Henrique Leitão é um físico teórico de formação que se virou para as humanidades para perceber melhor a História da Ciência. Nessa entrevista, diz que os estudos que desenvolveu lhe permitiram chegar à conclusão de que foi o Cristianismo que forneceu a base para o desenvolvimento da ciência moderna. “Se não houvesse uma base cristã, nunca teria havido, propriamente, ciência moderna, porque se hesitava sobre aspectos que são absolutamente centrais para haver ciência”, afirma, explicando: “Para se poder fazer ciência, é preciso ter um conjunto muito específico de ideias sobre a natureza. Ora, sucede que o Cristianismo fornece, precisamente, essas ideias. O Cristianismo afirma que a natureza é boa, a natureza é racional e a natureza é contingente, o que quer dizer que é desta maneira, mas poderia ser de outra, e só se pode saber como é investigando.”
Henrique Leitão é doutorado em Física Teórica e orientou a sua investigação para a História das Ciências, sobretudo nos séculos XV, XVI e XVII. Coordenou a publicação das obras de Pedro Nunes e contribuiu para resolver um problema científico: o Método da Projecção de Mercator, feita pelo cartógrafo e matemático Gerhard Mercator, que conseguiu representar, pela primeira vez, o globo num plano.
O físico explica como a ciência moderna vingou na Europa: “Estas ideias – a da bondade do mundo natural, do mundo físico e do mundo biológico e da sua racionalidade – que são absolutamente cruciais para haver ciência, são disseminadas culturalmente pela Europa pelo Cristianismo”. E, assim, ao contrário do que aconteceu na China e no mundo árabe, onde a ciência era assunto de elites, na Europa todas as camadas da população tinham algum interesse na ciência.
Desta conclusão, tiro outra: agora que a Europa está a ser procurada por aqueles que tudo perderam em guerras nas suas terras, incluindo a possibilidade de lá viver, esperemos que a matriz cristã que ainda é perceptível na nossa Europa se mantenha à tona destes mares revoltos de guerras que julgávamos longínquas e de terrorismos que já cá estão e nos leve a acolher com solidariedade aqueles que buscam asilo, sem nos deixarmos manipular pelos que querem convencer-nos a confundi-los com terroristas.