Verdadeiro Olhar

Golfe: um gosto que desperta depois dos 70 anos

Em Paredes, mais de 400 idosos estão a experimentar, pela primeira vez na vida, jogar golfe. A ideia partiu da Câmara Municipal que, no âmbito do Movimento Sénior, está a levar os utentes das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS’s) ao Campo de Golfe do Aqueduto, situado na freguesia de Vila Cova de Carros.

A actividade está a agradar a idosos, técnicos e responsáveis autárquicos e até já se fala na constituição de uma equipa que represente o concelho em competições oficiais.

Para já, uma coisa é certa: o golfe tornou mais divertidos, dinâmicos e saudáveis alguns dos dias de centenas de idosos do município paredense.

 

“Não há idade para começar a jogar golfe”

Cândido Barbosa, vereador do Desporto da autarquia de Paredes, explica que foi já no ano passado que alguns idosos jogaram golfe pela primeira vez. “Aconteceu no âmbito de uma actividade do Movimento Sénior”, recorda. A iniciativa agradou e, desde então, começou a trabalhar-se na possibilidade de alargar essa experiência a mais seniores e, sobretudo, de torná-la mais regular. “Tentamos ter uma oferta diversificada de actividades desportivas, que vão de encontro ao gosto de todos. Depois do boccia, da piscina e da ginástica apostámos no golfe”, explica o autarca que já foi ciclista profissional.

A vontade da Câmara Municipal de Paredes encontrou eco nos responsáveis do Campo de Golfe do Aqueduto, que, de imediato, disponibilizaram as instalações e técnicos para que os idosos pudessem praticar a modalidade. “Esta casa existe para democratizar o golfe e para provar que este não é o desporto para ricos. Abrimos a instituição a todos os públicos e, para além dos idosos, passam por este campo 1500 crianças por mês das escolas do concelho”, defende António Bessa, presidente do Paredes Golfe Clube.

E foi através desta conjugação de esforços e vontades que os utentes das 16 IPSS’s do concelho começaram, no mês passado, a jogar golfe. Ao todo, mais de 400 idosos pegaram num taco de golfe pela primeira e todos poderão repetir a experiência se assim o desejarem. “Para já, fazemos uma sessão por mês. Mas a intenção é que esta actividade passe a ser semanal”, refere Cândido Barbosa. O responsável pelo pelouro do Desporto esclarece que o grupo de idosos a jogar golfe irá ser reduzido gradualmente, de forma a agregar apenas “os que tiverem condições físicas para a prática da modalidade” e os que mostrarem gosto por este desporto. “Quem sabe não se poderá fazer uma equipa que represente o concelho em competições oficiais”, avança o vereador.

Arménio Santos, director do Campo de Golfe do Aqueduto e um dos treinadores dos utentes das IPSS’s, garante que há potencial para formar alguns jogadores. “Fiquei surpreendido com pessoas de 75 e 80 anos que ainda têm uma capacidade motora muito grande”, diz. Para Arménio Santos, “não há idade para começar a jogar golfe”, desporto que tem várias vantagens para pessoas mais velhas. “Para eles é fantástico. O golfe facilita o contacto com a natureza e é um desporto não violento, que permite trabalhar vários músculos”, elogia.

 

“Já consegui chegar aos 125 metros”

Madalena Nogueira nunca tinha praticado desporto em toda a sua vida. Mas aos 73 anos experimentou o golfe e ficou a gostar. “Pensava que vínhamos apenas para ver e não sabia que ia jogar. Fiquei surpreendida quando pegámos no taco. Fiquei a gostar e irei continuar a jogar enquanto puder”, refere a utente do Centro de Dia de Vilela.

Ao lado, José Arlindo Barbosa, um homem de 75 anos conhecido por Pepe, continuava a bater bola atrás de bola. “Já consegui chegar aos 125 metros. Cada vez me habituo mais e gosto de jogar isto”, dizia orgulhoso.

Pepe frequenta o Centro de Dia de Baltar e é um desportista aplicado. “Sou o capitão da equipa de boccia”, salienta. Contudo, jogar golfe nunca tinha estado nos seus planos. “Só joguei duas vezes e se pudesse vinha treinar mais vezes”, sustenta.

Também Luís Soares promete jogar o máximo de vezes que conseguir. “Quando experimentei achei uma coisa espectacular. É bom para fazer exercício e também para o convívio. Obriga-me a sair de casa”, declara este utente da Santa Casa da Misericórdia de Paredes. Com 76 anos, Luís Soares foi ferroviário, serralheiro mecânico e segurança, profissões que nunca lhe deram tempo para praticar desporto. Por isso, aproveita a reforma para exercitar o corpo e a mente e encontrou no golfe uma modalidade adequada às suas necessidades. “Já joguei duas vezes, mas quero continuar. Se pudesse vir duas ou três vezes por semana era o ideal”, defende.

Albertina Moreira, uma septuagenária que também frequenta a Santa Casa da Misericórdia de Paredes, é outra idosa que nunca tinha sonhado jogar golfe. “Nunca tinha pegado num taco de golfe”, confirma. Mas a ida ao Campo do Aqueduto deixou-a interessada num jogo que nem na televisão via. “Não jogo tão bem como alguns companheiros, mas vou jogando alguma coisa”, frisa. Albertina Moreira acredita ainda que o “golfe faz bem à saúde” e também ao espírito. “Fico contente quando a bola vai para longe. Gosto de vir para o campo, pois não gosto de estar parada”, explica.