É certo que a pandemia trouxe grande reconhecimento e visibilidade à enfermagem, mas já deveriam ter essa notoriedade, porque é verdade que são as primeiras pessoas e últimas que vemos quando precisamos de cuidados de saúde e entramos numa unidade hospitalar. Olhando para o mundo atual, os desafios para esta classe profissional são gigantes, sobretudo quando trabalham no Centro Hopitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), onde os seus responsáveis se recusam a andar à boleia da inovação, mas fazem questão de estar na linha da frente dessa evolução.
Pelo menos é o que se depreende da conversa que o Verdadeiro Olhar teve com o enfermeiro diretor daquele hospital que alega que os ‘seus’ profissionais estão na vanguarda de práticas que visam a melhoria dos cuidados de saúde e o bem estar dos doentes.
Para começar, José Ribeiro destaca que os enfermeiros têm que defender os “valores humanos”, ter “compaixão e respeito” pelos doentes, ao mesmo tempo que “respondem às suas necessidades e expetativas em tempo útil”, envolvendo-os também nas tomadas de decisão. Uma afirmação que surge numa altura em que se assinala o dia internacional desta classe profissional.
E o papel das gestão na saúde agiganta-se nos tempos modernos em que se fala tanto de minimizar recursos financeiros.
Para já, refira-se que, todas estas temáticas vão estar em destaque, amanhã, 12 de maio, num ciclo de conferências, que decorrem no Auditório do Hospital Padre Américo, das 9h00 às 17h00, onde vão estar em cima da mesa temas como “o valor económico da enfermagem”, “ser feliz no trabalho”, “o desafio da liderança de equipas”, “gestão em enfermagem: o perfil de competência”, entre outras matérias que dizem respeito, por um lado, “à gestão pura” e, por outro, às “qualificações e competências”, que andam de braço dado com os cuidados personalizados. (programadiadoenfermeiro202)
A realidade da enfermagem portuguesa trilha um caminho que visa a “procura das melhores práticas” e que envolvem a valorização das especialidades, assim como “a criação de valores para um efetivo contributo na área da prevenção”. E a verdade é que, os enfermeiros “têm correspondido” a essas novas visões e, no caso do CHTS, esse trabalho tem sido feito, o assegura o diretor.
Pretende-se “mais eficiência, menos desperdício e maior proximidade dos utentes”, promovendo, em simultâneo um modo de “vida saudável”
Esta unidade tem 885 enfermeiros que têm como “foco o doente”, permitindo-lhe criar “um melhor acesso aos cuidados de saúde”, atuando, em paralelo, com “a criação de valores”, a terapêutica e a solução do problema, de forma “mais rápida e em tempo cada vez mais oportuno”, refere José Ribeiro.
O objetivo de quem presta estes cuidados de saúde passa sempre por “reduzir os tempos de espera do doente e de internamento”, o que está ligado “a uma boa gestão”, porque estes fatores juntos, levam a “uma quebra nos custos da saúde”. Ou seja, pretende-se “mais eficiência, menos desperdício e maior proximidade dos utentes”, promovendo, em simultâneo um modo de “vida saudável”.
Instado sobre esta greve que acontece neste dia, onde os enfermeiros pedem melhores condições de trabalho e a contratação de profissionais, José Ribeiro reconhece que “os hospitais estão sob pressão”, uma vez que, Portugal tem “43% de doentes crónicos” e “se queremos o foco nas pessoas, tem que haver melhoria dos cuidados de saúde, com menos custos e um aumento da qualidade”. Tudo isto, exige “uma organização segura, equipamentos, material necessário e um número suficientes de especialistas”.
O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa é uma das unidades mais avançadas do ponto de vista formativo e onde se promove a investigação
Jorge Ribeiro aproveita o tema para sublinhar que, o CHTS forma, por ano, “mais de 1300 enfermeiros, mais de 300 especialistas, 600 médicos e 300 assistentes operacionais”. Mas esta é uma unidade “de elevado nível e qualidade”, com espaços e ambiente favorável à prática de cuidados Por isso, é um dos hospitais “mais avançados do ponto de vista formativo, onde se promove a investigação”.
A prová-lo estão as auditorias (pedidas), promovidas no CHTS que o colocam “num processo de desenvolvimento único no país”, tornando-o uma “referencia e pioneiro”, frisou.
E se é verdade que no início e fim da vida os enfermeiros estão sempre presentes, Jorge Ribeiro aproveita para destacar que estes profissionais nunca se podem esquecer de se “colocar no lugar do outro”, numa lógica da abordagem que anda a par com os cuidados de saúde, porque “além de terem a capacidade de demonstrarem que são competentes, que têm conhecimento científico, ” têm que ter “uma atitude empática”, porque “90%” da avaliação que os utentes fazem da relação com estes profissionais, está relacionada com esta qualidade.
E, apesar do “valor do enfermeiro não estar muito vincado”, quando os cuidados de saúde não são desejados, essa ausência é a que se “nota” sobremaneira, lembrou o enfermeiro diretor.
E José Ribeiro conhece bem esta profissão e toda esta realidade, porque contabiliza 33 anos de serviço. Natural de Amarante, já trabalhou como vogal no conselho de administração da ARS, tendo já estado em lugares de gestão no hospital de Valongo, no Centro Hospitalar do Alto Ave e, desde 2016, que é enfermeiro diretor do CHTS.
O gestor de carreira confessou ao Verdadeiro Olhar que “poderia ter tomado outros caminhos”, mas trilhou este percurso “por paixão pela saúde, pela política, pela gestão e enfermagem”.
E estes profissionais não se podem ver somente analisados à luz das ‘batas brancas’ que vemos a circular nos corredores das unidade de saúde. São muito mais que isso. Mas, também eles têm que encarar o seu trabalho como uma missão realizada “em equipa”. Este é um dos pontos defendido por José Ribeiro defende para o CHTS, porque, se assim for, as respostas que derem irão de encontro “às verdadeiras necessidades dos doentes”, ao mesmo tempo que são “mais eficientes”.
Para existir melhoria dos cuidados, tem que haver “qualificação”, o que não falta nesta unidade. E para se conseguir perceber esta dimensão, o dirigente lembra que “há seis anos tinham 63 enfermeiros especialistas, hoje são 211. No total tínhamos 570, atualmente há 885”. O que representa “uma grande evolução” que tem que ser vista para além dos números, porque ali tentam-se criar ferramentas científicas que possibilitem dar passos na área da investigação, tornando-o um hospital de “referência e único no país”.
A título de exemplo, José Ribeiro avança que “de seis livros científicos que vão ser publicados, há nestas publicações 12 capítulos escritos por profissionais do CHTS”. Já para não falar em participações em revistas nacionais e internacionais. O enfermeiro diretor também destaca o facto de ser “o único hospital do país que tem um e-book”, criado com o objetivo de “melhorar as práticas de saúde”. A prevenção também é uma das prioridades destes profissionais, feita através da literacia em saúde, por exemplo, ensinando nutrição, para evitar problemas futuros.
A tudo isto somam-se “mais de 70 projetos de investigação” e cerca de 150 de inovação. Ora, e segundo o enfermeiro diretor “não há hospitais com uma dimensão tão grande e com uma produção tão grande” nestas áreas. Porque, no final, o que se pretende é que todos aqueles que trabalham no CHTS tenham “qualificações e competências” e que, todos os dias, “melhorem as suas práticas”. Mas, que também sejam cada vez mais humanos, ‘mais doentes’.