São muitas as entidades que procuram manter vivas a cultura e tradições de uma região rica em história e património.
Este ano, destacamos o trabalho que tem sido feito em Valongo, na revitalização da tradição centenária do pão, da regueifa e do biscoito.
A fama de Valongo como terra ligada à panificação, sendo o grande centro produtor de pão e de biscoitos destinados ao abastecimento da cidade do Porto e de toda a região, é antiga e a Câmara Municipal de Valongo tem vindo a capitalizá-la, nos últimos anos, fazendo dela uma das marcas identitárias de um concelho antes conhecido por muitos como um “dormitório”.
Foi em 2021 que abriu a Oficina da Regueifa e do Biscoito de Valongo, face visível desse trabalho, recuperando um edifício devoluto, também centenário, o antigo quartel dos Bombeiros Voluntários de Valongo, no Largo do Centenário. É um espaço de história, memórias e sensações – onde até se pode colocar, literalmente, a mão na massa -, que homenageia os valonguenses que se dedicam e dedicaram ao fabrico do pão e do biscoito, preservando essas memórias.
Mas a revitalização desta tradição, numa parceria com as padarias e biscoitarias ainda existentes, as que resistiram aos tempos e as que têm vindo a renascer a inovar, vai muito além deste edifício.
Desde 2014 que se fez a aposta na realização da Feira da Regueifa e do Biscoito de Valongo & Mercado Oitocentista de Valongo (iniciativa apenas interrompida pela pandemia), que transforma o centro da cidade e traz milhares de visitantes a provar os produtos e a ver recriações históricas e outras actividades culturais. Realçamos ainda o facto de, a história das antigas padarias e biscoitarias do centro da cidade estar exposta em painéis nos respectivos edifícios.
Um trabalho a continuar já que é importante preservar o património imaterial.
Rota do Românico – Projecto Ver do Bago
Um outro projecto que pretendeu celebrar a relação material e simbólica entre a vinha e a paisagem cultural e humana dos vales do Sousa, Douro e Tâmega, foi o “Ver do Bago, um Brinde entre Deus e os Homens” da Rota do Românico em parceria com várias entidades.
O território foi “a ideia” e a “cultura o instrumento”, tendo sido criado um ciclo de três exposições que começou no ano passado e termina em meados deste ano, passando por vários dos concelhos da região, como Penafiel e Lousada, numa iniciativa co-financiada por fundos europeus.
A primeira foi a “Ver do Bago nos Mosteiros” e teve como palco o Mosteiro de Santo André de Ancede, em Baião, vista por três mil pessoas, a segunda, a “Ver do Bago nos Santos” está patente na Igreja do antigo convento de Santo António dos Capuchos, em Penafiel, para mais uma “experiência imersiva que nos mostra como estão interligados a vinha, o vinho, o território, o divino e as pessoas”.
Integrado neste projecto, decorre também o “Inventar-se de Gente”, um espectáculo sonoro e performativo, dirigido a crianças e famílias e que as leva a uma viagem de sensações, que tem passado por vários concelhos. Tem por base “o cancioneiro tradicional e a tradição oral do espaço geográfico da Rota do Românico”.
De realçar que, nesta distinção, não é de excluir todo o trabalho que a Rota do Românico continua a desenvolver no sentido de preservar e divulgar o património da região, assim como a aposta que tem feito em mostrar os cuidadores desse património, cujo trabalho passa, muitas vezes, despercebido.
Projecto Holograma do Serviço Educativo da Casa da Música – quebrar barreiras na comunidade cigana
O nome do espectáculo continha em si todas as explicações a dar: ‘Derrubar Paredes. Erguer Paredes’. Criado especificamente para uma comunidade muitas vezes marginalizada e alvo de estigma, subiu ao palco da Casa da Cultura de Paredes e pôs crianças e jovens da comunidade cigana instalada no centro da cidade, acompanhados por músicos profissionais, a mostrar um pouco da sua cultura.
A iniciativa integrou o projecto “Holograma da Casa”, do serviço educativo da Casa da Música, que em parceria com os 17 municípios da Área Metropolitana do Porto tem procurado levar cultura àqueles que normalmente não a têm, quebrar barreiras e preconceitos.
Em Paredes, juntaram-se instrumentos tradicionais e electrónicos, como a guitarra, o cajón, tablets e sintetizadores, e as crianças e jovens, dos oito aos 18 anos, cantaram e dançaram, com várias referências da música cigana, como o gypsy jazz ou a rumba flamenca. Em palco esteve “a vida deles”, desde as pipocas aos balões das feiras.
“É importante mostrar a cultura cigana para as outras pessoas perceberem que somos iguais”, foi uma das frases ditas por uma menina de apenas 10 anos, demonstrativa de que ainda há muito a fazer para mudar mentalidades, quebrar estereótipos e promover a aceitação.
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