Verdadeiro Olhar

Câmara de Valongo avançou com investigação interna ao licenciamento do aterro de Sobrado

Está em curso uma investigação interna ao processo de licenciamento do aterro de resíduos não perigosos da Recivalongo, em Sobrado, anunciou o presidente da Câmara de Valongo durante a última Assembleia Municipal.

“Esta é uma luta muito complexa. Este problema não é só do concelho de Valongo, mas este nosso problema é muito especial. Apelo a todos que não deixem que o assunto do aterro de Valongo seja confundido com os outros. É que este foi mal licenciado”, disse José Manuel Ribeiro, depois de uma intervenção de Marisol Marques, presidente da Associação Jornada Principal, pedindo a todos os partidos que continuassem a ajudar os sobradenses na luta contra o aterro.

“Tenho muitas dúvidas sobre a forma como foi licenciado e já pedi uma investigação interna, que está a decorrer, a todo o processo. A renovação das licenças em 2018 também foi muito estranha. Não podemos aceitar que o processo da Recivalongo seja confundido com o dos outros 10 locais do país onde existem aterros. Há razões para que o Estado lhes retire a licença de exploração e ambiental”, acrescentou o autarca.

“O povo de Sobrado deixa às forças políticas um grito de desespero. Ajudem-nos a acabar com este atentado à saúde pública, Sobrado só quer respirar”

Antes, Marisol Marques foi à Assembleia lembrar que têm assistido “à inércia das entidades da tutela para fiscalizar e determinar acções concretas que resolvam o problema de Sobrado”.

“Recentemente assistimos a uma encenação do senhor ministro do Ambiente que ordenou a criação de uma comissão de acompanhamento que além de recusar a presença da associação e de peritos universitários nomeou técnicos que defendem os interesses económicos da Recivalongo em detrimento dos interesses da população. Hoje o problema de Sobrado já se faz sentir nas freguesias vizinhas de Campo, Alfeno, Valongo e Gandra”, atestou, referindo-se aos maus cheiros constantes.

Segundo a presidente da Jornada Principal, as entidades governamentais permitiram que a Recivalongo faça a recirculação dos lixiviados em período nocturno propiciando “a intensificação dos odores nauseabundos em horário em que não existe fiscalização”.

“Em Junho passado, a associação entregou a esta Assembleia um pedido de revisão imediata do Plano Director Municipal (PDM) por atentado ambiental, que queria impedir a expansão económica da Recivalongo na zona de Vale da Cobra”, afirmou Marisol Marques, pedindo um ponto de situação sobre este pedido e reiterando a sua “importância e urgência”.

Aludiu ainda ao prometido condicionamento de circulação de viaturas pesadas na estrada municipal 606, afirmando tratar-se de “uma prioridade para a freguesia de sobrado”.

“Apelo ao envolvimento de todos os partidos na sugestão de medidas que por um lado salvaguardem os interesses dos sobradenses e do município e por outro impeçam a chegada de camiões ao aterro da Recivalongo”, disse.

Marisol Marques lembrou ainda os acontecimentos dos últimos dias, em que vieram a público pedir a demissão do Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, depois de um esclarecimento da CCDR-N sobre o cumprimento das medidas propostas à Recivalongo.

“Como podem as entidades do estado compactuar com esta ilegalidade? Quem garante que a saúde da população de Sobrado e das freguesias vizinhas não está em risco, uma vez que foi permitido, pela Agência Portuguesa do Ambiente, durante anos, a deposição na mesma célula de amianto e resíduos biodegradáveis?”, questionou.

“De acordo com o comunicado, a empresa cumpriu com três das medidas determinadas. Como pode tal ser possível se, precisamente desde o mês de Dezembro os odores têm-se intensificado de tal forma, ao ponto de serem insuportáveis? Resta-nos concluir que as medidas são inócuas e insuficientes, menosprezando o sofrimento diário de um povo que perdeu toda a sua qualidade de vida”, diz a Associação.

“O povo de Sobrado deixa às forças políticas um grito de desespero. Ajudem-nos a acabar com este atentado à saúde pública, Sobrado só quer respirar”, concluiu Marisol Marques.

Zona em volta do aterro vai perder capacidade construtiva para impedir expansão

Na resposta, José Manuel Ribeiro adiantou que o processo de revisão do PDM em curso está a avançar para consulta pública, estando pendentes pareceres de algumas entidades. “A proposta que vai ser colocada em consulta pública vai incluir de qualquer capacidade construtiva naquela zona do aterro”, garantiu o presidente da Câmara.

Sobre o condicionamento de pesados, o autarca explicou que o processo está a decorrer. “Houve cidadãos que nos fizeram chegar preocupações com o trânsito e o facto de aquela via não ter as condições mais adequadas. Pedimos o parecer da Junta de Freguesia que já o deu e foi favorável. Três empresas já se pronunciaram. As outras são a Retria e a Recivalongo”, referiu. “Vamos colocar condicionamento à circulação de pesados parecido com o que fizemos em Alfena. Para os que circularem terá de haver um manifesto. Temos de saber que pesados circulam naquele troço e que origem têm”, sustentou.