Verdadeiro Olhar

Das escolhas dos candidatos autárquicos

Sabemos todos ou quase todos que a escolha dos candidatos autárquicos deveria obedecer, no mínimo, a critérios de mérito, capacidade de trabalho, disponibilidade para o serviço público e a competências para o trabalho em equipa.

Sabemos todos também que raramente assim acontece. As lógicas partidárias, salvo raras exceções, atiram-nos para escolhas que, na maior parte das vezes, mais do que as qualidades dos candidatos dão preferência à sua capacidade de “cacicar” ou, dito de outra forma, de “arranjar votos” venham eles donde vierem desde que sirvam os interesses de quem quer ser eleito. Não é raro também que as escolhas recaiam em “carreiristas”, alguns deles com “provas já dadas” e experiências bem remuneradas no desempenho de cargos de nomeação partidária em lugares da administração pública, transformada em propriedade quase exclusiva do centrão político, e a que acederam por designação, nomeação ou por terem apoiado este ou aquele candidato à liderança nacional do partido ou, até, por ter estado do lado do vencedor das eleições distritais. São os chamados “boys”. São aqueles que se servem da máxima: se não podes com eles coloca-te ao lado deles.

A estes somam-se ainda os que, estrategicamente, bem calculados os ciclos eleitorais, “assaltam” as estruturas locais e os órgãos dos partidos para, em tempo oportuno e, não raras vezes, por métodos que ficam a dever muito à transparência exigível nestas circunstâncias quase se auto-elegerem como candidatos dos partidos que representam. Os militantes, nestes casos, são meros instrumentos colocados à disposição de terceiros e de estratégias de poder das quais nem sequer desconfiam. A tentação de estar no poder, por muito pequeno que seja, de tirar uma fotografia ao lado de quem detém o poder ou até a promessa de emprego para si ou para o familiar “que bem precisa, coitadinho”, aquilo a que costumamos chamar cunha,  nacional-cunhismo ou até lambe-botismo consegue ser, infelizmente, razão suficiente para levarem o nosso voto. Se a promessa vai ser cumprida ou não isso são outros quinhentos. Logo se verá!

Não se pense, contudo, que são todos iguais ou que não há exceções. Há, e estas eleições hão-de confirmá-lo. Hão-de até evidenciar que os “boys and girls” se sentem tão bem instalados ( e remunerados) que não arriscarão os seus lugares perante a possibilidade de concorrem e perderem eleições.

Quando muito, lá continuarão nos seus empregos dourados como a APDL, os ACES, as administrações dos hospitais, o IEFP e coisas do género e, quando muito, darão o seu contributo para a escolha dos candidatos dos seus partidos. Para cúmulo, obviamente, para eles e por eles melhor será quanto piores forem os resultados dos seus candidatos.

Poderão dizer no fim: se tivesse sido eu os resultados seriam outros e bem melhores. E, assim, lançando a vã esperança de serem melhores do que os outros, lá conseguirão manter-se mais quatros anos em lugares privilegiados sem terem sequer de se sujeitar a um concurso e, tantas vezes, sem qualquer habilitação própria ou específica que os capacite para o desempenho das tarefas a que se deveriam sentir obrigados.

 Eles sabem que basta ter carro do Estado com motorista para se fazerem passar pelo que não são. É a indignidade da função amputada do prefixo de negação.