Verdadeiro Olhar

Empreendedor de Paços de Ferreira venceu Prémio Nacional Indústrias Criativas

Foto: André Henriques

Um jovem empreendedor de Paços de Ferreira venceu o Prémio Nacional Indústrias Criativas, na categoria Arquitectura e Artes Visuais, com uma poltrona chamada Moon que tem um sistema de som completamente integrado e invisível.

Com esta vitória, Pedro Meireles, CEO e fundador da empresa Horizon 47, vai representar Portugal na competição internacional Creative Business Cup, que se realiza em Novembro, em Copenhaga, na Dinamarca.

O engenheiro civil acredita que este reconhecimento dará a projecção internacional de que o projecto precisa para arrancar com o processo de internacionalização. Os mercados com maior potencial para este produto inovador e tecnológico, que não está ao alcance da carteira de qualquer um, serão o Médio Oriente, a Ásia e os Estados Unidos da América, aponta.

Ideia nasceu em casa de um amigo

Pedro Meireles tem 29 anos e é natural de Penamaior, Paços de Ferreira, onde viveu até ingressar no ensino superior. “Sempre fui bom aluno, mas nunca tive sinais de empreendedorismo nessa altura. Estava focado em conseguir entrar na faculdade e em Engenharia Civil o que acabei por fazer de forma bastante interessante já que nesse ano acabei por ser o melhor aluno a nível nacional a entrar em Engenharia Civil na FEUP”, descreve o jovem.

Gostou do curso e formou-se, mas não esconde que hoje, teria feito outra escolha, talvez na área da Gestão Industrial. “O mercado de trabalho na área da Engenharia Civil está deplorável e a profissão encontra-se completamente desvalorizada”, lamenta.

Filho de uma professora e de um arquitecto, e com um avô ligado à indústria do mobiliário, Pedro Meireles seguiu outro rumo quando ficou desempregado em 2015. Achou que era a altura certa para desenvolver uma ideia que tinha tido em casa de um amigo e criou a empresa Horizon 47.

“Uma vez fui a casa de um grande amigo e ele mostrou-me uma coluna de som que tinha um princípio de funcionamento muito interessante. Basicamente a coluna funcionava por indução de vibração e quando era colocada em alguma superfície rígida, esta era utilizada como meio de propagação e passava a funcionar como altifalante. Achei então que o conceito poderia ser muito interessante quando aplicável a uma peça de mobiliário”, conta.

A semente germinou. Primeiro ainda pensou em criar uma secretária de trabalho, mas depois a ideia evoluiu para uma poltrona, “uma peça de conforto que pudesse transmitir ao seu utilizador uma experiência muito mais imersiva”.

Fez testes e pediu ajuda a uma empresa inglesa especialista em electroacústica para averiguar o potencial do projecto e da tecnologia. Da concessão à produção da versão final do produto decorreram três anos. Em 2016 apresentou em Paris, na Maison & Object, um modelo protótipo que foi bem acolhido.

Produzida em Portugal e com nome de lua

A poltrona, com um sistema de som completamente integrado e invisível, foi produzida em Portugal. Chamou-lhe Moon.

“Moon deriva da inspiração que define a marca. Horizon representa todos os pioneiros que gostam de desafios de se superar, superar barreiras e ir além dos limites. 47 é um número muito ligado à ficção científica e muitos acreditam ser o número que mais se repete na natureza”, explica Pedro Meireles.

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Mas o simbolismo não para por aí. “No ano passado fiz uma viagem aos Açores e visitei a ilha do Pico. A montanha do Pico, vulcão ainda com actividade, é o ponto mais alto de Portugal. A subida é exigente e ao longo do percurso existiam marcos com números para ajudar as pessoas a orientarem-se. O último marco, na cratera do vulcão era o número 47. Depois ainda existiam mais 200 metros de subida até ao piquinho, o cume mais alto da montanha. Ao chegar lá acima o que mais me impressionou foi a linha do Horizonte. Foi aí que o nome da marca fez ainda mais sentido”, sustenta o empreendedor.

Design, conforto e qualidade construtiva são o foco deste cadeirão personalizável e com casco em madeira maciça. “A construção desse casco, e devido à sua elevada complexidade, exige trabalho manual de marcenaria e entalhamento, o que lhe confere um elevado valor acrescentado. No interior do cadeirão o estofo apresenta uma estrutura e volumetria inovadora, existindo elevada preocupação com o estudo da ergonomia e pelo desenvolvimento de soluções inovadoras a este nível, que tornam esta uma peça de excelência ao nível do conforto. O tecido usado no estofo tem propriedades acústicas especificas que garantam suficiente transparência ao som e está disponível em diversas cores para permitir diversas opções de personalização e maior adaptabilidade a qualquer tipo de espaço”, descreve.

Já o sistema de som está completamente integrado no interior do cadeirão e está dividido em três partes, cada uma responsável por emitir numa gama de frequências específica de forma a obter uma resposta linear e o mais omnidirecional possível, acrescenta.

Para funcionar a poltrona tem que ser ligada à corrente eléctrica, conectando-se aos outros aparelhos por wi-fi ou Bluetooth. “Ao nível tecnológico a grande inovação prende-se na utilização de excitadores acústicos que utilizam a própria estrutura da cadeira para funcionar como coluna do som permitindo dessa forma uma resposta virada não apenas para o utilizador mas também para o ambiente, ao contrário das soluções existentes que apenas pensam no ouvinte que está sentado”, salienta o criador deste produto premiado, que alia a tradição do mobiliário pacense e o seu know-how à tecnologia.

“Toda a gente fica imensamente surpreendida com o produto e com as suas potencialidades”

Para já existe apenas uma versão final produzida e a marca foi lançada no mercado em Milão, em Abril deste ano, no Brera Design District. “A reacção das pessoas tem sido sem dúvida das melhores coisas. Toda a gente fica imensamente surpreendida com o produto e com as suas potencialidades. Uma das coisas mais interessantes é verificar que a maior parte das pessoas não se apercebe que o som vem da poltrona. Só se apercebem quando se sentam nela”, afirma o jovem de Paços de Ferreira.

Pedro Meireles espera que esta vitória no Prémio Indústrias Criativas e a presença em Copenhaga ajude “no desenvolvimento e crescimento do produto” e na projecção internacional da marca.

Os próximos passos serão apostar na comunicação e estabelecer parcerias estratégicas que a projectem. “Neste momento temos uma parceria com a Mercedes Benz, através da Sociedade Comercial C Santos. Junto com este concessionário vamos fazer um stand de alto luxo na feira do Móvel em Paços de Ferreira. O objectivo é juntar duas marcas e dois produtos que comunicam para o mesmo público-alvo e têm uma filosofia muito semelhante”, adianta.

O pacense acredita que os mercados com mais potencial para a Moon são o Médio Oriente, a Ásia e os Estados Unidos da América.