José Orlando Rocha in Verdadeiro Olhar, 5 de Março 2020
O texto donde foi extraído este excerto foi escrito a 3 de Março, e não possuímos dons premonitórios ou adivinhatórios para pensar assim. Embora com alguma margem de erro, bastava estudar o comportamento do vírus para, sabendo que os primeiros casos foram detetados na região do Vale do Sousa, perceber que seria aqui que se daria, em primeiro lugar, a proliferação do vírus.
Tivemos agora conhecimento que, na segunda-feira passada, em reunião da Proteção Civil de Paredes, foram tomadas algumas medidas de carácter preventivo.
Por isso, independentemente do que pensarmos, devemos respeitar os constrangimentos resultantes das decisões da Proteção Civil. Essa é a nossa obrigação porque a eles foi atribuída a responsabilidade de decidir o que fazer nestas circunstâncias. É o que faremos.
Cumpriremos como nos compete, mas não deixamos de ter opinião. É uma opinião e vale só isso, mas não prescindimos de a ter, até porque já desempenhamos funções em órgãos e organismos idênticos.
A primeira dúvida que se nos coloca e sobre a qual não temos qualquer informação, é sobre se há algum caso de infecção pelo COVID-19. Sabemos que as fronteiras de cada concelho não se constituem como barreiras à difusão do vírus, mas também sabemos que a ignorância é mãe do medo que nos apoquenta, sobretudo quando lidamos com o que desconhecemos, como é o caso.
Seria imperdoável se nos ocultassem estes elementos fundamentais ao nosso conhecimento. Ocultar a existência de casos positivos no concelho de Paredes como medida de prevenção para evitar o pânico seria um erro sem desculpa.
O pânico não se instalou nas localidades onde se registam já casos identificados. Pelo contrário, levou à consciencialização da população para o grau de gravidade adequado às circunstâncias. Por isso, manter-nos na ignorância pode ser até a forma mais rápida de nos levar ao caos.
Sem colocar em causa as medidas adotadas pela Proteção Civil de Paredes encontramos dificuldades em perceber como se fecham ao público, por exemplo, a Casa da Cultura ou a Biblioteca Municipal, onde nem cem pessoas por dia entram, e nem uma recomendação se faz em relação às escolas onde, com um grau de proximidade elevado e inevitável, mais de dois mil alunos, docentes e não docentes convivem diariamente.
Uma quarentena auto-imposta seria preventiva. Mesmo que isso fosse pressuposto do prolongamento das aulas em época de Páscoa ou no final do ano do ano lectivo.
É verdade também que um hiato de 14 dias num percurso escolar obrigatório de 12 anos não tem qualquer expressão.
Uma quarentena, agora, teria resultados imediatos na contenção do vírus. Fazê-la depois só permitirá, eventualmente, gerir os danos da difusão.
Tudo isto tem um senão. As repercussões económicas, sociais e políticas sobre toda a comunidade. É nestas alturas que todos, mesmo os mais incautos, se apercebem da importância transversal da escola.
Portanto, e por fim, manteremos o respeito pelas decisões tomadas pelas entidades competentes, mas nunca lhes perdoaremos se nos estiverem a esconder a verdade e, sobretudo, serão responsabilizados pelas consequências das suas decisões.