Fizeram-se na altura ensaios de resistência com sobrecargas de pesos muito superiores aos dos comboios da época. Com o decorrer dos anos, no entanto, a ponte começou a evidenciar insuficiências cada vez mais acentuadas. Era atravessada por uma linha única e não suportava os pesos das modernas locomotivas e de certas cargas como as dos vagões de cimento. Destas limitações resultaram procedimentos curiosos. Um deles foi o da existência de um bastão indispensável para o chefe de estação poder autorizar a partida de um comboio de Porto-Campanhã para Gaia ou no sentido inverso. O bastão era transportado pelo último comboio que partisse de uma das estações e entregue ao chefe da estação de destino para este poder autorizar travessias da ponte em sentido inverso. A tal ponto que se tivesse havido um lapso e o bastão não tivesse seguido no último comboio, era levado então por uma locomotiva para que pudesse haver tráfego em sentido oposto. O certo é que este procedimento evitava colisões na ponte por falhas de comunicação. Outro procedimento era a extrema lentidão com que os comboios percorriam a ponte, certamente por motivos de segurança. Isto dava no entanto aos passageiros uma sensação de perigo e era com um certo alívio que se sentia a aceleração mal acabava a travessia. À cautela, havia gente do Porto que apanhava o comboio em Gaia quando queria ir a Lisboa!
A Ponte da Arrábida foi inaugurada em 1963, 77 anos depois de concluída a anterior ponte rodoviária, a de D. Luís. Foi projetada por Edgar Cardoso e para a sua construção foi montado um cimbre de ferro que se apoiava nas margens em macacos hidráulicos. Sobre ele se moldou um dos dois arcos de betão armado. Previa-se que, após a consolidação deste, o cimbre de ferro desceria alguns centímetros pela atuação dos macacos hidráulicos. Estes, por sua vez apoiados em rolamentos sobre carris, fariam deslocar o cimbre para a construção do segundo arco de betão armado, pela atuação de motores sincronizados em ambas as margens. Especialistas estrangeiros houve que diziam ser impossível esta operação e vieram de propósito para assistir ao desastre. Provavelmente colocados a uma distância segura, terão ficado desapontados, pois tudo decorreu impecavelmente como previsto. Tanto assim que se repetiu o movimento, inicialmente não programado, para construir o travejamento central entre os dois arcos. Na altura era a maior ponte deste tipo a nível mundial.
Para terminar, uma pergunta de resposta surpreendente. Quanto pesaria um modelo da Ponte de D. Maria, rigorosamente do mesmo material, mas a uma escala de 1:1000? Tal modelo teria cerca de 30 cm de comprimento, 6 cm de altura e um pouco menos de 1 cm de largura. Certamente que seria muito difícil construir um modelo desses, pois a uma viga original com 20 cm de largura na ponte corresponderia um fio de apenas 0,2 mm e assim por diante. De onde as 4 mil toneladas da ponte se reduziriam a um espantoso modelo de… 4 gramas, uma verdadeira joia de filigrana!