Verdadeiro Olhar

Crianças da catequese ‘vestiram-se’ de Pai Natal’ e conseguiram que reclusos de Paços de Ferreira oferecessem presentes aos filhos

Foi de certeza um Natal diferente para os reclusos do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira. Apesar de não poderem sair para fazerem as tradicionais compras de Natal, conseguiram oferecer presentes aos seus filhos. A ideia partiu do padre José Augusto Ferreira e contou com o grupo de catequistas para concretizar aquilo que seria um sonho para a maioria dos detidos.

“De uma mão cheia de nada, foi possível enche-la de tudo”. É este o comentário que a catequista Cristina Leão fez ao Verdadeiro Olhar, em jeito de balanço, por um gesto que foi pequeno, mas que “representou tanto para aqueles que por circunstâncias da vida estão privados da sua liberdade”.

Assim, na coroa do advento foi colocado um mealheiro que, ao longo das últimas semanas, se foi enchendo de presentes e dinheiro que serviu para comprar os presentes às crianças que, neste Natal, estiveram privadas da presença do pai.

Cristina Leão, assim como os restantes mentores desta iniciativa, não podiam estar mais felizes com o resultado, porque, além de terem mostrado aos mais pequenos e também aos pais, que “este tipo de infortúnios podem acontecer a qualquer um”, proporcionaram aos reclusos um momento de grande felicidade”, traduzido na possibilidade de poderem entregar pessoalmente um presente aos seus filhos”, sublinhou a catequista.

Esta é a primeira vez que este grupo faz algo do género, mas tendo em conta a receptividade de toda a comunidade, Cristina Leão acredita que “será para repetir nos próximos anos”.

Aliás, as ofertas superaram mesmo as expectativas e o número de presentes excedeu os necessários. Por isso, os restantes brinquedos serão entregues, ao longo do ano, aos serviços de Pediatria dos hospitais de S. João e Padre Américo, em Penafiel, que os farão chegar às crianças das famílias mais carenciadas.  

Este gesto foi “um sair da caixa e da zona de conforto”, proporcionando “momentos de felicidade a quem mais precisa”, porque “só somos livres quando abrimos o coração do outro”.

A catequista não tem dúvidas em afirmar que este tipo de acções “plantam sementes de gratidão e humanidade nas crianças e jovens” do concelho de Paços de Ferreira.

Cristina Leão é natural de Paços de Ferreira e, ao longo da sua vida, tem estado ligada à catequese. Porquê? Porque considera que “é uma vocação”, também adora crianças e tendo formação católica nada melhor do que “pôr em prática” aquilo que diz e pensa através deste tipo de iniciativas”.

Já esteve ligada a grupos de catequistas em Leça, mas agora em Paços de Ferreira salienta que tem sido uma experiência única, porque encontrou padres, o actual e o seu antecessor, e uma equipa que “quer sempre fazer coisas diferentes” em prol dos outros e da comunidade que os rodeia.

A empresário, com uma empresa de produtos biológicos, sublinhou ainda que “não há nada melhor que fazer voluntariado” numa área que gosta. Por isso, tem encarado esta actividade como “uma missão”.

E o mundo bem precisa de acções como esta, porque as pessoas fecham-se cada vez mais e “é preciso abanar as famílias”, considerou.

Sobre a receptividade do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, Cristina Leão disse que “não podia ter sido melhor”, razão pela qual acredita que este gesto mudou, “não só quem o concretizou, mas também os reclusos e suas famílias, assim como toda a comunidade local”.

O Verdadeiro Olhar falou também com o padre José Augusto Ferreira que não quis deixar de destacar a “alegria genuína da partilha das crianças, jovens e dos pais” envolvidos.

Sobre a receptividade de todos, o pároco disse que que, inicialmente, teve “algum receio”, porque se tratava de uma comunidade de reclusos, mas tentou passar a mensagem que “estes gestos são formas de os fazer reabilitar e dar-lhes humanidade” e “tem que haver vida para além de um erro”. E “não podia ter corrido melhor, porque sobraram presentes que agora vão ser encaminhados para unidade de pediatria para serem oferecidos ao longo do ano. Assim, as crianças que derem entrada nos hospitais de S. João e no Padre Américo “não vão sair apenas com uma receita, mas com um brinquedo”.

Há um ano e dois meses a dirigir às paróquias de Paços de Ferreira e Meixomil, José Augusto Ferreira revela que tem realizado estas actividades em outros locais, mas esta é a primeira vez que faz algo para reclusos. Dado o sucesso, garante que vai repetir com outras pessoas e outras comunidades.