Face à enxurrada de mensagens fugazes, por vezes sensacionalistas, emolduradas pelos gadgets tecnológicos, que nos arrasta, a arte ensina-nos a pensar, a olhar e a sentir. A arte é a mais abrangente e completa das atividades humanas: ela retrata o Homem e os momentos históricos, é filosofia, cruza-se com a religião e a ciência, proporciona a interação da comunidade, apela à cidadania, proporciona a introspeção e a reflexão, desperta emoções, diminui a angústia e a ansiedade, ajuda a repor energias e o equilíbrio físico e mental…, entre um sem-número de funções que aqueles que estudam o assunto vão elencando.
A arte é de tal forma importante na formação dos indivíduos que deveria ter um maior destaque no sistema de ensino, infelizmente cada vez mais conivente com o materialismo crescente da nossa sociedade, onde tudo se quantifica. Perde-se a fantasia, a beleza, a imaginação, a emoção. Numa palavra, é a desumanização!
O Folia, assim como qualquer atividade cultural é, por isso, muito bem-vindo. Contudo, atingiu uma maturidade tal que, na minha opinião, não cabe no espartilho que o aprisiona. Um olhar diacrónico mostra-nos que, inexplicavelmente, à medida que se foi sedimentando, o Festival foi sofrendo uma redução da sua dimensão temporal: começou por abarcar mais de quinze dias, estando hoje reduzido a oito dias.
Nesta grande festa que é o Folia, cabem todas as artes de palco, desde a dança, à música, passando pelo teatro, pelo que confiná-lo a três ou quatro companhias de teatro/artistas parece-me não só redutor, mas também desperdiçar a oportunidade de várias entidades do concelho poderem contribuir para a consolidação e amplificação de um evento que bem poderia tornar-se uma referência de peso no país.
Temos, felizmente, no concelho de Lousada muito talento em várias áreas, cidadãos que vão brilhando, à espera de um palco maior: grupos, associações, academias, um conservatório… Enfim, tanta coisa que fica de fora e nos poderia enriquecer a todos!
Não estou, portanto, a falar de voos incomportáveis financeiramente. Para uma autarquia que desperdiçou 25 mil euros num Festival da Juventude, que teve de ser feito à força, para marcar ponto, e monta e desmonta tendas, para mostrar serviço, o que proponho afigura-se muito pouco. Mas, como sempre, sei que as minhas sugestões não terão frutos e terei de ouvir a lengalenga do costume, de que a oposição nunca dá sugestões. Haja paciência!