No final da semana passada, o executivo municipal de Paços de Ferreira sofreu uma reestruturação que é mais significativa para a vida interna do Partido Socialista local do que propriamente para o funcionamento da Câmara Municipal. No início da semana, o então vice-presidente da autarquia pediu a suspensão do mandato invocando motivos de saúde e “desgaste físico e emocional” no desempenho das funções autárquicas para as quais foi eleito. Mas como pediu uma suspensão por 300 dias, parece querer dizer: “Volto quando estivermos à porta das próximas eleições autárquicas”.
Este pedido de suspensão só pode ser feito por um período nunca superior a 30 dias. Acima desse período, a decisão terá de ser aprovada em reunião do executivo, mas o presidente da Câmara Municipal entendeu não levar o assunto a reunião, obrigando o vereador a renunciar ao cargo. Para já, exonerou-o do cargo de vice-presidente.
A labareda que se torna agora visível na Câmara Municipal de Paços de Ferreira tem origem num lume brando que arde há muito. Vamos aos factos:
Em 2009, Humberto Brito é candidato pela primeira vez pelo PS e perde as eleições por uma margem que fazia o PS da Capital do Móvel sonhar com a vitória na Câmara Municipal em 2013. Nessa altura, aquando da elaboração das listas, Paulo Sérgio Barbosa tentou encabeçar a lista, deixando de fora Humberto Brito. Como não conseguiu, e porque era o presidente da comissão política concelhia, lá conseguiu ir em número dois.
Em 2017, Humberto Brito vence de forma esmagadora e dá sinais de não querer recandidatar-se em 2021. As relações entre presidente e vice-presidente vão-se degradando, num ambiente de crispação crescente, com vários episódios de desautorização de um ao outro na gestão municipal, assim como o desagrado de Humberto Brito por Paulo Sérgio Barbosa ter nomeado alguns militantes socialistas para funções municipais.
Em meados do ano passado, Humberto Brito assume que será candidato a um terceiro mandato à frente da autarquia e, com a continuação do estado de crispação entre presidente e vereador, Paulo Sérgio Barbosa percebeu que estava cada vez mais longe a hipótese de vir a suceder ao actual presidente. E se ainda tinha algumas dúvidas quanto a isto, elas ficaram desfeitas quando Humberto Brito nomeou Paulo Ferreira como vice-presidente, dando um sinal claro de quem deseja como sucessor, se houver sucessão.
Ora, ao pedir a suspensão por cerca de um ano, Paulo Sérgio Barbosa, aparentemente, pretende manter-se à tona e regressar na altura em que o partido estiver a elaborar as listas para as próximas eleições autárquicas. Mas se, de facto, está doente e se sente cansado pelo desempenho do cargo a que se candidatou e para o qual foi eleito, ninguém compreenderá que não renuncie ao cargo.