Verdadeiro Olhar

Baltar tem bombeiros há 88 anos

Os Bombeiros Voluntários de Baltar celebraram 88 anos de vida. A cerimónia decorreu no passado domingo e contou com a tradicional formatura e as habituais promoções e distinções de bombeiros. Apesar destes momentos emotivos, a manhã ficou marcada pelos pedidos feitos por presidente e comandante da corporação a Celso Ferreira. O primeiro defendeu a criação de um Regulamento de Concessão de Regalias Sociais aos Bombeiros do Município que contemple diversos apoios. O segundo salientou a importância da constituição de uma Equipa de Intervenção Permanente (EIP) em Baltar.

O presidente da Câmara Municipal de Paredes aceitou o desafio, mas alegou que “ninguém fez tanto pela protecção civil” como o actual executivo municipal realizou nos últimos 11 anos.

 

Comandante quer uma EIP em Baltar

Foi no salão nobre da instituição que as diferentes personalidades usaram da palavra para, em primeiro lugar, elogiar a história de uma corporação que celebrou o 88º aniversário. Mas o comandante Delfim Cruz usou este momento, que se seguiu à formatura, para, nas suas próprias palavras, “relembrar a importância da constituição de uma Equipa de Intervenção Permanente neste Corpo de Bombeiros”. Dirigindo-se ao presidente da Câmara Municipal de Paredes, Delfim Cruz acrescentou que a criação de uma EIP “é fundamental para uma ainda maior eficiência e eficácia na prestação de socorro à população”. Depois, sustentou que essa equipa deveria ficar localizada em Baltar, que tem uma “localização privilegiada, pois fica no centro geográfico da área do município”.

Após o pedido do comandante, foi o presidente da Associação Humanitária a solicitar a criação de um Regulamento de Concessão de Regalias Sociais aos Bombeiros do Município. Para José Alberto Sousa, este documento deve contemplar medidas como o apoio jurídico em processos motivados por factos ocorridos no exercício das suas funções, bem como apoio jurídico e administrativo gratuito ao agregado familiar dos bombeiros em processos de carácter social, decorrentes da morte do bombeiro. Bolsas de estudo para bombeiros e para os seus filhos, subsídio de funeral para bombeiros falecidos no activo e a prioridade, em igualdade de condições profissionais e sociais, aos bombeiros na candidatura a emprego na Câmara Municipal e na atribuição de habitação social foram outras reivindicações.

Na resposta, o edil de Paredes garantiu que aceitava o desafio lançado pelos dirigentes da corporação de Baltar, mas lembrou que algumas das medidas propostas por José Alberto Sousa já estão em vigor. “É importante dizer que em Paredes o seguro de vida para os bombeiros está muito para além do exigido [é de 170 mil euros] e que estes já podem usar os equipamentos municipais gratuitamente. Por outro lado, qualquer pessoa que faça obras na sua habitação não paga IMI”, descreveu. Celso Ferreira disse, inclusive, que nunca os bombeiros foram tão apoiados como nos mandatos em que foi presidente. “Ninguém fez tanto pela protecção civil como nós fizemos nestes 11 anos”, assegurou, antes de lembrar a construção do heliporto de Baltar, as ampliações de quartéis e a aquisição de equipamento de protecção individual para as cinco corporações do concelho.

 

 

50 anos de dedicação premiados com Crachá de Ouro

Pela segunda vez na sua história, a corporação de Baltar teve elementos seus distinguidos com o Crachá de Ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses. Depois de Carlos Alfredo, a honra coube a Fernando Ferreira da Silva e a Jorge Ferreira da Rocha, que dedicaram quase 50 anos à causa humanitária. E mesmo depois de terem passado ao Quadro de Honra, os antigos membros do comando continuam ao serviço dos bombeiros. “Continuamos a vestir a farda. Fazemos representações, vamos a funerais e vimos quase todos os dias ao quartel”, assegura Fernando Ferreira Silva. Este homem passou a integrar a corporação de Baltar em 1958 e foi nela que percorreu todas as classes até chegar a chefe. O mesmo percurso foi feito por Jorge Ferreira da Rocha que, em 2000, foi nomeado adjunto de comando numa estrutura em que Fernando Ferreira Silva passou a ser 2º comandante. “Entrámos para os bombeiros ao mesmo tempo e fomos convidados na mesma altura para o comando”, salienta Jorge Ferreira da Rocha. Só a passagem ao Quadro de Honra não foi realizada em simultâneo. Fernando fê-lo em 2006 e Jorge um ano depois.

Do passado, os dois bombeiros recordam tempos diferentes, com menos meios, mas com a mesma vontade de auxiliar os outros. “Somos do tempo em que só havia um carro de combate a incêndios na corporação. Só mais tarde é que veio uma ambulância”, diz Fernando. “Erámos praticamente oito bombeiros que assegurávamos todo o serviço”, assegura Jorge. Ambos lembram ainda que foi a corporação de Baltar que teve o primeiro carro com capacidade para transportar água. “Dava para levar 400 litros”, diz Fernando. “E também fomos nós os primeiros a usar espuma para apagar incêndios”, declara Jorge.

Das “milhares de horas perdidas nos Bombeiros de Baltar”, Fernando e Jorge guardam muitas histórias, alguns sustos, mas sobretudo orgulho por terem ajudado quem mais precisava. “Em Outubro de 1966 houve um fogo numa casa da Sobreira e, com o Jorge a proteger-me, entrei a rastejar e fui buscar o dinheiro que a mulher tinha guardado. Fomos notícia de jornal”, frisa Fernando. “E uma vez tivemos um incêndio que começou à meia-noite e que só terminou às 8h00 da manhã seguinte. E durante esse tempo, fomos os únicos que conseguimos entrar na casa e retirar os bens da família”, assume Jorge.

Os dois também mostram orgulho de terem ensinado tudo o que há a saber de bombeiros aos actuais membros do comando.