A tradição cumpriu-se em Freamunde. Milhares de pessoas rumaram, esta terça-feira, àquela freguesia de Paços de Ferreira para participar na Feira de Santa Luzia.
Muitos vieram à procura de comprar um capão. Cerca de 500 animais vivos estavam ontem à venda, mas ao início da tarde já tinham sido vendidos centenas de capões, confirmou Ricardo Graça, da Associação de Criadores de Capão de Freamunde.
Durante o certame foi realizado o concurso de melhor capão vivo. Este ano, o vencedor foi Armando Gonçalves, de Carvalhosa, com um animal com 8,7 quilos.
“ Se há anos de excelência para o vinho este foi um ano de excelência para os capões”
“ Se há anos de excelência para o vinho este foi um ano de excelência para os capões”, garante Ricardo Graça. Ao início da tarde, as vendas decorriam a bom ritmo.
Os 22 produtores de Paços de Ferreira, Lousada e Paredes inscritos na feira trouxeram para vender cerca de 500 capões, e centenas já tinham sido vendidos.
“Antes da feira também houve muita procura. Temos criadores que já não vieram à feira porque já não tinham mais para vender”, explica o presidente da Associação de Produtores. “Pensamos que é o resultado da estratégia de promoção que tem sido adoptada. Cada vez há mais criadores e mais capões criados”, acrescentou.
Por outro lado, este foi o primeiro ano em que decorre a venda de capões certificados, salientou. “As pessoas reconhecem e os criadores também percebem que é um valor acrescentado”, disse Ricardo Graça.
Jogo de cadeiras entre o primeiro e o segundo lugar
Como vem acontecendo desde há 16 anos, ontem foram eleitos os melhores capões presentes na feira, num concurso promovido pela Associação de Criadores de Capão de Freamunde, pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira e pela Junta de Freguesia de Freamunde. Nos 15 animais a concurso, um júri avaliou critérios como beleza, peso e qualidade de castração.
A participar no concurso pelo segundo ano, Armando Gonçalves, que no ano passado tinha conquistado um segundo lugar, venceu a competição com um animal de 8,7 quilos, que teve a maior pontuação.
“Sempre gostei de aves de bico, de galos e galinhas. Produzir o capão foi um desafio”, conta o homem de Carvalhosa. Por ano, cria entre 20 a 30 capões. “São poucos mas bons”, garante. A qualidade do animal e uma alimentação saudável fazem um bom capão e chega a ter encomendas da Serra da Estrela, conta.
Este ano produziu 200 capões e trouxe mais de 40 para vender na Feira de Santa Luzia. Mais de metade, já tinham sido vendidos.
Há 62 anos a criar capões
Quem também já conhece os capões como as palmas das mãos é Maria Augusta Coelho, de Figueiras, Lousada. Há 62 anos que cria e capa estes galos.
Os pais já eram criadores e ela continuou o negócio. Todos os anos compra 50 galos para transformar em capões. “Este ano foi um bom ano para vender. Ainda tenho alguns em casa, mas já estão vendidos”, afirmou.
Tem hoje 73 anos e certeza só tem uma: “Enquanto puder arrastar a asa vou continuar. Isto é um vício”.
As origens do capão, ex-libris de Freamunde, remontam à Roma antiga. Reza a história que como o imperador não conseguia dormir devido ao cantar dos galos terá criado uma lei que impedia a sua existência. Para contornar a situação, os apreciadores e criadores deste animal passaram a castrá-lo, já que desta forma o animal deixava de cantar. Surge assim o capão que acaba por ter uma carne mais tenra e apetitosa que o galo normal.
A Feira dos Capões de Freamunde tem raízes no século XV, mas só se tornou oficial por provisão do Rei D. João V, em 3 de Outubro de 1719.