Acabar com o parque da cidade não estava no programa eleitoral dos vencedores, mas é sina de quem vence destruir tudo o que os outros fizeram. Era um dos segredos.
Foi o primeiro a ser desvendado por obra e graça do primeiro concorrente a entrar na casa. Aliás, o mandante também já terá negociado com um famoso empreiteiro, por uma bagatela, a construção de mais uns edifícios mesmo em cima da zona verde. Assim como assim, estar é diferente de pastar, terá pensado o dono do segredo.
Por falar em instalar. Quem está bem instalada é a ASEP, uma associação que foi criada -dizem- para defender os interesses dos comerciantes do concelho. Nem uma palavra. Ao que se sabe só serve para a “passagem” do dinheiro da autarquia em situações em que esta não pode pagar diretamente. A isto chama-se outra coisa, mas é um nome muito feio para ser aqui escrito. Era segredo? Perdão!
Já que falamos de segredos caros, pagar quase 500.000 (quinhentos mil) euros só para comprar os terrenos para ampliar o cemitério de Rebordosa deixa-nos a pensar que em vez de campas vão construir um hotel de cinco estrelas.
Falando de bagatelas, só existem para os especuladores imobiliários. Por exemplo, para pagar os terrenos ocupados pela comunidade cigana vão mais de 650.000 (seiscentos e cinquenta mil) euros. Se o objetivo era reinstalar a comunidade mesmo no centro da cidade tinham, mesmo ao lado, os terrenos do edifício da destruída antiga junta de freguesia. Também aqui se pode colocar a questão dos concorrentes, agora dentro da casa, terem ignorado o trabalho dos seus antecessores que, ao que se sabe, era uma solução muito mais barata. Não era no centro da cidade, mas não consta que isso fosse exigência da comunidade que vai beneficiar das novas acomodações. Não era, mas conseguiram transformá-lo em mais um segredo. Um segredo caro, diga-se. Cada habitação irá custar mais de 150.000 mil (cento e cinquenta mil) euros, coisa que qualquer rico teria dificuldades em disponibilizar.
Depois de encherem o espaço mais nobre do concelho com toda a pobreza que conseguirem juntar, não devem estar à espera que os estabelecimentos comerciais que servem sobretudo a classe média venham ali instalar-se.
Se for para construírem um novo edifício para funcionamento dos serviços autárquicos noutro sítio, criando uma nova centralidade, talvez se entenda. Em Rebordosa, quiçá. Depois só faltava mudar para lá a sede do concelho. Será o segredo que ainda falta descobrir?
Para concluir, o programa já dura há três anos e os concorrentes estão isolados numa casa vigiada por dezenas de câmaras e microfones, mas estão todos ou avariados ou propositadamente desligados. Tudo está a descoberto, menos os mistérios por revelar. Cada concorrente que está dentro da casa possui vários segredos, mas só pode partilhar um com os seus pares. Os outros segredos de cada um dos concorrentes estão bem guardados e, quando um é descoberto, é logo encoberto. O objetivo principal é descobrir o maior número de segredos dos outros concorrentes e não deixar que descubram os seus.
Os restantes concorrentes que ficaram à porta, em vez de vigiar, abstêm-se, não vá alguém descobrir que os segredos de uns estão umbilicalmente ligados aos dos outros ou que, até há pouco tempo, estavam todos no mesmo lado do saco dos segredos.
Quem vencer, receberá um prémio monetário mais o dinheiro que tiver acumulado na sua conta final. Os restantes finalistas receberão apenas o dinheiro que tiverem conseguido acumular na sua conta. Tudo em segredo, claro.
É assim a Casa dos Segredos. E assim será até mudarem os concorrentes.