Dizia o Dr. Coj das dificuldades desta sua aprendizagem de uma língua que apontava como a maus rica da Europa a seguir ao Inglês, com grande variedade de sinónimos; exemplificou casos como “vadiar”, “tareia” ou “embriegar-se”, com dezenas de termos ou expressões sinónimas. Outro caso é o de palavras sem tradução para outras línguas, como “caruma” ou “escanhoar”. Também apontava formas como “di-lo-ia”, “dá-no-lo-á”, “fá-la-á”, dizendo que, pela sua eufonia, nos fazem lembrar aquelas canções vindas lá do alto dos Alpes.
A língua portuguesa tem na verdade coisas interessantes como expressões que se usam no dia a dia com curiosas incongruências. Veja-se por exemplo o que acontece com o “bengaleiro”. Móvel que se vê na entrada de muitas casas, dá muito jeito para pendurar o casaco ou enfiar o guarda-chuva; mas quem o usa para guardar os instrumentos que lhes dão o nome? Isto é, as bengalas? E qual foi a última vez em que viram ou guardaram uma luva no porta-luvas de um carro? Acontece que hoje mesmo fui ao barbeiro, artista onde é raro ir-se para cuidar da barba mas sim do cabelo. E diz-se “fazer a barba” quando seria mais apropriado usar o termo “cortar” ou até “rapar”. “Fazer” ou “aparar”, por outro lado, é o que devia designar o corte do cabelo, a menos que se trate de o rapar totalmente como há quem goste ao pôr a cabeça lisinha como bola de bilhar. Por falar em cortes de cabelo, os dos futebolistas davam bem para um artigo inteiro destes. Ou dois!
Quanto aos sinónimos que o Dr, Koj referia, lembrei-me de deixar aqui uns quantos termos de sabor mais ou menos popular ou coloquial, podendo ser um exercício enriquecedor procurar as suas definições e sinónimos num desses dicionários “on-line” (em linha?). Aqui vão eles: abécula, basbaque, caranguejola (provavelmente uma alternativa muito razoável para a famigerada “geringonça”), carraspana, catrefada, esparramado, estafermo, estardalhaço, galifão, ganapo, jagodes, patifório, pindérico, pirralho, sacripanta, safardana e sevandija. E para “cabeça” há bestunto, tola, cachimónia, carola, pinha, cachola, ou até caixa dos pirolitos.
Já agora, recordo que o pirolito propriamente dito (rima não intencional) era uma bebida com gás cuja pressão mantinha a garrafa fechada apertando uma esfera de vidro dentro do gargalo contra o bocal. Para beber o conteúdo da garrafa, batia-se cum um taco de madeira na esfera e pronto. Bons tempos…
A língua portuguesa também se dedica às designações profissionais, como nos serviços de saúde, onde os chamados auxiliares de acção médica exerciam funções que exigem esforços físicos sugnificativos, como limpezas de doentes ou de instalações. A esses profissionais não se lhes diminuiu certamente a rudeza dos trabalhos nem provavelmente se lhes aumantou o vencimento, mas adoçou-se-lhes a designação profissional com o nome de assustentes operacionais. O que me faz lembrar este diálogo num café: “O senhor é que é o engraixador?” Resposta imediata: “Dantes eu era mesmo engraixador, mas agora sou técnico de tintas e não tarda nada hei-de ser engenheiro de couros!”
Para acabar, deixo a aventura linguística do senhor Paiva que abriu uma loja em New Bedford, nos EUA, contada pelo próprio. Pus um letreiro que dizia em Inglês “Loja do Paiva”. Mas os freguses chamavam-me “Mr. Peiva”; para os não contrariar, mudei logo o letreiro para “Loja do Peiva” e fiquei admirado por me passarem a chamar “Mr. Piva”. Custou-me mudar o letreiro outra vez, mas lá lhes fiz a vontade com a “Loja do Piva”. E não querem saber que me começaram a chamar mesmo “Mr. Paiva?!”
Palestra do Dr. Koj.
Parte 1: http://info.phg-hh.de/PP_PDF/Portugal_Post/PP14/s_pp14_27_p.html
Parte 2: http://info.phg-hh.de/PP_PDF/Portugal_Post/PP15/s_pp15_29.html