Verdadeiro Olhar

Câmara de Lousada quer criar parque de moinhos tradicionais nas margens do Rio Sousa

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

A Câmara de Lousada tem vindo a adquirir vários moinhos junto ao Rio Sousa e está apostada em construir um parque de moinhos tradicionais com uma forte componente de valorização do património, proceder à renaturalização de um troço alargado de margens do rio Sousa e das áreas florestais envolventes e criar as condições para a fruição sustentada por parte da comunidade.

Foi com o propósito de preservar e salvaguardar este legado e estes artefactos que a autarquia lousadense assinou recentemente um protocolo com os actuais proprietários do “Moinho do Meio”, em Pias, que se encontra na posse da mesma família há várias gerações.

O responsável pelo pelouro da Cultura da Câmara de Lousada, Manuel Nunes, realçou que o protocolo tem como missão precisamente a salvaguardar deste artefacto, o único em funcionamento naquela zona, protocolo que está integrado na estratégia ambiental da criação da Paisagem Protegida do Sousa Superior e da valorização dos recursos naturais.

“O protocolo com os actuais proprietários do ‘Moinho do Meio’, em Pias, visa a salvaguarda e funcionalidade do moinho, a sua manutenção, mas sobretudo a garantia da sua acessibilidade à população, nomeadamente escolar, através de visitas guiadas e oficinas de molinologia orientadas pelos moleiros e/ou por técnicos municipais ligados, quer à questão do património, quer aos valores naturais do rio Sousa (projecto Guarda Rios). A valia desde protocolo, reside, de igual modo, na garantia de funcionamento deste moinho, conservando as tradições e ancestralidades etnoculturais associados ao mesmo, já que se encontra na posse da mesma família há várias gerações”, disse.

Falando dos moinhos adquiridos e que se encontram em todo o curso do rio Sousa, o autarca realçou que a importância histórica, a mais-valia patrimonial do conjunto fizeram com que o executivo municipal procedesse à sua aquisição.

“Os moinhos localizados em Pias, excepção feita ao referido ‘Moinho do Meio’, encontravam-se desactivados e/ou em ruínas. Entre esse conjunto de moinhos existe, igualmente uma antiga serração hidráulica. O estado de abandono destas estruturas, a sua localização privilegiada nas margens do rio Sousa, uma área natural que integra o território da Paisagem Protegida Local do Sousa Superior, em fase de implementação, mas também a valia patrimonial do conjunto, único em todo o curso do rio Sousa, determinou a sua aquisição juntamente com cerca de seis hectares de terreno junto às respectivas margens do rio. O propósito, para além da criação de um parque molinológico com uma forte componente de valorização do património vernacular, consiste na renaturalização de uma troço alargado de margens do rio Sousa e das áreas florestais envolventes, devolvendo o espaço à natureza e criando as condições ideias para a fruição sustentada parte da comunidade humana”, destacou.

“Trata-se do último moinho do rio Sousa, em Lousada, que mantém toda a funcionalidade associada à tradição moleira familiar”

Sobre o “Moinho do Meio”, situado em Pias, o vereador com a pasta da Cultura esclareceu que o propósito deste protocolo de colaboração é garantir o acesso da população ao espaço do moinho, mediante agendamentos prévios, aprendendo técnicas ancestrais de utilização da força motriz da água para a produção de farinha.

“Pretende-se ter a percepção de todos os aspectos etnoculturais associados. Por outro lado, trata-se do último moinho do rio Sousa, em Lousada, que mantém toda a funcionalidade associada à tradição moleira familiar. Estamos, por isso, perante uma estrutura de moagem hidráulica tradicional muito particular que importava salvaguardar e tornar fruível”, acrescentou, sublinhando que a recuperação simplista de moinhos não faz sentido, sendo que os moinhos integram a paisagem e tecem, com ela, a valia dessa mesma paisagem”, avançou, sustentando que o conceito actual de valorização do património, nomeadamente moageiro, tende a procurar novas funcionalidades para estes espaços, devolvendo-os à paisagem mas de forma integrada.

“Não se trata de sacrificar a envolvente natural em função da utilização de um certo engenho, mas antes a sua integração, através de linguagens comuns delineadas entre a arquitectura e a natureza. Existem no concelho de Lousada mais de 300 moinhos, inventariados entre 2011 e 2016 ao abrigo do projecto Munhos. Desses, apenas uma ínfima parte se encontra activa. No rio Sousa, existem registos (históricos ou materiais) de 27 moinhos, com um total instalado de 63 mós em laboração. A maioria deles foi abandonada durante a década de 1980 e 1990”, afiançou.

Manuel Nunes reforçou, também, que moinhos são artefactos que estão profundamente enraizados na nossa matriz paisagística e cultural.

“Os moinhos traduzem um período de desenvolvimento proto-industrial muito interessante e profundamente enraizado na nossa matriz paisagística e cultural. O seu valor, vai para além do mero edifício. Por essa razão, importa assegurar o conhecimento acerca, não apenas das suas origens e da sua evolução histórica, mas também a sua adaptabilidade ao longo da história, nomeadamente das diferentes utilizações, reestruturações e reedificações. A revista de Arqueologia e Património, Oppidum, anualmente editada pelo município desde 2006 tem vindo a publicar um conjunto assinalável de artigos de investigação sobre esta temática que se encontra disponível para o público. Além disso, foram editados artigos dedicados especificamente às boas práticas relacionadas com a recuperação destas estruturas moageiras”, constatou, declarando que a autarquia desenvolveu em parceria com o departamento de Geografia da  Universidade do Moinho um projecto de inventário e recolha de toda a informação arquivística disponível nos arquivos da Região Hidrográfica relativa aos processos de licenciamento de moinhos, açudes, pontes e demais edificações associadas ao domínio público hídrico.

O autarca revelou, ainda, que com vista à divulgação de todo este património, a autarquia de Lousada irá acolher em Novembro de 2020 o 1.º Encontro Molinológico Ibérico, altura em que será apresentada publicamente uma monografia dedicada à temática com um retrato profundo e definitivo acerca da realidade dos moinhos antigos e actuais do concelho de Lousada.