recuperação e mantém os laços familiares presentes”
Foi a partir dela que germinou a ideia que foi crescendo pelo hospital. “Quando as pessoas ficaram impedidas de visitar os familiares internados, devido às restrições impostas pela pandemia Covid-19, os enfermeiros começaram a pensar em alternativas. Fazíamos chamadas dos nossos telemóveis e com os nossos dados, mas entretanto o hospital passou a ter wi-fi e lembramo-nos de lançar o apelo para que nos oferecessem um telemóvel. Apareceram logo dois”, resume.
Passou então a haver um “serviço” regular de video-chamadas. Basta à família fazer o pedido através de uma página de Facebook e depois é feito o contacto. Na última semana, só na Unidade do AVC, houve dezenas de chamadas realizadas.
Se há quem aproveite para matar algumas saudades e ver como está a saúde do familiar há casos mais emotivos. Como o da neta que se conseguiu despedir do avô que faleceu momentos depois, ou de filhos que não viam os pais há muito.
“Foi um alívio poder vê-la. Foi uma emoção muito forte”
Alexandra Ribeiro, que vive nos Açores, foi uma das familiares que já recorreu a este serviço para falar com a mãe, de 79 anos, do Marco de Canaveses.
“A minha irmã disse-me que havia esta possibilidade e foi só fazer o contacto. Falei hoje (ontem) a primeira vez com a minha mãe. Foi um alívio poder vê-la. Foi uma emoção muito forte. Foi a melhor coisinha que podiam ter feito”, diz referindo-se às video-chamadas.
Há seis meses que não a via, apesar de ter por hábito matar as saudades por telefone semanalmente.
É por estas mais-valias que o projecto de humanização se vai manter no pós-pandemia.
“Esta ideia dos enfermeiros veio responder a uma necessidade quando tiveram que fechar as visitas, no início do mês. É uma forma de manter o contacto entre doentes e famílias numa situação que causa angústia e ansiedade. Está em três serviços – Unidade de AVC, Medicina Interna I e Bloco de Partos – e vai avançar para a Cirurgia e Pediatria. Será para manter passada a pandemia e chegar a todos os doentes”, adianta Carlos Alberto, presidente do conselho de administração do CHTS.
Neste centro hospitalar os médicos também fazem consultas via telefone e video-chamada há doentes diagnosticados com COVID-19 que são acompanhados diariamente em casa pelas mesmas tecnologias, refere.