Dizem-nos alguns puristas da língua – não sabemos se bem ou mal – que “ quem não tem cão caça como gato”. Na versão popular- que preferimos- aprendemos que “quem não tem cão caça com gato”. À falta de cão, caçar com um furão, como este executivo tem feito na campanha eleitoral é discriminatório e ilegal. Mas, também é do conhecimento público que a meio ano das eleições mais de 80% dos eleitores já têm decidido o seu voto e, sendo assim, as campanhas eleitorais decidem pouco. São folclore político, diz-se por aí e com razão.
Interessa-nos isto para quê? Para nada de muito importante como é o caso de tentarmos fazer a nossa “sondagem” com os meios de que dispomos. Não que isso nos sirva para mais do que retirar algumas conclusões de tudo aquilo a que assistimos.
As eleições autárquicas se, por um lado, são as que mais vezes nos surpreendem pela eleição aqui ou ali de um candidato inesperado, por outro lado, são também o ato eleitoral mais previsível no que concerne a resultados.
Estudos recentes de uma conceituada universidade, divulgados pelo jornal “Público”, dão conta de que os candidatos que se recandidatam às presidências das câmaras beneficiam automaticamente de um a vantagem de 15% sobre os seus opositores, mesmo que não cumpram promessas feitas nas eleições anteriores.
Tomemos como certo este estudo e o concelho de Paredes como exemplo. Alexandre Almeida é o incumbente. Ou seja é o recandidato que está no poder e, por isso, beneficiará dos tais 15%. Nas últimas autárquicas, segundo as palavras do próprio, por cerca de 200 votos, em 2017, o PS não conseguiu o sexto vereador. Ora, se juntarmos as vantagens de ser incumbente com os 15% do estudo citado chegamos facilmente à conclusão de que Alexandre Almeida nem precisaria de se ter desdobrado em doações de mercearia eleitoralista para chegar ao sexto vereador. Quietinho e caladinho, sem sair de casa ou do seu gabinete, o PS, em Paredes chegaria ao sétimo e ficaria muito próximo do oitavo vereador.
Portanto, fácil será concluir que com a “obra” apresentada, concorde-se ou não com as prioridades, as localizações ou os custos exorbitantes de certas obras que ainda nem sequer foram iniciadas, facilmente nos convencemos de que, em Paredes, o Partido Socialista só deverá contentar-se com um mínimo de 7 vereadores. Para isso, bastaria obter mais cerca de 3.000 votos do que em 2017, se a abstenção for semelhante à de anos anteriores. Tarefa fácil, portanto, até porque apesar das candidaturas dos partidos tradicionais, de um novo partido cuja candidata envergonha qualquer cidadão ou até das bem intencionadas alternativas de independentes – nem todas espontâneas ou ingénuas- apesar disso, diríamos nós, a bipolarização continuará a ser a característica mais evidente deste ato eleitoral.
O PSD/Paredes perdeu as ultimas eleições depois de um longo período no poder, excessivo até, e tendo em conta que os social-democratas nem sequer tiveram tempo para lamber as feridas internas e se constituírem como alternativa, mesmo recorrendo à fórmula de coligação com o CDS, não nos parece que sejam capazes de mobilizar os eleitores ao ponto de não perderem, no mínimo um ou até dois vereadores.
Para o PS, em Paredes, a vitória está garantida nestes primeiros 4 anos. A única dúvida que nos resta é se este resultado é o princípio de um longo ciclo no poder ou se, em apenas 4 anos, os representantes do partido socialista esgotaram a sua capacidade de crescimento. É que, apesar de quase não terem oposição, são já muitas as razões para crer que a “navegação à vista” não é solução para um concelho que precisa – e já é tarde- de rasgar horizontes, de traçar linhas estruturantes que, no mínimo o coloquem ao nível dos municípios da região.
Que concelho queremos construir e como o faremos são as perguntas mais pertinentes a que nenhum concorrente respondeu. E sem esta definição não se vislumbram as ações que possam potenciar o progresso necessário.
Em jeito de conclusão, destes 4 anos de gestão dos eleitos em representação do partido socialista retiramos de positivo, sobretudo, o respeito pela vontade popular de recuperar o pavilhão gimnodesportivo, mesmo sabendo que a vontade de Alexandre Almeida, presidente, e Beatriz Meireles, vereadora, era a destruir esse espaço para a construção habitações de alta densidade, acabando definitivamente com a zona desportiva e escolar que deve, pelo contrário, ser ampliada.
Da oposição, sobretudo do PSD, também não nos chegam novidades. Dar continuidade ao passado é chão que já deu uvas e, quase todas, apodreceram. Também não se apresenta a estas eleições com um projecto estruturado, sustentando-se numa agenda intermitente que obteve nas opiniões recolhidas em alguma comunicação social, mas que se esgotou quando, sobretudo a imprensa local, não lhe deu as soluções para os problemas apresentados. Souberam, nem sempre bem, criticar o que está errado, mas nunca foram capazes de apresentar uma ideia global para o futuro do concelho.
Ao fim destes 4 anos sentimo-nos mobilizados para ir votar no dia 26?
Não. As diferenças entre este PS e este PSD, em Paredes, são muito pouco claras. Aliás, a haver uma coligação partidária neste concelho era muito mais lógica feita entre o PS e o PSD do que deste com o CDS. É que, nesta terra, para nós, laranjas e rosas são tão parecidos que se confundem.
Se vamos votar no dia 26?
Claro que sim. Nem que seja em branco e como forma de mostrar descontentamento ou até como forma de protesto contra o amadorismo que caracteriza esta gestão autárquica e, que, aliás, não é mais do que a continuidade de muitos dos erros que foram cometidos anteriormente. Isto para não falar de práticas políticas. Nisso são iguais.
O que nunca perdoaremos a este executivo mesmo depois das eleições?
Que insista em encher o concelho de Paredes com o lixo produzido por todos os habitantes do Vale do Sousa. Mas ainda estamos a tempo de o impedir.
Como se vê, ainda não aconteceram as eleições e já não nos faltam assuntos para cuidar nos próximos 4 anos.