Um doente referenciado pelos cuidados de saúde primários para uma consulta de Cardiologia “muito prioritária” pode ter que esperar até 267 dias para ser atendido no Hospital Padre Américo. O tempo previsto na lei é de 30 dias. Os dados constam do novo portal do Serviço Nacional de Saúde que dá a conhecer os tempos médios de resposta para primeiras consultas hospitalares no âmbito do projecto Consulta a Tempo e Horas. Os números continuam elevados quando o doente é referenciado como prioritário – mais de um ano (446 dias) – e quando é não prioritário/normal – mais de um ano e meio (626 dias).
A Cardiologia é o caso mais flagrante, mas o Hospital Padre Américo também ultrapassa os tempos médios previstos noutras especialidades, como a Ginecologia, a Medicina Interna ou a Psiquiatria. Por outro lado, dá resposta atempada e muito aquém dos máximos permitidos nos casos, por exemplo, da Neurologia, Pediatria ou Ortopedia.
O novo portal do SNS permite conhecer mais de 180 variáveis para aumentar a transparência dos serviços. Pode-se, por exemplo, saber quantas consultas ou cirurgias foram realizadas por hospital, qual a dívida a fornecedores ou o prazo médio de pagamento.
Outro dos dados divulgados é o tempo de espera nas urgências de cada unidade hospitalar, para que o utente saiba com o que pode contar antes de sair de casa. Mas o Hospital Padre Américo é um dos que ainda não tem esses dados disponíveis.
Uma consulta não prioritária pode demorar em média 626 dias
Os tempos de espera divergem muito de hospital para hospital. Mas depois de ter sido feito um pedido pelo centro de saúde, um doente só devia esperar 30 dias por uma consulta, no caso de ser considerado muito prioritário, 60 dias em casos prioritários ou até 150 dias em casos com prioridade normal ou não prioritários.
Não é isso que acontece com a especialidade de Cardiologia no Hospital Padre Américo, em Penafiel. Segundo os dados divulgados esta segunda-feira, no portal www.sns.gov.pt, relativamente aos tempos médios de resposta à primeira consulta hospitalar pedida pelos cuidados de saúde primários, no âmbito da Consulta a Tempo e Horas, um doente referenciado como “muito prioritário” demorará, em média, 267 dias a ser consultado no Hospital Padre Américo. O tempo de espera sobe para os 446 dias em casos prioritários e 626 dias, mais de um ano e meio, quando a prioridade é normal. O VERDADEIRO OLHAR questionou o hospital sobre estes tempos, para tentar perceber se o que estava em causa era a falta de profissionais da área e o que estava a ser feito nesse sentido, mas não obteve resposta em tempo útil.
Comparando com o Hospital de Santo António e o Hospital de São João, no Porto, os tempos de espera são muito diferentes na Cardiologia. No Santo António, uma consulta muito prioritária demora 23 dias e uma normal 62 dias. Já no São João, um utente referenciado como prioritário é atendido em 27 dias e um com prioridade normal 34 dias.
Há outras especialidades em que a resposta à primeira consulta demora mais do que o esperado. Na Ginecologia, é cumprido o tempo previsto nas consultas muito prioritárias, mas as prioritárias demoram até 97 dias e as normais 223 dias. Na Medicina Interna um doente referenciado como muito prioritário pode esperar até 112 dias e um prioritário 91 dias. No caso da Psiquiatria, as primeiras consultas prioritárias demoram mais dois dias que o definido por lei e, as normais, 247 dias.
Resposta rápida na Neurologia, Ortopedia e Pediatria
O Hospital Padre Américo fica aquém dos limites máximos previstos para casos muito prioritários na Imuno-hemoterapia (2 dias), Cirurgia Geral (11 dias) e Gastrenterologia (11 dias).
Para o Hospital da Nossa Senhora da Conceição de Valongo não são divulgados os dados sobre o tempo de espera nas primeiras consultas.
Dados de 2015
Tempos médios de resposta para primeiras consultas hospitalares com origem nos cuidados de saúde primários no Hospital Padre Américo
Anestesiologia – Prioritário 57 dias; Normal 63 dias
Cardiologia – Muito Prioritário 267 dias; Prioritário 446 dias; Normal 626 dias
Cirurgia Geral – Muito Prioritário 11 dias; Prioritário 54 dias; Normal 142 dias
Estomatologia – Muito Prioritário 21 dias; Prioritário 30 dias; Normal 67 dias
Gastrenterologia – Muito Prioritário 11 dias; Prioritário 38 dias; Normal 64 dias
Ginecologia – Muito Prioritário 27 dias; Prioritário 97 dias; Normal 223 dias
Ginecologia – Apoio à Fertilidade – Prioritário 81 dias; Normal 135 dias
Imuno-hemoterapia – Muito Prioritário 2 dias; Prioritário 12 dias; Normal 20 dias
Medicina Física e de Reabilitação – Fisiatria – Prioritário 67 dias; Normal 94 dias
Medicina interna – Muito Prioritário 112 dias; Prioritário 91 dias; Normal 145 dias
Neurologia – Muito Prioritário 16 dias; Prioritário 18 dias; Normal 26 dias
Obstetrícia – Prioritário 30 dias; Normal 30 dias
Oftalmologia – Muito Prioritário 56 dias; Prioritário 59 dias; Normal 126 dias
Ortopedia – Muito Prioritário 18 dias; Prioritário 52 dias; Normal 127 dias
Otorrinolaringologia – Prioritário 31 dias; Normal 347 dias
Pediatria – Muito Prioritário 21 dias; Prioritário 45 dias; Normal 86 dias
Pneumologia – Muito Prioritário 4 dias; Prioritário 48 dias; Normal 352 dias
Psiquiatria – Consulta Geral – Prioritário 62 dias; Normal 247 dias
Psiquiatria da Infância e da Adolescência – Prioritário 43 dias; Normal 106 dias
Urologia – Normal 167 dias
Centro Hospitalar tinha dívidas a fornecedores externos de quase cinco milhões de euros no final do ano passado
CHTS realizou mais de 303 mil consultas médicas em 2015
Nesta nova página, dividida em várias vertentes, é possível acompanhar a evolução dos tempos de espera nas urgências e também para consultas de várias especialidades ou quanto tempo demora em média uma cirurgia, por unidade hospitalar.
Os dados mostram, por exemplo, que em 2015 foram administradas 3,9 milhões de vacinas ou que foram feitas 85 mil consultas por dia e 114 cirurgias por hora.
O objectivo é que haja mais transparência e que a informação esteja disponível para o cidadão. “Estamos online e a nossa responsabilidade política também está online. É um serviço de cidadania responsável e serviço público, pois permite, por exemplo, acompanhar o tempo de demora nas urgências ou se os tempos de resposta garantidos para as listas de espera estão a ser assegurados”, disse o ministro da Saúde, Alberto Campos Fernandes, na apresentação do projecto, acreditando que isto marca o “fim da opacidade” na saúde, embora haja dados ainda não completos.
Entrando no portal e na área da “Transparência”, podem conhecer-se vários dados sobre a actuação do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), que integra os hospitais Padre Américo, em Penafiel, e São Gonçalo, em Amarante, desde 2013 até 2015.
Por exemplo, segundo os últimos dados disponíveis, relativos a Novembro do ano passado, a dívida do CHTS a fornecedores externos era de quase cinco milhões de euros, equivalente à que o centro hospitalar tinha no final de 2014. A instituição demorava, em média, 84 dias a pagar a fornecedores, em Dezembro de 2015, uma descida relativamente a Setembro desse ano, quando demorava 91 dias a pagar contas, mas um aumento em relação ao final de 2014, quando o tempo rondava os 61 dias.
Entre muitos números dados a conhecer, pode ver, por exemplo, que foram realizadas mais de 303 mil consultas médicas no ano passado e quase 203 mil atendimentos em urgência, na maioria dos casos na urgência geral.
Nas urgências, depois da Triagem de Manchester, a maioria dos doentes recebeu a pulseira amarela, ou seja, urgente, mas quase o mesmo número de utentes recebeu pulseira verde, atribuída a casos pouco urgentes. Entre os muitos que recorreram às urgências do Centro Hospitalar sem precisar estão 501 casos que receberam pulseira azul (não urgente) e 7.958 que receberam pulseira branca, ou seja, que nem sequer tinham gravidade para ser atendidos num hospital.
O CHTS realizou, em 2015, 20.620 cirurgias programadas e 2.358 partos.
CHTS 2015 em números
– 4.994.601 milhões de euros era a dívida do CHTS a fornecedores externos em Novembro do ano passado. O valor chegou a ultrapassar os 8 milhões de euros em Setembro desse ano.
– 303.323 consultas médicas realizadas, sendo mais de 113 mil primeiras consultas.
– 202.759 atendimentos em urgência; desses 148.777 foram na urgência geral, 39.782 na urgência pediátrica, e 14.200 na urgência obstetrícia.
– 79.243 doentes receberam pulseira amarela (urgente) na Triagem de Manchester; 78.834 tiveram pulseira verde, ou pouco urgente; 20.239 eram casos muito urgentes que careciam de intervenção quase imediata e tiveram pulseira laranja; 1.168 entraram com pulseira vermelha (emergente); Houve ainda 501 casos não urgente (pulseira azul) e 7.958 que nem sequer tinham gravidade para ser atendidos num hospital (pulseira branca). 14.816 casos entraram na urgência sem passar pela triagem.
– 20.620 cirurgias programadas realizadas; 12.812 cirurgias de ambulatório.
– 2.358 partos e 612 cesarianas realizadas.
– 84 dias era o tempo que o centro hospitalar demorava a pagar a fornecedores em Dezembro último.
Hospital de Valongo com poucos dados disponíveis
Os únicos dados são os relativos aos tempos médios de espera para os doentes à espera de cirurgia programada. Por exemplo, uma cirurgia cardiotorácica sem prioridade pode demorar quase seis meses e há quase 400 pessoas em lista de espera; uma da área da estomatologia demora cerca de 5,3 meses e uma da ortopedia demora até quatro meses, havendo quase 1200 pessoas à espera. No Hospital Padre Américo, os tempos de cirurgia mais elevados, para casos não urgentes, são os de Otorrinolaringologia, de cerca de 7,3 meses, de Cirurgia Vascular, 5,9 meses, e de Ortopedia, cinco meses.
Mas quando a análise é feita tendo em conta o Centro Hospitalar em que se insere, o de São João, já temos alguns dados.
Por exemplo, a dívida do centro hospitalar chegava, em Novembro de 2015, aos 24,6 milhões de euros e o prazo médio de pagamento a fornecedores era de 81 dias.
No ano passado foram realizadas, nos pólos do Porto e de Valongo, 732.387 consultas médicas e 249.925 atendimentos nas urgências, a maioria na urgência geral. Neste centro hospitalar foram ainda realizadas 38.623 intervenções cirúrgicas programadas e 2.503 partos. Na triagem de Manchester dos casos urgentes, destaque para os muitos casos classificados com pulseira laranja ou amarela, mais de 87 mil, e para os 43.700 que tiveram pulseira verde, pouco urgente. Mais de 90.500 utentes não foram sujeitos a triagem e 1.050 receberam pulseira vermelha, para atendimento imediato.