Não é só a importância histórica, mas também a afectividade que ligam Pedro Machado à Igreja de Santa Maria de Meinedo, em Lousada, um dos 58 monumentos que integram a Rota do Românico.
Apesar de nunca ter residido na freguesia de onde o pai é natural, o agora presidente da Câmara Municipal de Lousada lembra-se de visitar a igreja na juventude e foi também ali que, há 18 anos, celebrou o casamento.
Para o autarca, este edifício é uma das “joias da coroa” do concelho de Lousada. E, se os monumentos que integram a Rota do Românico já atraem visitantes, Pedro Machado acredita que, com a conclusão do Centro Interpretativo do Românico, edifício que se destaca em termos arquitectónicos, esse número será potenciado.
Este ano estão a assinalar-se os 20 anos do nascimento do projecto da Rota do Românico e os 10 anos da sua apresentação ao público.
“Esta igreja é o elemento do património que integra a Rota do Românico que eu diria mais relevante no nosso concelho”
Tudo indica que a Igreja de Santa Maria de Meinedo, classificada como imóvel de interesse público, deverá ter sido construída entre o final do século XIII e o início do século XIV. Embora a razão da fundação se prenda com o corpo de Santo Tirso, trazido de Constantinopla, o culto à Nossa Senhora de Meinedo sempre foi superior. A imagem que permanece na igreja, em calcário e com vestígios de policromia é um dos poucos exemplares da escultura românica em Portugal.
“Esta igreja é o elemento do património que integra a Rota do Românico que eu diria mais relevante no nosso concelho. Lousada tem seis monumentos na Rota do Românico mas nenhum é de grande dimensão. Este, pela sua história, é para mim o mais importante. Meinedo já foi sede de um bispado”, realça Pedro Machado, durante a entrevista realizada no exterior do edifício.
A “beleza ímpar” faz desta igreja “uma das joias da coroa” do concelho de Lousada, garante o presidente da câmara.
Pedro Machado ainda não era autarca quando as primeiras sementes do projecto germinaram, há 20 anos. Mas era técnico da Associação de Municípios do Vale do Sousa, a casa da Rota do Românico.
“A Associação de Municípios nasce pelas melhores razões, porque seis autarcas entenderam que tinham realidades muito semelhantes e problemas muito semelhantes e que juntos podiam dar uma resposta mais eficaz a esses problemas”, lembra o lousadense.
Mais que recuperar património, esses autarcas tiveram “uma visão de futuro” de criar um produto turístico, mesmo sabendo que seria um projecto que não daria frutos a curto-prazo. “Tiveram essa ousadia de apostar, de investir, e ainda bem que o fizeram porque se hoje aqui estamos deve-se a essa ousadia”, salienta Pedro Machado.
“Esse é um dos desafios para o futuro: o alargamento da Rota e o modelo de gestão da mesma, procurando sempre a sua sustentabilidade do ponto de vista económico”
Apesar de ter sido muito o trabalho feito nestes 20 anos, o autarca assume que ainda há muito caminho pela frente.
“O grande desafio, agora e nos próximos tempos, é potenciarmos, cada vez mais, a existência destes monumentos”, adianta Pedro Machado, lembrando a realidade diferente dos monumentos do concelho. “Alguns monumentos aqui de Lousada estavam totalmente degradados e abandonados. Lembro-me de, na minha juventude, passar pela Torre de Vilar e ver ali um amontoado de pedras cobertas de vegetação. Até uma árvore tinha no seu cimo. De facto, a Rota conseguiu transformar por completo a realidade de alguns monumentos com a sua conservação e salvaguarda e ainda criar um produto turístico”, sustenta.
Para trazer mais pessoas, ao concelho e à região, é preciso potenciar o que existe. “Para isso estão a ser feitos diversos estudos de mercado. Há um mercado que é mais propenso a este tipo de turismo cultural, nomeadamente o asiático. É evidente que este nunca vai ser um turismo de massas”, salienta.
Essa escala e notoriedade serão benéficas, acredita. Mas o projecto continuará a afirmar-se como sempre fez. “Já é quase corriqueiro a Rota do Românico ganhar prémios, e prémios internacionais inclusivamente, e isso é fruto desse reconhecimento do trabalho sério que tem vindo a ser feito”, argumenta.
A par disso houve uma apropriação da Rota por parte da população. “Agora já não é fácil encontrar alguém que não saiba o que é a Rota. Pelo menos têm uma ideia do que é e que está associado aos monumentos. E há cada vez mais restaurantes e empresas interessadas em aderir aos selos da Rota do Românico porque perceberam a importância e a notoriedade que o projecto consegue imprimir a tudo aquilo a que se associa”, acrescenta.
“Diria que há uma espécie de orgulho colectivo na Rota do Românico nesta região”, resume Pedro Machado.
“Lousada soube aproveitar ao máximo as potencialidades deste projecto e criou condições para que fosse construído o centro interpretativo”
E agora já são muitas as pessoas que procuram os monumentos do concelho, o autarca acredita que esse volume de visitas vai intensificar quando estiver concluído o Centro Interpretativo do Românico, localizado na Praça das Pocinhas. Um edifício que, só por si, já é um foco de atracção pelas características arquitectónicas e que assumirá uma importância estratégica.
“É um projecto muito bem conseguido. Já fomos desafiados a permitir que se fizessem lá algumas campanhas de marketing de marcas mundiais porque de facto é um edifício diferente e de grande interesse arquitectónico”, realça o presidente da câmara.
Pedro Machado acredita que, por causa deste centro interpretativo, virão mais pessoas a ao concelho. “Lousada soube aproveitar ao máximo as potencialidades deste projecto e criou condições para que fosse construído aquele centro. Os efeitos já se sentem, mas creio que poderão ser muito maiores. A partir do momento em que o centro abra as suas portas acho que vai haver aqui um ponto de viragem que vai ser substancial, pelo menos no que toca ao concelho de Lousada”, defende.
Quanto à oferta privada, Pedro Machado assume que o território tem potencialidades muito grandes que não estão a ser aproveitadas, sobretudo no que toca à falta de camas, algo que afecta especialmente o concelho que lidera. “Costumo dizer, um pouco a brincar e um pouco a sério, que vai acontecer o que aconteceu com as grandes superfícies, em que Lousada a dada altura não tinha nada e depois foi o boom. Temos aí uma serie de projectos a ser preparados e, se se vierem a concretizar, também a esse nível vai haver aqui uma alteração muito substancial”, adianta.
“Naturalmente que a Rota não chega para justificar investimentos avultadíssimos de privados, mas terá papel importante e acredito que os privados vão continuar a olhar a Rota do Românico como uma oportunidade quando decidem fazer os seus investimentos”, acrescenta.
Sobre o futuro e o sucesso do projecto Pedro Machado não tem dúvidas. “Este foi, é e continua a ser um dos principais projectos agregadores da região, com esta dupla vantagem de poder resolver o problema que tinham entre mãos, o da salvaguarda do património, e com isso criar uma alavanca para o desenvolvimento da região”, afirma.
Para os autarcas actuais sobra a “responsabilidade acrescida de valorizar cada vez mais este projecto” que continua a ser de médio e longo prazo.
“Aquilo que está feito é muito importante mas tão importante quanto isso é aquilo que podemos fazer com ele para a frente e é importante que os municípios se mantenham unidos em torno deste objectivo comum”, conclui.