Os resultados das eleições europeias e a enorme abstenção levaram a que muitas pessoas assumissem que é a democracia que está em crise. No entanto, importa aqui recordar que nas últimas presidenciais tivemos uma abstenção de 52% e nas legislativas 44%, ao passo que nas Europeias registou-se quase 70%.
Poderá a elevadíssima abstenção se dever, em parte, à perceção por parte dos portugueses de que estas eleições não servem “para nada”?… De facto, em Portugal não se sente uma ameaça populista ou extremista séria que tenha sido suficiente para mobilizar os eleitores portugueses para trocar um belo dia de praia por um voto… Por outro lado, o discurso de que a culpa da abstenção é dos políticos e dos fracos cabeças de lista não faz sentido porque havia dezassete possibilidades de escolha! Dezassete!!!
Infelizmente, a justificação da altíssima abstenção é pouco dignificante, mas fácil de identificar: falta de civismo e cultura de desresponsabilização individual. Urge, portanto, a necessidade de haver uma maior educação para a cidadania, que pode ser promovida nas escolas, abrangendo crianças e adultos! É que, na falta de maior conhecimento e capacidade reflexiva, torna-se fácil assumir como verdadeiras todas as notícias sobre os políticos e, por isso, rapidamente se generaliza: “Os políticos são todos iguais!”… Aliás, como sabemos, esta descrença em relação aos políticos não é exclusiva do nosso país…
Será que, por haver meia dúzia de maçãs podres na caixa, temos o direito de dizer que nenhuma maçã presta? Como se sentirão aqueles políticos que, trabalhando todos os dias pelo bem comum, são vistos como fazendo parte do mesmo “saco”? É importante esclarecer a população sobre o trabalho de um político e mostrar que a maioria dos políticos são pessoas sérias e trabalham de modo empenhado! Neste sentido, são cada vez mais necessárias iniciativas que deem a conhecer quem são os políticos que nos representam, até para a sobrevivência do nosso regime democrático.
Nas escolas, por exemplo, é fundamental ensinar aos alunos o que é a política e mostrar-lhes que não existem sociedades sem política. Todos devemos contribuir para isso!
No passado dia 7 de junho, decorreu a iniciativa “À Conversa com…”, dinamizada pelo Serviço de Psicologia e Orientação do Agrupamento de Escolas Lousada Oeste, dirigida a pais e alunos do ensino básico e secundário. Eu e os outros convidados, o deputado Tiago Barbosa Ribeiro, também sociólogo, e o politólogo e diretor do jornal Verdadeiro Olhar, Francisco Coelho da Rocha, partilhámos os nossos percursos e vivências, com seriedade mas também muito boa disposição. De uma forma geral, todos os convidados salientaram que é essencial os alunos exercerem a profissão com que mais se identificam, para que sejam profissionais realizados e felizes, sem se deixarem condicionar pelas expectativas de familiares, amigos ou professores. Na verdade, o mercado de trabalho de hoje não é o de amanhã e daqui a dez anos será certamente diferente… Por isso, para sermos capazes de fazer face a um mercado que sofre tal evolução, devemos apostar continuamente na nossa
formação e no que nos torna felizes! O fundamental é nunca desistir!!!
Dos três, o único político profissional é o deputado Tiago Barbosa Ribeiro, cujo trabalho que tem desenvolvido é digno de admiração. Foi hábil a forma como, perante aquele público específico, foi desmistificando algumas ideias feitas sobre a vida política! Frisou a importância que a atividade associativa e cívica assumiu desde a sua juventude, explicando que a política surgiu, por isso, de modo natural. Recordou os trabalhos que realizou nas férias de verão e durante a faculdade, o seu percurso na Efacec (onde trabalha há mais de 10 anos), os trabalhos na Argélia, em Angola e em Moçambique, a empresa que criou e o modo como cada uma destas experiências foi surgindo… Enfim, de modo subtil, destacou que “é fundamental nunca abdicar de um percurso profissional que garanta liberdade e autonomia”.
Curiosamente, em momento algum, o deputado Tiago Barbosa Ribeiro abordou que foi eleito pelo Partido Socialista e as funções que cada vez mais lhe são atribuídas pelo Partido (graças à competência que tem evidenciado!). Salientou a importância de se ter uma atividade profissional para além da política, e é aqui que reside a distinção entre os bons e os maus políticos… Estamos perante alguém cujo currículo evidencia bem as suas competências, ao contrário de outros cujo currículo nada acrescenta para além da vida política e que, por isso, a ela se agarram, pois é o único meio de mostrarem o que não são e esconderem o que verdadeiramente são!…
O sociólogo Max Weber fazia a distinção entre políticos que vivem “da política” e os que vivem “para a política” e, claramente, o deputado Tiago Barbosa Ribeiro é um dos políticos que vive para a política! Ouvir as suas palavras foi, por isso, inspirador!!!