Neste sentido, caro leitor, façamos uma análise sobre as eleições europeias que se deseja simples, sem amarras doutrinais ou partidárias e mais do que tudo, sem extrapolar uma patética tendência autárquica no concelho de Paredes. A nossa gente merece mais.
Comecemos pelo óbvio: não foi o sol, a praia ou o café que fomentaram mais de dois terços dos eleitores portugueses a se abster de exercer uma das suas maiores conquistas: o voto em liberdade.
A Europa foi conquistada durante a geração dos nossos pais e avós. Foram eles que saídos de uma ditadura onde a fome, a guerra e o analfabetismo imperavam, se viraram para um sonho de um mercado único onde as pessoas, os bens e as mercadorias poderiam circular livremente sem fronteiras ou a burocracia das alfandegas estatais.
Contudo, ao longo dos tempos e depois de várias crises financeiras vencidas, Portugal e os Portugueses desligaram-se de uma Europa que os transformou e mudou radicalmente para sempre. Não somos um povo ingrato e muito menos que se esquece da história, mas somos um povo que se desilude facilmente com “amores de verão”. Foi assim com a Europa e foi assim com a Política.
Mas, centremo-nos na discussão e quais as razões dos números da abstenção.
Primeiro: a política.
Os portugueses estão desligados da política, dos seus eleitos e do estado em que o Estado está. É sintomático, eleição atrás de eleição, que os portugueses não gostam e não confiam na classe política que governa o nosso país. O povo sente-se injustiçado, desiludido e incapaz de voltar a acreditar nas palavras e nos sonhos que os discursos dos lideres partidários tentam vender. Por alguns, incompetentes e corruptos, paga a maioria da classe política. Como alguém nos disse um dia, hoje ser político é ter cadastro e não uma virtude.
Segundo: a Europa.
A Europa nasce após a Segunda e mais desastrosa Guerra Mundial que a terra já viu. Nasce depois de o Nacional Socialismo Hitleriano quase ter destruído séculos de história, cultura e de vidas que se construíram no território mais rico do mundo. Nasce após um dos mais brilhantes políticos europeístas ter sonhado que a europa podia e devia unir-se para nunca mais o inferno descer sobre ela. Foram estes 6 países ao leme deste capitão que a europa se reergueu e sonhou se transformar naquilo que é hoje.
Infelizmente, muito dos lideres que lhes seguiram não foram capazes de responder às exigências que o novo mundo assim o pedia. Sonhamos com um país europeu ao invés de construirmos a Europa livre e diversificada. Sonhamos com a união fiscal ao invés de construirmos um Europa mais solidária e menos injusta e desigual. Sonhamos tanto que nos esquecemos da legitimidade democrática, tanto pela distancia que vai de Lisboa a Bruxelas como pelos avanços sucessivos do projeto europeu sem o voto dos europeus. A elite sonhou com o federalismo, mas esqueceu-se que é o povo, na sua mais singela decisão que o tem de aceitar e não de ser imposto. Foram estas e muitas mais as razões que fizeram com que a Europa e o povo se distanciassem. Não é irreversível o estado desta relação, mas tem de ser cuidada e tratada com verdades e a transparência das decisões que apenas nós enquanto indivíduos podemos tomar através do nosso voto.
Terceiro: A verdade constrangedora.
Perdemos todos: os políticos, os partidos, o país e a democracia. E desengane-se quem diz o contrário.
Nesta batalha de diminuir os números da abstenção, não existem vitórias do poucochinho, vitórias dos partidos de esquerdas ou das direitas e muito menos vitórias dos partidos fora do sistema. Isto tudo é irrelevante.
A democracia está doente e todos os dias a empurramos um pouco mais para um lugar onde todos queremos fugir. São precisos lideres fortes, íntegros e capazes de nos fazer sonhar. Não basta querer mudar, é preciso liderar pelo exemplo e sem qualquer constrangimento do uso abusivo da ética e dos mais altos valores pelo que a democracia se rege.
Porque se assim não o fizermos, não somos nós que estamos em causa: é o futuro dos nossos filhos.
Até para a semana.