Verdadeiro Olhar

E agora Portugal?

 

No dia 4 de Outubro encerrou-se o primeiro ato de um processo de transformação da nossa democracia. Todos ganharam menos o PS. A CDU teve mais alguns votos e mais um deputado do que nas últimas legislativas e ganhou. O BE triplicou o número de votos e duplicou o número de deputados e cantou vitória. A coligação PSD+CDS perdeu votos e deputados mas cantou vitória e entoou a Portuguesa com honras de primeiro lugar no pódio. O PS ganhou votos e deputados mas teve que assumir a derrota. Colocou a fasquia demasiado alta. A única vitória que servia ao PS era ganhar com maioria confortável e equilíbrio parlamentar. A coligação PPSD+CDS, para governar, terá que mostrar a flexibilidade e capacidade negocial que nunca demonstrou em quatro anos de governo. Terá que negociar com a esquerda que sempre hostilizou. O PS não teria menores dificuldades. Tal como em 2009 teria que negociar à direita e à esquerda e sofrer com as consequências do boicote. Não querendo minimizar a derrota do PS, sinto que não há razão para grandes lamentos por quem perdeu, nem de grande festejos para quem ganhou.

O segundo ato deste processo será a eleição presidencial. Apesar não saber quem será o próximo presidente, não será difícil prever que será uma mudança positiva e um contributo de peso no desanuviar político da intricada dificuldade de relacionamento interpartidário da nossa sociedade.

O terceiro ato será a repetição das eleições legislativas. Na história da nossa república apenas um governo minoritário conseguiu terminar a sua legislatura e foi social e socialista. Nem Pedro Passos Coelho nem Paulo Portas são tolerantes e negociadores como foi Guterres, nem a sua política liberal e capitalista poderá manter por muito mais tempo os portugueses adormecidos com os fantasmas do passado. No passado foi a ignorância o que nos manteve brandos e doceis. Agora é a exploração do medo e da descredibilização do regime em que vivemos o que nos mantém adormecidos e controlados? Não tenho dúvida de que o grande objetivo desta coligação é a alteração da Constituição. Seja qual for o atalho que pretendam tomar, até à maioria absoluta e parlamentar, só a alteração da Lei Fundamental permitirá alargar os poderes do governo, reduzir as liberdades fundamentais, transformar o regime social e solidário num regime liberal e capitalista. Só a abolição ou neutralização do Tribunal Constitucional permitirá a concretização das políticas de agressão sucessivamente tentadas e travadas ao longo dos últimos quatro anos. Por quanto tempo a esquerda desunida conseguirá manter a maioria parlamentar e travar estes anseios? A vitimização já no passado resultou em maioria absoluta. Depois desta vitória de Pirro e depois de alguns meses de impasse, dificuldade de diálogo e de provocações à esquerda para aumentar a instabilidade, é muito possível que o povo, assim manipulado e cansado, dê a maioria à direita. Teremos então a perspetiva de um outro mandato de mais quatro anos com a coligação PSD+CDS? Arre que é demais… “Quo Vadis” Portugal?