A um ano das eleições legislativas, adivinha-se que o ano lectivo que agora começou seja conturbado. Por dois motivos: primeiro, porque os sindicatos usam as vésperas das eleições para forçarem a sua luta e obrigar os governos a cederem; depois, e talvez o mais importante, porque os professores perceberam que António Costa não vai conseguir cumprir a promessa de repor o tempo de serviço que lhes havia feito em campanha eleitoral.
Na semana passada, e de forma muito conveniente para o Governo, foram divulgados dados que descredibilizam os professores e os sindicatos: “Mais de metade das baixas na educação foram fraudulentas”. Os dados foram divulgados pela Comissão Europeia e prontamente generalizados a todos os professores e amplamente divulgados nos locais do costume.
A terminar a semana, o Governo divulgou outro estudo, este agora da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que afirma que os professores portugueses ganham o mesmo que os franceses e os espanhóis e mais do que os italianos. Para dar colorido ao estudo, é ainda dito que a média dos trabalhadores portugueses ganha menos 40 a 55 por cento do que os trabalhadores desses países. O estudo parece ser tão credível que muitos professores reagiram dizendo que não se importam de trocar os anos de serviço que lhes cortaram por um salário idêntico ao dos professores franceses e espanhóis.
Tudo isto parecia estar a correr bem, se não ficássemos a saber que o actual secretário de Estado da Educação, João Costa, tem um cargo de presidência num dos gabinetes de estudo da área da Educação da OCDE, que lhe dá o poder de decisão e de revisão de estudos na organização internacional que mais avalia as políticas e as medidas que são decididas pelo seu ministério.
Resumindo: como não vai conseguir cumprir a promessa feita aos portugueses, o Governo passou para a estratégia de convencer os cidadãos eleitores que os professores são uns senhores que ganham muito dinheiro e que, caso façam greve, é apenas por perrice.