Verdadeiro Olhar

Comboios LEGO de Sérgio Batista já venceram um prémio internacional. Agora pararam na estação do ‘EntreLinhas’

Foto: Sérgio Batista (direitos reservados)

Sérgio Batista casou os comboios com a LEGO e conseguiu a união perfeita. Já ganhou um prémio internacional e tem o escritório da casa “forrado” com carruagens que vai concebendo e construindo com as peças coloridas que percorrem o imaginário de várias crianças e adultos por todo o mundo.

Esta paixão também o tem transportado a várias exposições, uma delas decorre agora no EntreLinhas, a Festa do Ferroviário, que até amanhã, domingo, está parada em Ermesinde Valongo. E é ali, rordeado da LEGO, que o podemos encontrar.

Em conversa com o Verdadeiro Olhar, Sérgio Batista recorda que o fascínio pelos comboios começou deste muito cedo.  Muitas vezes, fazia com o pais a linha de Sintra e conta que “adorava ir à janela principalmente quando chegávamos a Campolide (Parque e Oficinas). Na altura, “eram feitas pelas Automotoras da Serie 2000 e 2050” e, ainda hoje, tem na memória “o cheiro do ferro com ferro provocado pelos rodados nas linhas”.

Com 11 ou 12 anos is para a estação “gostava de ver as manobras dos comboios”. E foi, a partir daí, que cresceu esta paixão.

Já com a LEGO a relação começou “quando tinha uns três ou quatro anos”. Uma tia ofereceu-lhe um jipe com 50 peças. Perdeu a conta ao número de vezes que o montou e desmontou. Queria fazer outras coisas, e conseguiu. Ao olhar para trás, lembra que “era uma criança sossegada, gostava de ficar no meu canto”, quem sabe à espera de inspiração para juntar aquelas peças e fazer uma jangada, uma casa ou um carro.

Mas a LEGO era, e ainda é, um brinquedo caro e os pais não tinham possibilidade de lhe oferecer ‘sets’ maiores de comboios, por isso, inventava usando outros materiais. Com oito ou nove anos fez as primeiras réplicas de comboios portugueses, usando peças LEGO, fita isoladora, papel, plásticos dos garrafões, tudo o que lhe aparecia, servia.

Também tirava os pneus aos carrinhos para fazer bogies, por exemplo. Este hábito nunca o perdeu e hoje, usa várias peças para fazer as composições. Desde pratos, mãos de bonecos que servem para fazer os puxadores das portas. “Olho para uma peça e penso que dá para fazer muitas coisas”, explicou ao Verdadeiro Olhar.

Sérgio Batista mora em Alhandra, Vila Franca de Xira, e tem 36 anos. Profissionalmente trabalha com empresas americanas, na área da saúde, em software. Paralelamente, tem um part time numa consultora onde faz design para jogos da LEGO, curiosamente.

Com isto tudo, ainda consegue tempo para fazer os comboios. Tem a réplica do MiraDouro em LEGO, formada por mais de 10 mil peças.

Foto: Sérgio Batista (direitos reservados)

O planeamento na maioria das vezes começa por criar o modelo digitalmente. É um processo de tentativa e erro, até chegar ao resultado pretendido. Aqui faz um grande trabalho de pesquisa de fotos e desenhos técnicos dos modelos originais. Já a inspiração para fazer estas ‘obras de arte’ vai surgindo, nada é forçado. “Se não me sinto inspirado, não faço”. Mas quando se sente motivado para construir algo, aí ninguém o trava e esquece-se do mundo, contou.

Em 2022, Sérgio Batista submeteu uma réplica do comboio que faz o serviço Figueira da Foz – Valença, com uma locomotiva da série 2600 e três carruagens Arco, ao ‘Brick Train Awards, um concurso mundial para comboios originais criados com peças LEGO. Ficou em primeiro lugar no Médio Oriente e Europa. Esta distinção abriu-lhe portas. Hoje conhece muitas pessoas com quem troca ideias, conhecimentos e técnicas.

Mas estes veículos, construídos com centenas de peças são caros, mas isso não é impedimento, porque como disse: “não tenho vícios e não vou para os copos”. Ou seja, todo o dinheiro extra canaliza-o para a aquisição de peças. Os comboios que constrói são motorizados, têm luzes, são realistas e alguns modelos podem custar milhares de euros, por isso, este é um processo mais lento.

Foto: Sérgio Batista (direitos reservados)

Sérgio Batista já fez mais de 20 réplicas de comboios da CP, mas numa escala menos detalhada e também menos realista do que faz agora. Um dia resolveu mudar de escala e desmontou-os todos, começou de novo. Fez uma locomotiva 2600 e depois as Talgo. Ainda o Sud Express, a Alan Vip, a Corali Vip, a “alface” 3550, a Nohab, o comboio histórico do Douro, vários comboios de mercadorias, entre outros. Acrescentou o Comboio Presidencial, o que lhe deu um convite para os 125 anos da Linha de Cascais. E desde 2009 que tem participado em várias exposições. Chegou a vez do ‘EntreLinhas’, em Ermesinde.

Sobre esta festa do ferroviário, confessa que é uma estreia, mas o seu foco esta´direcionado para “o material circulante” que, em Portugal, “poderia estar recuperado”. Sérgio Batista lamenta o estado a que chegaram alguns veículos, apesar de, atualmente, esta situação se estar a inverter.

Por isso, encara esta vinda a Ermesinde como “uma experiência”, onde pretende “passar um bom bocado” com as suas réplicas que são como bebés. “Só eu lhes posso pegar, porque são frágeis e se não houver cuidado a manusear, pode-se sacrificar a estrutura”.

Mas melhor do que falar, é ir até ao Forum Cultural de Ermesinde, parar, escutar e olhar para estas obras de arte que estão fora dos carris, mas que nos fazem viajar pelo imaginário das nossas ferrovias.