Verdadeiro Olhar

Enfermeiros do CHTS já ensinaram 1.200 crianças da região a salvar vidas (C/FOTOS)

“Chegamos ao recreio e está um colega caído, o que é que fazemos?”, pergunta uma enfermeira. “Chamamos o 112”, respondem as crianças do Jardim-de-Infância de Peroselo, em Penafiel. Nessa parte não há dúvidas. Mas há ainda muitos outros gestos e passos a aprender, como ver se a pessoa está a respirar, saber colocá-la em posição lateral de segurança para não se engasgar e fazer a massagem cardíaca até chegar ajuda.

Centenas de crianças da região do Tâmega e Sousa estão a aprender que as suas pequenas mãos podem salvar vidas.

As “aulas” com conceitos simples de suporte básico de vida, em que as crianças treinam com os seus bonecos e peluches, aprendendo a actuar em emergência de forma lúdica, são realizadas pela equipa de Enfermagem do Serviço de Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS).

O projecto, lançado há um ano no âmbito da Semana do Enfermeiro, chegou já a 1.200 crianças de jardins de infância e do 1.º ciclo de mais de 20 escolas dos concelhos de Paredes, Penafiel, Marco de Canaveses e Paços de Ferreira. Até ao final do ano lectivo chegará a mais 500 e existem escolas em lista de espera.

Desmistificar medos e lançar sementes

Como em qualquer aula primeiro vem a teoria, com as enfermeiras do CHTS a explicarem todos os passos a seguir para ajudar alguém que está desmaiado e inconsciente, desde explicar o que é uma posição lateral de segurança até como se entrelaçam os dedos para fazer uma massagem cardíaca. Os meninos e meninas ouvem com atenção. Têm à frente os seus bonecos e peluches a quem deram nomes e aos quais estão prontos a prestar auxílio.

Depois vem a prática. Em pares, com as enfermeiras, aprendem a executar cada gesto. No final, cantam todos uma canção que retrata tudo o que aprenderam sobre como prestar socorro a alguém inconsciente.

No final da semana passada, foi a vez do Jardim-de-Infância de Peroselo acolher a sessão “As tuas mãos salvam vidas”, com a ajuda das enfermeiras Adriana Machado, Isabel Gomes, Kelly Luís e Raquel Santos.

As sessões, destinadas a crianças do jardim-de-infância e primeiro ciclo, querem “fomentar às crianças um ensino sobre como agir quando encontram uma pessoa caída, desmistificar o medo que muitas vezes as crianças têm em relação ao estar desmaiado”, justifica a enfermeira Isabel Gomes. “Quanto mais cedo se começar a dotá-los de noções de suporte básico de vida melhor”, explica, assumindo que estas sessões lançam apenas uma semente. “Ensinamos a distinguir se a pessoa está a respirar, a colocar o outro em posição lateral de segurança até chegar ajuda. Qual o número a ligar e a estar à espera que façam muitas perguntas. Não desligar o telefone até que enviem ajuda e saber identificar o sítio onde estão, além de noções sobre como massajar. Ao começar nestas idades estamos a fomentar uns adultos mais informados e sem medos”, diz ainda.

A enfermeira Isabel Gomes garante que a formação se adequa a estas idades e que os mais novos gostam. Acima de tudo, é informação útil que pode ajudar alguém, como já aconteceu. “Alguma coisa fica e é isso que pretendemos. Já tivemos o caso de uma criança de uma escola onde tínhamos ido que teve um familiar que se sentiu mal e que ligou para o 112 a pedir ajuda”, conta a enfermeira.

Rosário Castanheira, educadora deste jardim-de-infância, não tem dúvidas da importância destes ensinamentos de que falaram na sala de aula, treinando a música, mesmo antes da sessão. “Esta actividade foi bastante importante, porque eles assimilam bastante bem as informações. São capazes de nos próximos dias estarem a fazer isto na sala aos bonecos”, acredita. “Eles estavam com uma expectativa muito grande. Estavam ansiosos por poderem reanimar os peluches. Acho que vai ficar sempre algo desta actividade”, afirma.

No dia ficou, como testemunharam o Martim e o Pedro Afonso. “Hoje aprendi a salvar vidas. Tem de se ver se a pessoa está a respirar, ver se está desmaiada e ligar o 112. Também se faz a massagem se não estiver a respirar. A massagem é difícil porque tem de se fazer com muita força”, explica Martim Leal dos Santos, de 5 anos.

“Aprendi a ligar o 112. Depois temos de ajudar. Ver se a pessoa está a respirar, se mexe a barriga e depois massajar com as mãos. Se encontrar um colega desmaiado vou saber o que fazer”, garante Pedro Afonso Mota, de 6 anos.