Depois de vários autarcas da região se terem já manifestado a favor da instalação de uma segunda viatura médica de emergência e reanimação (VMER) na região do Tâmega e Sousa, já que a existente serve uma população muito acima da média nacional, o presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Tâmega e Sousa afirmou, hoje, que a região está unida nessa luta.
Segundo Pedro Machado, que foi ouvido na Comissão da Saúde, na Assembleia da República, os 11 autarcas da região já deliberaram nesse sentido de forma unânime.
Em cima da mesa está a possibilidade de ser instalada uma nova VMER, no Hospital de Amarante. O autarca frisou que esta reivindicação “é mais do que justa”. “É uma questão de coesão territorial e equidade”, num território que só por si já tem baixos indicadores em muitas outras matérias. “Queremos que os nossos cidadãos tenham o mesmo nível de serviço que os de outras regiões”, defendeu Pedro Machado.
VMER serve mais do dobro dos habitantes que devia
“Não é hora de olhar a ideologias partidárias. O objectivo é salvar vidas”. O mote foi lançado por Pedro Melo Lopes, deputado do PSD, que não deixou de lembrar os problemas existentes no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), sendo que o Hospital Padre Américo está “sub-dimensionado” para as necessidades da região, provocando “graves problemas de acesso à saúde”.
Quando uma VMER a nível nacional deveria servir um rácio de 250 mil habitantes, segundo prevê um documento da comissão técnica da saúde de 2007, a do Vale do Sousa serve cerca de 500 mil, apontou.
Pedro Machado corroborou: a média nacional é de 234 mil habitantes para cada uma das 44 VMER, quando esta serve uma região muito maior, o Tâmega e Sousa e também Paredes, num total de 493 mil habitantes.
“Não podemos sentir-nos satisfeitos com esta distribuição. No dia 21 tomamos uma deliberação, pedindo o aumento da capacidade de resposta com mais uma viatura. A nossa região compara mal com a média nacional e ainda pior com outras regiões, exemplo de Coimbra que tem menos população que nós, apesar de ter uma área que é o dobro, tem três viaturas”, informou o líder da CIM do Tâmega e Sousa. “A nossa reivindicação é mais do que justa. Estamos todos alinhados. Esta deliberação foi tomada por unanimidade”, salientou o edil, frisando que está em causa mais do que o rácio, mas também o facto de o Hospital Padre Américo estar numa das extremidades da região e ter uma área bastante vasta, com municípios muito distantes, como Celorico de Basto, Baião, Resende ou Cinfães, faltando ainda “vias de comunicação capazes” de aproximar estes concelhos do centro hospitalar. São dois mil quilómetros quadrados de território com uma orografia difícil e acessibilidades “não satisfatórias”.
Pedro Machado realçou ainda que o próprio rácio das VMER que servem o distrito do Porto “não é satisfatório”, sendo que também não faz sentido esperar apoio das VMER dos distritos de Aveiro, Vila Real ou Viseu.
O presidente da CIM referiu também que enquanto a média de saídas a nível nacional é de 5,2 por dia, a da VMER do Vale do Sousa é de sete (2546 saídas em 2021), há uma “sobrecarga” em relação à média nacional.
“Apenas com a presença de um médico no local se pode garantir diagnósticos mais eficientes e encaminhamentos mais directos e curtos”
“A urgência do CHTS é a segunda maior do Norte do país. Não sei se o número de VMER que existe a nível nacional é adequado ou não, mas do que tenho a certeza é de que estão mal distribuídas e de que há aqui um défice de resposta nesta região que na nossa opinião deve ser colmatado”, sustentou Pedro Machado.
Questionado por deputados do PS, PSD, IL e PCP, sobre vários aspectos, o autarca de Lousada disse que a preocupação “é grande” já que os “tempos de resposta são fundamentais” apesar da existência de ambulâncias de Suporte Imediato de Vida (SIV), em Amarante e Cinfães, a resposta que dão “não é comparável” à da VMER. “Apenas com a presença de um médico no local se pode garantir diagnósticos mais eficientes e encaminhamentos mais directos e curtos para certas patologias e tratamentos”, defendeu. Há tratamentos que só podem ser feitos no Porto, porque em Penafiel não existem certas especialidades, e quando a VMER intervém o encaminhamento é directo para o Porto, se for uma SIV para Penafiel e só depois para o Porto. “E aqui o tempo faz a diferença”, frisou.
“Isto não é uma questão de rácios, nem uma birra. Estamos debilitados e esta será uma luta unânime na CIM”, avisou, prometendo voz “firme e reivindicativa”.
O líder da CIM do Tâmega e Sousa relatou ainda que foram pedidos esclarecimentos sobre este tema ao INEM e ao CHTS. Mas que se os esclarecimentos do centro hospitalar foram “inócuos” o INEM nem sequer respondeu.
Sofia Andrade, do PS, não pôs em causa a pretensão, mas insistiu na existência de uma rede integrada de respostas e que é preciso antes de mais perceber como se poder “coser” esta malha. Já Joana Cordeiro, do IL, João Dias, do PCP, e Pedro Melo Lopes, do PSD, mostraram-se defensores de uma nova VMER no Tâmega e Sousa para colmatar as lacunas detectadas.
Hoje foram também ouvidos, a pedido da bancada do PSD, o presidente do INEM, Luís Meira, e Filipe Serralva, médico. Amanhã é ouvido o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, a pedido do PS.