O PS, como se esperava, venceu. Não chegou, contudo e ainda bem, à maioria absoluta a que, silenciosamente, aspirava. Desta vez, pode dizer-se, não foi uma vitória por poucochinho. Foi maior, mas isso não representa que António Costa vá ter mais facilidades em constituir governo. Na última vez tinha perdido as eleições e só uma “geringonça com todos” permitia uma solução governativa à esquerda. Desta vez, apesar das intenções manifestadas no dia da vitória, alguém vai ficar fora da carruagem. Saber escolher a ou as companhias não será tarefa fácil. Se a isto acrescentarmos a mais do que provável deterioração da situação económica global, resta-nos a esperança de, como garantiu Centeno, estarmos mais bem preparados para os impactos negativos.
Paradoxalmente, apesar dos números da governação, o PS fica abaixo dos resultados de 2009 e o Bloco e o PCP perdem votos. A “esquerda do arco do poder” esticou até ao seu limite? A CDU e o Bloco, afinal, ganham o quê quando próximos do poder? Ou até perdem?
Muitos factores terão contribuído para a bipolarização verificada e até para o aparecimento de novas “forças” no Parlamento. As sondagens diárias, porque criam expetativas permanentes, podem ter dado um contributo para que o eleitorado se tivesse mexido de forma diferente do habitual. Talvez, por isso ou em parte, se perceba a subida do PAN e a eleição de três novos partidos na Assembleia da República.
À direita, o PSD e o CDS juntos perderam mais de um milhão de votos em apenas duas legislaturas (700 mil em 2015 e 400mil agora).
O PSD, mesmo que Rio afirme que não houve uma grande derrota, não escapará – pensamos nós – a uma crise. É que o PSD teve o pior resultado desde 1976.
O CDS conseguiu ainda ultrapassar o PSD pela negativa. Teve o pior resultado de sempre. Se não voltou ao partido do táxi, não passa de um ligeiro de passageiros. Falta saber quem será o motorista, já que Cristas já garantiu que não fará o lugar.
Um pormenor que não será despiciendo e que diminuiria, eventualmente, o prejuízo do CDS são os 200.000 votos que a Iniciativa Liberal, o Chega e o Aliança somam.
E sim, o futuro do CDS está na ordem do dia. Os seus votos tendem a dispersar-se na novidade das forças políticas à sua direita. Os “novos” candidatos que já se alinham para suceder a Cristas são novos demasiado velhos e conhecidos para evitarem o fim do partido. A esperança de sobrevivência do CDS pode, agora, resumir-se apenas a um candidato que reúna três condições objectivas: ser e penetrar no eleitorado jovem, ter um projecto para aglutinar toda a direita e, sobretudo, ter já mostrado que é capaz de liderar as novas gerações fiéis aos princípios da doutrina social da igreja.
A salvação do CDS, necessária, não se vislumbra nos candidatos que até agora se chegaram à frente: Tendência XXI , João Almeida ou Pedro Mota Soares.
Doutra maneira, apesar do Aliança ter ficado por aqui, o IL e o Chega – coisa que dispensamos – vão crescer nas próximas eleições.