O Parque das Serras do Porto quer ser mais resistente aos fogos florestais e isso passa por ter um coberto vegetal sobretudo constituído por árvores autóctones. O caminho será longo, até porque a maioria do território está sob a alçada de privados.
Mas hoje foi dado mais um passo nesse sentido. No âmbito de um projecto da REN cerca de 150 crianças dos 5.º e 6.º anos de escolas dos concelhos de Gondomar, Paredes e Valongo, ajudaram a reflorestar uma área de cerca de dois hectares com a plantação de 600 carvalhos em Aguiar de Sousa, Paredes.
A REN tem como objectivo plantar 11 mil carvalhos em 42 hectares do Parque das Serras do Porto até ao final do ano e também doou uma viatura 4×4 à Associação de Municípios do Parque das Serras do Porto para apoiar na manutenção dos trilhos e à prevenção de incêndios rurais.
“Houve muitos incêndios no Verão em Portugal e queremos contribuir plantando árvores”
Serra acima e serra abaixo, dezenas de alunos participaram na acção. Entre eles estava um grupo da EB 2,3 de Sobreira, em Paredes. Rafael Ferreira e Pedro Santos, de 10 anos, compreenderam bem a importância de plantar estas “espécies autóctones”, no fundo “árvores que são do nosso país e não invasoras”. “O eucalipto é invasor. Temos muito território com árvores invasoras. A maior parte da floresta portuguesa não tem árvores autóctones”, referiram as crianças, mostrando que aprenderam a lição. Também estavam felizes por dar um contributo noutro sentido: “Houve muitos incêndios no Verão em Portugal e queremos contribuir plantando árvores”, numa experiência que foi útil e também divertida.
“É importante plantar árvores autóctones?”. “Sim!”, responde em coro um grupo de alunos da Escola Básica de São Pedro da Cova, em Gondomar. “É a primeira vez que vim à serra plantar árvores. É preciso fazer o buraco, tapar bem a raiz e colocar o cone para proteger”, explica Leonor Teixeira, de 11 anos.
Este era um dos propósitos da iniciativa. Sensibilizar os alunos e fazê-los levar a mensagem. “Estes alunos são o futuro e podem aprender aqui lições”, defendeu Alexandre Almeida, presidente da Câmara de Paredes e atual presidente da Parque das Serras do Porto, deixando um apelo aos mais novos para que incentivem os pais e avós com terrenos nas serras a substituir as árvores por autóctones.
“Já começa a estar na ordem do dia a ideia de incentivos para mudar o coberto”
O autarca de Paredes destacou que a meta passa por replicar esta acção da REN pelo Parque das Serras do Porto. “É importante ter, cada vez mais, árvores autóctones neste espaço. São árvores com um importante papel de resistência ao fogo”, frisou.
Ainda assim, Alexandre Almeida admitiu que não será fácil. “São seis mil hectares de terreno. Não podemos ter este coberto nos seis mil hectares, mas o objectivo é ter cada vez mais plantas autóctones”, sendo a grande dificuldade o facto de, a grande maioria do território, estar nas mãos de privados. “Os autarcas de Gondomar, Paredes e Valongo têm procurado comprar o máximo possível de território e, sempre que o fazemos, mudamos o coberto”, sustentou o edil.
Questionado sobre possíveis futuros apoios para incentivar os privados a plantar outro tipo de árvores, o responsável pela Associação Parque das Serras do Porto diz que é o que têm reivindicado. “Estes cobertos – com eucalipto – têm uma rentabilidade diferente, mas também é preciso olhar para a resiliência do território. Já começa a estar na ordem do dia a ideia de incentivos para mudar o coberto. Se houver incentivos aos proprietários, a nível nacional, isso acontecerá mais rapidamente. Em todos os fóruns em que temos uma palavra temos reivindicado isso mesmo”, esclareceu.
Agradeceu ainda a doação da viatura por parte da REN que vai permitir fazer a manutenção dos trilhos e das florestas. Referiu ainda que a empresa quer criar faixas mais vastas de árvores autóctones por debaixo das linhas de electricidade que atravessam as serras.
“Este é um projecto de acção que envolve a comunidade na construção de uma floresta mais forte e mais capaz de nos defender no futuro. Hoje as serras têm este aspecto, mas daqui a 20, 30 ou 40 anos serão mesmo um grande pulmão do Grande Porto, com carvalhos, medronheiros… com outro tipo de coberto vegetal. Este não é um projecto de curto prazo”, ressalvou o presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro. Já o autarca de Gondomar, Marco Martins, deixou um aos alunos: “Isto é para vocês. Vocês é que têm de cuidar deste parque e preservá-lo para os vossos filhos e nossos netos. A vossa responsabilidade não é só plantar uma árvore, é vir cá tratar dela e vigiar que ninguém deite lixo no parque ou faça asneiras”.