A família de Emídio Ribeiro Pires, de 76 anos, que faleceu, na segunda-feira de madrugada, em casa, uma hora depois de ter alta das urgências do Hospital Padre Américo, em Penafiel, está convicta de que houve negligência médica e de que terão sido usados exames de outro paciente para fazer o diagnóstico.
Em causa, uma possível troca de análises com um doente com nome semelhante. Entre os documentos do processo clínico de Emídio Pires, a que a família teve acesso, constam umas análises clínicas em nome de Emídio Pinto, realizadas a 7 de Dezembro, um dia em que Emídio Pires não esteve sequer na urgência hospitalar.
“O meu avô foi medicado para uma doença que não tinha e morreu por culpa do hospital”, alega a neta Sara Barbosa. O homem foi ontem autopsiado, depois da exigência da família, e o funeral realiza-se hoje, às 15h00, no Cemitério Municipal de Paredes. A família já garantiu que vai avançar com queixa-crime.
“Quando li a notícia e percebi que as análises podiam ser minhas contactei a família”
Interpelada pela família, a médica que deu alta a Emídio Pinto, no domingo à noite, terá justificado o erro da data nas análises constantes do processo do docente “com uma má calibração da máquina”. “Disse que também se devia ter enganado a digitar o nome”, refere Sara Barbosa.
Só que, ontem, depois das notícias vindas a público, a família foi contactada pelo “Emídio Pinto” a que pertencerão as análises. “Ele deu entrada nas urgências em Penafiel, vários dias, com crónica renal e o meu avô, provavelmente, quando deu entrada no dia 8, com expectoração, foi medicado para um problema renal com base nas análises deste senhor”, sustenta a neta. “Foi mal diagnosticado e piorou por causa disso. Este testemunho dá certezas de que algo correu mal”, acrescenta.
“Estive lá no dia 7 com uma cólica renal. Fiz análises e exames. Tomei medicação intravenosa e tive alta”, relata Emídio Pinto, de 45 anos. O morador em Cete, também Paredes, regressou nos três dias seguintes às urgências do Hospital de Penafiel, sempre com o mesmo problema, e cruzou-se com Emídio Pires, recorda: “Vi-o lá numa cadeira, com uma garrafa de oxigénio. Fixei a cara porque Emídio não é um nome comum e sempre que chamavam por ele levantava-me a pensar que era para mim”.
“Quando li a notícia e percebi que as análises podiam ser minhas contactei a família, para ajudar a esclarecer o que se passou. Acho que pode ter havido troca de exames”, concorda.
Recorde-se que o estado de saúde de Emídio Pires, de Besteiros, Paredes, tinha vindo a piorar no último mês. A respiração já era apoiada por uma máquina de oxigénio, 24 horas por dia, e tinha anorexia. Foi às urgências a 8 de Dezembro porque tinha expectoração, estava cansado, não conseguia respirar, e “achava que a medicação que lhe tinham dado na semana anterior era muito forte, porque lhe dava vómitos e tonturas”. Teve alta na sexta-feira de manhã. Acabou por voltar a dar entrada no dia 10, tendo sido diagnosticada uma “infecção urinária grave”. Teve alta no dia 11 à noite e morreu na madrugada de segunda-feira, cerca de uma hora depois.
Na primeira vez que foi contactado sobre o caso, o Hospital de Penafiel lamentou “profundamente a morte”, deixou condolências à família e garantiu que a situação ia ser “analisada com detalhe”. Perante esta possível troca de exames, o hospital não tece, para já, comentários.