Fazem corridas de sacos, disputam lugares no jogo das cadeiras, atiram latas abaixo, puxam cordas para ver quem é o mais forte, jogam à malha ou ao pião, mas sobretudo sorriem, brincam e convivem. Durante algumas horas, centenas de crianças do concelho de Valongo têm tido a oportunidade de aprender como eram os jogos tradicionais do tempo dos avós. O grande objectivo é não deixar estas brincadeiras cair no esquecimento e, ao mesmo tempo, estimular que se ponham de lado os telemóveis, os tablets e os computadores.
O projecto “Jogos Tradicionais Portugueses 100% Futuro”, promovido pela Associação das Colectividades do Concelho (ACC) de Valongo e pela Câmara Municipal de Valongo, tem promovido acções de demonstração para alunos do ensino pré-escolar e do primeiro ciclo do ensino básico, tendo chegado, só este ano lectivo, a mais de 2.100 crianças.
Na última sessão, realizada em Sobrado, cerca de 400 crianças e jovens, entre os 3 e os 10 anos, puderam experimentar os cerca de 100 jogos tradicionais que integram o projecto.
Jogos são “divertidos” e crianças querem repetir
E a opinião é unânime: os jogos são divertidos e permitem um convívio que os jogos virtuais não admitem. “No ano passado já tinha participado nesta actividade. Costumo brincar com os meus amigos à bola e à apanhada, mas também jogo muito no tablet e na consola”, reconhece Martim Moreira, de 10 anos. “O meu pai fala-me muito nestes jogos, como na corrida dos sacos, e já tinha andado de carro de rolamentos e jogado ao pião com ele”, acrescenta o aluno.
Lara Pereira, de 9 anos, não esconde que gostava de ter mais oportunidades de brincar com estes jogos tradicionais. “Nunca tinha jogado estes jogos, mas gostei, são giros. Passo muito tempo no tablet e no telemóvel, mas também gosto de brincar com Legos e jogar futebol com o meu irmão”, garante.
Também Lara e Alexandra Barbosa, gémeas de 10 anos, gostaram da experiência. “Nunca tínhamos jogado estes jogos, mas gostamos. São divertidos e permitem brincar com os colegas. Gostávamos de repetir”, afirmam. Mas as actividades ao ar livre já são uma escolha regular. Na escola, contam, também saltam à corda, dançam e brincam às escondidas. Em casa, há jogos de computador, mas também andam de bicicleta, patins ou trotinete. “Mas hoje experimentamos muitos jogos novos”, explicam.
“Estes jogos são divertidos, são fáceis de aprender e podemos conviver com os colegas. É melhor assim do que jogar sozinha”, acrescenta Rita Carneiro, de 8 anos.
“É importante mostrar-lhes que existe mais do que um tablet e um computador”
A animação dos mais novos era muita e contagia também professores, educadores e funcionários das escolas.
Com poucos elementos na equipa, a aposta da ACC Valongo passa por envolver toda a gente nas escolas. “Temos aqui 100 jogos diferentes e uma equipa de 10 pessoas que não permitira acompanhar todos os miúdos. Só graças ao apoio das escolas, dos professores e educadores, é que é possível fazer este trabalho”, afirma Joaquim Oliveira.
Telmo António, professor do Agrupamento de Escolas de Valongo que coordenava a actividade em Sobrado, era um desses apoios. “É importante mostrar-lhes que existe mais do que um tablet e um computador, que com materiais simples e com imaginação conseguem passar bons momentos de diversão”, refere o docente. “Isto faz parte da nossa cultura, eram os jogos dos recreios das escolas dos nossos avós e da minha geração, coisas que me davam prazer de jogar quando era miúdo”, recorda.
O professor salienta ainda a importância do convívio estabelecido entre as crianças. “Quando jogam online estão muito isolados”, lembra.
“Este é um projecto que activa a memória, que preserva o património, que liga gerações”, diz presidente da câmara
Para a autarquia, o apoio à iniciativa faz sentido e é para manter. “Este é um projecto que activa a memória, que preserva o património, que liga gerações através dos jogos tradicionais e que estimula uma mudança de estilo de vida, permitindo que os meninos e meninas saiam e convivam e não estejam sempre no computador”, acredita José Manuel Ribeiro.
O presidente da Câmara de Valongo salienta que ninguém fica indiferente a estas actividades e que mesmo os professores têm vontade de participar. Além disso, realça, estes jogos “são um importante contributo para o desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança”. “Os jogos são uma forma de aprendizagem e de ganhar competências”, conclui.
“A nossa conclusão é que toda a gente que participa e joga uma vez fica a gostar dos jogos tradicionais e isso é que nos alegra e nos dá vontade para continuar”, afirma Joaquim Oliveira. O grande objectivo da colectividade é participar na organização dos jogos mundiais de jogos tradicionais em 2020.