Há consenso entre políticos, especialistas e autarcas. A Linha do Vale do Sousa, ferrovia que ligaria o concelho de Valongo a Felgueiras atravessando Paredes, Paços de Ferreira e Lousada, traria mais-valias à região. Mas o objectivo, a longo prazo, ainda terá que passar por várias etapas.
Presente na conferência que debateu esta linha como como factor de coesão territorial, no Auditório da A Celer, em Rebordosa, Paredes, o secretário de Estado das Infra-Estruturas, Guilherme d’Oliveira Martins, avançou que o tema terá ainda que ser estudado no âmbito do Plano Nacional de Investimentos 2030.
“A linha do Vale do Sousa será devidamente aprofundada no decurso do PNI 2030, na componente dos estudos, em articulação com a Infraestruturas de Portugal (IP) e as câmaras municipais envolvidas no projecto”, respondeu aos autarcas dos cinco concelhos envolvidos.
O projecto, sustentou Guilherme d’Oliveira Martins, “é apaixonante” e está “numa zona do país com uma atividade económica enorme e com uma densidade populacional que exige, sem dúvida, soluções de mobilidade”.
Deve haver “especial sensibilidade para regiões de elevada actividade económica e elevada densidade populacional”
O secretário de Estado lembrou que o Plano Ferrovia 2020 representou “um investimento sem precedentes” e “ambicioso” com intervenção em mais de 1.000 quilómetros de rede ferroviária e dois mil milhões de euros de investimento em várias linhas, representando um compromisso com a sustentabilidade ambiental e a promoção da mobilidade.
Depois de uma auscultação pública, foram inúmeros os contributos de comunidades intermunicipais, municípios e associações empresariais que são fundamentais, mas carecem de análise mais profunda, tendo que haver uma “especial sensibilidade para regiões de elevada actividade económica e elevada densidade populacional”, assumiu.
É o que acontece com a proposta de Linha do Vale do Sousa a que deve ser dada a devida atenção com “um estudo aprofundado, criatividade e disponibilidade”. O governante adiantou que o traçado será alvo de estudos no âmbito do PNI 2030, em articulação com a IP e as câmaras municipais. “Estamos a cumprir o que esta população nos pede. Sabendo que estes projectos exigem tempo”, salientou, recordando que, por exemplo, entre a ideia do Metro do Porto e a sua concretização passaram 13 anos. “É preciso estudos para concretizar os anseios das populações”, argumentou.
“Esta linha faz sentido. Terá obviamente que ser ponderada no conjunto do país”
Carlos Fernandes, vice-presidente da Infra-Estruturas de Portugal, considerou que esta nova linha “faz sentido”, mas salientou que, para avançar com o projecto, é preciso mais estudos, sendo essencial ampliar o número de linhas no troço entre Contumil e Ermesinde.
“Está em curso o maior plano de investimentos na rede ferroviária nacional das últimas décadas”, sustentou, falando da modernização de várias linhas. O comboio, explicou, é um dos principais meios de transporte em Portugal, transportando cerca de 140 milhões de passageiros anualmente.
Em termos de investimentos ferroviários no Norte, há dois estruturantes, afirmou Carlos Fernandes. “A linha do Norte, o principal eixo ferroviário do país, está muito próximo da sua capacidade, sobretudo em três troços junto a Lisboa, Coimbra e Porto. Entre Aveiro e Porto estamos muito próximos do limite de comboios que lá podem passar”, referiu, defendendo um aumento da capacidade.
Por outro lado, adiantou o vice-presidente da IP, o troço entre Contumil e Ermesinde, com seis quilómetros, por onde passam todos os comboios que vão para o Porto, Guimarães ou Minho também já não tem capacidade. “A nova linha do Vale do Sousa não poderá ser concretizada, pelo menos com uma frequência de dois a três ou quatro comboios por hora, enquanto este problema de capacidade não for resolvido”, argumentou.
“A IP gere a linha ferroviária, mas não cria política pública. Nós executamos o que é determinado pelo Governo e apoiamos na fundamentação das decisões com estudos. Esta linha faz sentido. Terá obviamente que ser ponderada no conjunto do país”, acrescentou Carlos Fernandes, salientando que os recursos são escassos e os fundos comunitários não são elásticos.
“O Tâmega e Sousa representa 8,5% das exportações da região Norte”
Também é preciso, determinou, fazer mais estudos. “Este é um estudo preliminar, não é possível fundamentar uma decisão neste nível de estudo, é preciso fazer estudos técnicos de traçado, de impacto de expropriações, avaliar soluções alternativas e quantificar. A IP está disponível para dar início aos estudos técnicos relativamente a este traçado e a constituir um grupo de trabalho com os municípios envolvidos”, concluiu.
No encerramento da sessão, Fernando Freire de Sousa, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, falou da dinâmica económica e populacional do território, lembrando que aquela que é a região mais pobre do país dá um contributo importante em termos das exportações nacionais. “O Tâmega e Sousa representa 8,5% das exportações da região Norte. Estes cinco concelhos envolvidos estão entre os 30 mais exportadores do Norte”, disse. Lembrou ainda que esta é a região mais jovem do país. “Paços de Ferreira, Paredes e Lousada são os três únicos concelhos verdadeiramente jovens do Norte”, em que a taxa de idosos é inferior à dos jovens.