Uma família com três filhos menores vive numa casa sem condições de habitabilidade, onde a chuva entra e não há água quente, na rua do Barroco, em Vilar do Torno e Alentém, Lousada.
Ao Verdadeiro Olhar, Maria Margarida Cunha, afirmou estar no limite das suas forças e impotente para resolver um problema que se arrasta há muito tempo. A casa onde reside há três anos está bastante degradada e, com o Inverno, a chuva e o frio entram por todo o lado.
“A casa mete água e com o frio que se tem feito sentir torna-se difícil estar aqui dentro”, referiu, salientando que em virtude desta situação os seus três filhos menores estão sistematicamente doentes.
Os dois elementos do casal estão desempregados e a família recebe apoio alimentar da delegação de Lousada da AMI, da Junta de Freguesia e também apoio da Câmara Municipal. Está em lista de espera para obter uma habitação social há quatro anos.
“Não temos água quente, chove lá dentro, a humidade é uma constante e faz muito frio”
“Os meus três filhos estão sistematicamente doentes. A casa não tem as condições básicas, não temos água quente, chove lá dentro, a humidade é uma constante e faz muito frio. Volta e meio tenho que ir com eles para o hospital”, disse, acrescentando que a única fonte de aquecimento que tem dentro de casa é um salamandra que lhe foi oferecida pelos vizinhos.
Além dos problemas estruturais da habitação, Maria Margarida Cunha destacou que a casa tem apenas um quarto, onde dorme o filho mais velho, uma sala que serve também, de quarto e onde dormem os dois cônjuges e os restantes dois filhos, uma cozinha e uma casa de banho.
“Quando chove imenso dormimos todos no quarto do mais velho”, afiançou, acrescentando o único banho que tomam é nos balneários do Aparecida FC, instituição onde jogam os dois rapazes. “Em casa não temos água quente pelo que os meus filhos tomam banho no clube”, referiu.
“Ainda há muito racismo e preconceitos em relação à etnia cigana”
Além de uma falta de condições de habitabilidade do espaço e de salubridade do mesmo, Maria Margarida Cunha realçou que para agravar a situação tanto ela como o marido estão desempregados, auferem apenas o rendimento social de inserção (400 euros), o abono de família (100 euros) e têm de pagar o aluguer da habitação (150 euros).
“Só tenho o segundo ano, é difícil entrar no mercado de trabalho com as minhas habilitações, mas estou disponível para estudar e fazer um curso que me permita trabalhar. Quero fazer de tudo para ajudar os meus filhos”, afiançou.
“Contrato com senhorio termina este ano “
Ao nosso jornal, Maria Margarida Cunha lembrou que há quatro anos que está a aguardar por habitação social e que o contrato que tem com o proprietário da casa onde reside termina este ano.
“Acabando o contrato eu vou para a rua. Quero apenas que me facultem uma habitação social ou que me aluguem uma casa que me permita dar algum conforto aos meus filhos e me ajudem a pagar uma renda já que é difícil encontrar trabalho. Só peço que me tirem daqui”, frisou.
“Só tenho a dizer bem de todos. O presidente da Junta de Freguesia tem-me ajudado na medida do possível, da AMI Lousada só tenho palavras de agradecimento e quanto à vereadora da Acção Social tem sido incansável. Pagou-me a medicação da minha filha mais nova que sofre de bronquiolite, pediu-me para aguardar, mas a minha situação é deveras aflitiva”, avançou.
Relações com os vizinhos e a comunidade são as melhores
Quanto à relação com a comunidade local, Maria Margarida Cunha confirmou que a sua família está socialmente integrada, dá-se bem com todos e é reconhecida.
“Damo-nos bem com toda a gente. Estamos integradas na comunidade. Somos respeitados e respeitamos toda a gente”, asseverou.
Antes de se fixar em Vilar do Torno e Alentém, Maria Margarida Cunha viveu cerca de 20 anos em Caíde de Rei.
“Não temos competência para resolver esta situação”
Questionado sobre esta situação, a presidente da Junta de Freguesia de Vilar do Torno e Alentem, António Silva reconheceu a gravidade do problema e manifestou que a junta de freguesia, em colaboração com o pelouro da Acção Social da autarquia, está a tentar minimizar o problema. “Sabemos das condições em que vive esta família, atribuímos o apoio que nos é possível, nomeadamente entregamos alguns alimentos e o cabaz de Natal, mas não temos competência para resolver esta situação”, assumiu.
Já a vereadora da Acção Social da Câmara Municipal de Lousada, Cristina Moreira, admitiu que o caso está sinalizado, que esta é uma situação social que preocupa o município e que a autarquia está a tentar minimizar uma situação que, não sendo única, suscita preocupações acrescidas.
Sobre esta situação, a vereadora referiu que a habitação social que existe é escassa, a lista de espera é significativa e existem utentes, com mais filhos, e cujos agregados esperam igualmente por uma resposta.
“A habitação social não chega para todos”
Cristina Moreira esclareceu, ainda, que já esteve no local, inteirou-se das condições em que este agregado se encontra e mostrou-se surpreendida pelo facto de o agregado familiar estar a pagar renda, numa habitação que não dispõe das condições de habitabilidade e salubridade. “Alguém que aluga uma casa tem de ser responsável pelas suas condições. Todos têm direito a uma habitação condigna”, expressou, defendendo que a melhor solução para o agregado passa por encontrar um espaço na freguesia onde residem.
“A habitação social não chega para todos. A câmara não pode substituir-se ao senhorio”, confessou, retorquindo que o agregado está devidamente integrado na comunidade, os menores frequentam o ensino primário e a mais nova está inclusive inscrita na dança.
“Infelizmente falta-lhes o melhor, uma habitação condigna que lhes permita ter qualidade de vida e garantir o bem-estar dos menores” atestou, condenando a lógica mercantil do mercado imobiliário e recordando que muitas famílias estão ainda privadas do acesso a uma habitação condigna e que a situação piora quando se trata de famílias de etnia cigana.
A este propósito, a autarca reiterou estar disponível para continuar a trabalhar em conjunto e encontrar a melhor solução para minimizar este problema.
Também o presidente da delegação da AMI Lousada, Vasco Bessa, confirmou que Maria Margarida Cunha é utente da instituição há dois anos, usufruindo de bens alimentares e roupas.