Era de esperar que isto de teres um aniversário todos os anos te levasse à terceira idade, a tal que se diz ser daquela gente cheia de sabedoria. E de achaques, também, como estás farto de saber. Felizmente que sem a companhia pouco desejável do Partkinson ou do Alzheimer, que me recordam a história que me contaste de alguém a quem perguntaram qual das doenças preferiria se tivesse de ter uma delas. E da resposta pronta “Parkinson, está claro!” “E por quê?” Porque prefiro entornar metade da garrafa a esquecer-me onde a guardei…”
Procuras manter o bom humor, o que é muito saudável, mas sei bem quanto te custou ter deixado a tua casa para te instalares nesse lar de terceira idade. Depois que enviuvaste, a casa não te parecia a mesma, mas ainda que roído das saudades, sempre tinhas as tuas coisas, o teu espaço e até o teu gatito que tiveste de deixar. No lar em que te encontras és bem tratado e reconheces como razoáveis os argumentos que te apresentaram para esta opção. Mas sentes a falta da convivência de gente nova: não é a mesma coisa que as visitas que te fazem de vez em quando, ainda por cima bem mais espaçadas do que desejarias.
Ultimamente tens-te dado a magicar com a tendência a legalizar a eutanásia e como te sentes apreensivo quando pensas em ter de ir a um hospital. É certo que se refere a vontade dos interessados (?), de pareceres médicos e outras garantias, mas depois recordas o que se passou com o aborto. Eufemísticamente designado por “interrução voluntária da gravidez”, começaram por se invocar os casos do risco de saúde da mãe ou de violações para se cair no aborto na prática sem quaisquer limites. E até me referiste a propósito aquela brincadeira em miúdos de fazer uma barragem de areia para reter a água que escorria de volta para o mar. E como ao fazer-lhe um buraquinho, rapidamente ficava um buracão e logo a água arrastava a areia toda e da barragem nada restava.
E também conheces os argumentos economicistas que apontam a terceira idade como a que mais despesas causa aos sistemas de saúde. E como o deus dinheiro, aliado aos trabalhos e canseiras inerentes ao cuidado dos terceiridosos, exerce pressões, mais ou menos subtis, no sentido de futuramente passar a eutanásia de facultativa a obrigatória.
O certo é que da última vez que te fizeram aquela colonoscopia de rotina, entraste para o hospital apreensivo e dele saíste duplamente aliviado: por estar tudo em ordem e por teres acordado da anestesia. È que não estavas assim tão certo se te eutanasiariam ou não, como estás convencido de que já terá acontecido a um ou outro dos teus terceiridosos conhecidos. Há uns anos atrás, se bem te lembras, dizia-te eu que já tinha começado a IV Guerra Mundial (IVGM), com a morte dos idosos pela eutanásia, que conta para já com “apenas” uns milhares de mortes por ano. Nada que se compare ainda com a IIIGM, a dos abortos, com perto de 40 milhões por cada ano que passa. Muito mais do que na IGM com 5 milhões por ano ou até da IIGM, com 10.
Olha, não te preocupes demasiado com estas guerras, esperando que em Portugal não se chegue a declarar a IVGM e aproveita mas é o novo ano de 2016 que agora começa, que até tem um dia mais que o anterior e, ao que dizem, com quatro feriados que tinham desaparecido e vão ser agora repescados.