Equinócio

Ao consultar na Internet a página do Observatório Astronómico de Lisboa, fiquei admirado com o que lá vi sobre o equinócio. Começa por uma explicação etimológica muito elaborada do vocábulo que tem origem no Latim e significa “noite igual”. E explica que em toda a Terra a duração do dia é igual à da noite quando o sol passa pelo plano do equador, o que aconteceu no passado dia 20 de março às quatro e meia da madrugada. Noite igual ao dia é para todo o ano no equador, como bem sabia Camões, e nessa página transcreve-se o conselho que nos Lusíadas o deus Mercúrio dava em sonhos a Vasco da Gama para evitar Mombaça e se acercar de Melinde, mais a Norte e próxima do equador “onde o dia iguala a noite”, guiando-o para a Índia:

Vai-te ao longo da costa discorrendo,

E outra terra acharás de mais verdade,

Lá quase junto donde o Sol ardendo

Iguala o dia e noite em quantidade;

Ali tua frota alegre recebendo

Um Rei, com muitas obras de amizade,

Gasalhado seguro te daria,

E, para a Índia, certa e sábia guia.

Neste equinócio de março começa a primavera no nosso hemisfério Norte e o outono no hemisfério Sul, com os nossos dias maiores que as noites, ainda por cima com a simpática hora de verão que também começou em março, este ano nem mais nem menos que no Domingo de Páscoa. Por falar em hora de verão: é uma prática corrente na maior parte dos países afastados do equador; começou para se poupar energia e continua provavelmente porque as pessoas gostam dos dias com mais luz solar até mais tarde. Na verdade, a poupança de energia, embora real, é modesta e talvez não justificasse por si só as inconveniências que as mudanças de hora também causam.

Quem primeiro teve esta ideia da hora de verão foi Benjamin Franklin numa carta meio a sério meio a brincar publicada em 1784 no “Journal de Paris” durante uma sua estadia naquela cidade. A carta levava o título de “An economical project”, mas a ideia só veio a ser posta em prática no início no séc. XX na Europa e Canadá, tendo sido a Alemanha o primeiro país a legalizá-la, em 1916. Portugal estreou a hora de verão também em 1916 e manteve-a em vários períodos posteriores intervalados e sempre desde 1977.

O equinócio da primavera lembra-me, por outro lado, a felicidade dos portugueses em viverem numas “boas” latitudes, longe dos calores equatoriais ou mesmo tropicais e dos frios polares, e sempre temperados pelas amenidades atlânticas. Já agora, não tendo vulcões nem ciclones frequentes como vemos suceder noutras paragens.

Finalmente, é o equinócio da primavera, com o subsequente dia de lua cheira, que determina o Domingo de Páscoa, entre 22 de março e 25 de abril. Poderia a gente do hemisfério Sul sentir-se descriminada, mas acontece que Jesus nasceu em Belém, em pleno hemisfério Norte, de coordenadas 31°42′11″N e 35°11′44″E, poucos quilómetros a Sul de Jerusalém. Aqui veio a morrer, tendo ressuscitado ao terceiro dia. Nesta grande festa bem podemos sentir-nos gratos e felicitar-nos e dar os parabéns a Nossa Senhora com a saudação pascal do meio-dia: Rainha do céu alegrai-vos, aleluia. / Porque Aquele que mereceste trazer em vosso ventre, aleluia. / Ressuscitou como disse, aleluia. / Rogai por nós a Deus, aleluia. / Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, aleluia. / Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia.