O facto que deu origem ao meu artigo foi noticiado no jornal “Verdadeiro Olhar” (no dia 19 de janeiro) e assenta em declarações das pessoas auscultadas, nomeadamente da senhora vereadora. O profissional que executou aquele trabalho jornalístico agiu movido pelo interesse público, como deve fazer todo o jornalismo isento. Pelo que sei, a vereadora não contestou o seu conteúdo, mantendo-se o mesmo on-line tal como foi publicado no dia 19. Portanto, não me parece correto que a vereadora, que me acusa de criticar o trabalho dos profissionais da Câmara, avalie de forma tão leviana o trabalho jornalístico em causa, não aceitando a divulgação dos factos, como o leitor pode ler na resposta da vereadora: “Prejudicar a imagem pública das famílias que mais necessitam do nosso apoio enquanto sociedade e dos nobres profissionais que numa base diária lutam com resiliência para tornar esse apoio em realidade, isso já não aceito e só posso lamentar”. Se não fui eu que divulguei o caso, não me referi a pessoas concretas e muito menos publiquei quaisquer fotos, estas palavras só podem ser entendidas num quadro de censura ao trabalho da imprensa. Expresso, por isso, a minha estupefação e lamento que considere que os profissionais da área devam desvalorizar casos como este, que são de manifesto interesse público. Pela consideração que tenho à Dra. Cristina Moreira (mas que ela pensa que não tenho), espero que tenha sido um lapso esta sua afirmação.
Cabe também à oposição, em nome do já referido interesse público, falar daquilo que, no seu entender, está mal. Mais uma vez, a Dra. Cristina direcionou o debate no sentido errado e não cedeu à tentação de censurar a oposição por intervir, acusando-a de querer faturar politicamente. De duas uma: há tantos anos que está no poder que já se esqueceu daquele que é o trabalho da oposição ou então esqueceu-se de que numa democracia existe, saudavelmente, oposição, que nos permite, aliás, estar a debater este tema sem medo e sem sermos acusados de desrespeito ou de querer denegrir a imagem do outro. Se, de cada vez que eu intervim, acharam que a minha intenção foi denegrir a imagem de alguém, estão errados. Recorro à ironia, por vezes. É verdade. Mas quem está habituado a ler textos desta natureza sabe que, de acordo com o estilo de cada um, é uma figura de estilo recorrente, até em textos de natureza literária. Por isso, o título “sonante” do meu artigo (como diz a vereadora) recorre a uma expressão popular, metafórica, devidamente assinalada com aspas e que, como outras que já usei, pretende reforçar a expressividade do título e não é ofensiva para ninguém, muito menos tirará o PSD da “convalescença após as últimas eleições”, que não resistiu a evocar, desviando o assunto para sítio nenhum.
Também recorrente no discurso do poder é a tentativa de mostrar que o PSD Lousada está contra os funcionários da autarquia. É tão recorrente a estratégia que está esgotada! A definição das políticas autárquicas cabe ao executivo e é a este que devem ser pedidas responsabilidades. Querer passar a ideia de que por detrás da divulgação de um caso de índole social está a crítica aos funcionários é, não só abusivo, como pouco ético. Os lousadenses, e particularmente os funcionários da autarquia, sabem muito bem que não se trata de um ataque. Felizmente, são pessoas informadas, inteligentes, abertas ao debate, que não se deixam driblar por meia dúzia de palavras, ainda que não sejam da minha cor partidária ou não concordem comigo.
Feito este introito, sobre os factos da notícia, é verdade que a família diz ter usufruído de apoio da Câmara a vários níveis e eu nunca disse o contrário. Referi, sim, que não tinha uma casa condigna, o que corresponde à verdade. Portanto, evocar outras situações de apoio social a esta família para se colocar na posição de vítima atacada injustamente não me parece correto e assenta num discurso falacioso. Admito que a família possa ter tudo o que precisa. Nunca pus isso em causa. O que sei é que lhe falta “apenas” uma habitação condigna. Um “apenas” que fará toda a diferença, certamente.
Também sei que a “CML apoia as famílias carenciadas do concelho, recorrendo entre muitas outras coisas à habitação social, mas numa perspetiva transitória que visa, em última análise, a real inclusão destas famílias no modelo de sociedade em que assenta a nossa democracia”. Por se tratar de uma medida transitória, é expectável que poucas famílias estejam décadas numa habitação desta natureza, pelo que é natural que surjam com regularidade casas disponíveis. Além disso, segundo pude apurar, existem várias casas disponíveis em várias freguesias do concelho, o que legitima a minha interrogação: Por que razão estão casas vazias, se há famílias como esta com tanta necessidade de uma habitação condigna? Portanto, se a CML não é descuidada, desatenta nem negligente para com as famílias carenciadas do concelho, como afirma a vereadora, e todos queremos crer que sim, como se explica esta situação, que reconhece como de sofrimento e de ausência dos mais “basilares direitos da existência humana”? Mais: consegue acusar aqueles que chamam a atenção para o problema de quererem aproveitar-se do “sofrimento de uma família”. Esta leitura é assaz interessante. Só pode ter sido influenciada pela muita tinta que se tem escrito sobre os últimos reality shows. Ninguém quer fazer desta história um reality show. O único desejo que expresso é que os problemas desta família, que vive em Lousada há muitos anos, bem integrada, aliás, socialmente, sejam resolvidos, assim como os de tantas outras. Porque, apesar de não ter alcançado o resultado desejado nas últimas eleições, fico muito satisfeita que o atual executivo desenvolva um trabalho profícuo e de progresso para Lousada.
Continuando no âmbito dos equívocos, importa esclarecer mais um. Nunca insinuei, tão-pouco disse, que a Câmara é responsável por mediar conflitos entre senhorios e arrendatários. O que eu entendo é que o conhecimento é um elemento importante para se exercer uma cidadania ativa. Portanto, facultar informação aos munícipes não me parece que seja o mesmo que mediar conflitos. O esclarecimento da família no âmbito desta situação, mormente no que respeita aos mecanismos legais para a resolver, não é ir muito além daquelas que são as competências do município. A minha questão sobre este apoio só surgiu porque se percebe o espanto da senhora vereadora ao tomar conhecimento de que a família pagava 150 euros de renda numa casa sem condições de habitabilidade, pelo que me parece legítimo ter levantado a questão.
Tal como a Dra. Cristina Moreira, certa de que o “debate de ideias divergentes instiga, muitas vezes, melhorias significativas nas práticas que adotamos no nosso quotidiano”, espero que a mesma não olhe mais uma vez para este texto como uma crítica à sua pessoa, que respeito e considero, mas que entenda que é, de facto, o debate de ideias, enroupadas de forma mais ou menos expressiva, ao estilo de cada um, que se constrói o futuro. Por isso, espero que a Dra. Cristina continue a desenvolver o seu trabalho da forma que acredita ser a mais positiva, sem menosprezar a oposição, para o bem de todos e do concelho.