A constituição “imediata” de uma comissão de inquérito às negociações e decisão de resgate do contrato de concessão da exploração e gestão dos sistemas de abastecimento de água e de recolha, tratamento e rejeição de efluentes do concelho de Paredes, celebrado com a Be Water, uma proposta do PSD, foi reprovada em Assembleia Municipal, no passado sábado.
A par disso, a bancada socialista, que votou contra, apresentou uma proposta de “comissão de acompanhamento” para seguir de perto o processo de resgate. Esse documento foi aprovado por unanimidade, mas os social-democratas não deixaram de falar de uma “jogada de xadrez de brilhantismo político”.
“Escrutínio sério, minucioso e pormenorizado a todos os passos já dados”
A proposta do PSD de criação de uma comissão de inquérito às negociações e resgate da concessão já estava agendada, mas os eleitos do PS apresentaram a sua própria proposta, para uma comissão de acompanhamento ao resgate, que foi admitida à discussão por maioria.
Coube a Manuel Gomes defender a proposta social-democrata. “Tendo em conta a importância capital do serviço, este pedido de resgate do executivo e todas as decisões devem ser alvo de escrutínio político porque têm efeitos a curto, médio e longo prazo”, defendeu, apelando à aprovação para um “escrutínio sério, minucioso e pormenorizado a todos os passos já dados e a decisões que virão a ser tomadas no mesmo âmbito”.
A comissão do PSD seria constituída em função da representatividade de cada partido na Assembleia Municipal, com três membros do PS, dois do PSD, um da CDU e um do CDS.
“Nada disto tem contornos de âmbito político. Se o PS quer uma comissão de acompanhamento para futuro nós também queremos, mas queremos também que se fiscalize de forma minuciosa toda a documentação e decisões tomadas neste âmbito e comunicações trocadas entre o município e a Be Water. A proposta poderá ser a mesma, pode-se fazer uma fusão”, afirmou Manuel Gomes.
O eleito da CDU pediu bom senso e salientou que “uma comissão de inquérito não é de acompanhamento”. “Vou pertencer a uma comissão em que posso estar sujeito a uma decisão da maioria? A CDU vai votar contra. Dá a ideia de que estão a defender os interesses da Be Water”, apontou, dizendo concordar com a proposta de acompanhamento apresentada pela bancada do PS.
“Parece que o senhor presidente da câmara tem alguma coisa a esconder. Queremos investigar o processo de decisão que a câmara tomou relativamente ao resgate da concessão. Estamos disponíveis a votar a comissão de acompanhamento, mas esperávamos que a bem da verdade o PS também votasse a favor da comissão de inquérito proposta pelo PSD”, foi ao púlpito dizer o social-democrata Soares Carneiro.
A proposta do PSD foi chumbada com os votos do PS e presidentes de junta eleitos pelo PS, CDU e presidente de Junta de Louredo (eleito pelo PSD) a votarem contra (25 votos), e CDS e eleitos pelo PSD a favor (17 votos).
De seguida foi votada a proposta apresentada pelo PS, para uma comissão de acompanhamento ao processo de resgate, com um representante de cada bancada, que foi aprovada por unanimidade.
“Que brilhantismo político, que jogada de xadrez”, apelidou Manuel Gomes. “O PS quer passar a mensagem de que afinal a comissão que vai entrar em funcionamento é deles”, afirmou, sustentando que a do PSD previa escrutínio ao que já foi feito, mas também acompanhamento futuro. Mantendo a coerência, votaram a favor, justificou.