A Oficina da Regueifa e do Biscoito recebeu seis dos sete candidatos à presidência da Câmara Municipal de Valongo para um debate organizado pelo Verdadeiro Olhar, moderado por Francisco Coelho da Rocha, director, e Fernanda Pinto, jornalista.
Do painel de comentadores, fizeram parte Nuno Monteiro, pelo Bloco de Esquerda (BE), Adriano Ribeiro, pela CDU, José Manuel Ribeiro, actual presidente do município e recandidato pelo PS, Vítor Parati Ribeiro, candidato pelo Pessoas Animais e Natureza (PAN), Armindo Ramalho, pela candidatura do ‘Nós Cidadãos’, e Miguel Santos, deputado na Assembleia Municipal e cabeça-de-lista pela coligação ‘Unidos por Todos’, que junta o PSD, o CDS e o Movimento Cidadania Independente (MAIS). Maria do Carmo Lopes, candidata do partido Chega, não esteve presente, alegando indisponibilidade por estar a realizar acções de campanha, junto da população do concelho.
E não foram precisos mais de cinco minutos para a discussão acender entre os candidatos das duas maiores forças partidárias do município. A futura ‘Casa da Democracia’, que vai albergar serviços e funcionários afectos ao município, esteve na base da discórdia.
O contrato de empreitada já foi firmado com a empresa Tecnifeira – Engenharia e Construção, S A, por uma verba que não chega a 11 milhões de euros (mais IVA) e com um prazo de execução de dois anos.
“A Câmara merecia outro edifício, mas a obra não pode ser feita a qualquer preço” – Nuno Monteiro
Todos os candidatos, com excepção do actual autarca, foram unânimes em considerar a obra cara e desnecessária. O primeiro a manifestar a sua discordância foi Nuno Monteiro, do BE, que, e apesar de considerar que a sede da autarquia merece estar aquartelada num espaço mais digno do que actual, diz que “não pode ser feita a qualquer preço”. O projecto é da autoria do arquiteto Miguel Ibrahim, mas Nuno Monteiro apelida-o de “exagerado” e defende que as verbas que ali vão ser gastas, deveriam ser canalizadas para outras prioridades existentes em Valongo.
O comunista Adriano Ribeiro concorda e vai mais longe ao dizer que o município deveria “construir piscinas em Sobrado e Campo, por exemplo, em vez de optar por esta “obra faraónica”.
“Fui eleito para resolver os problemas criados ao longo de mais de 20 anos pelo PSD” – José Manuel Ribeiro
José Manuel Ribeiro começa por disparar contra o candidato do PSD, dizendo que foi eleito para “resolver os problemas criados” por uma força partidária liderou a autarquia por um período que ultrapassou os 20 anos. Sobre este investimento, o socialista justificou que será um espaço que “vai dar dignidade” ao município, porque urge “responder a mais necessidades, responsabilidades e competências” que, cada vez mais, são imputadas às autarquias. Para além disso, e “como os funcionários e serviços não vão estar dispersos”, haverá um retorno financeiro muito significativo. O ainda autarca explicou também que esta verba não sairá, na totalidade, dos cofres da Câmara, porque vão existir candidaturas a fundos comunitários.
Numa altura que ainda “sofremos com a pandemia”, Vítor Parati Ribeiro defende que esta não era a melhor altura para enveredar por uma obra da dimensão da ‘Casa da Democracia’. O melhor, defendeu, seria apostar naquilo que considera como necessidades mais prementes da população, que passam, por exemplo, por coisas pequenas como “a construção de uma casa-de-banho para os taxistas”.
“A Casa da Democracia é uma obra imoral. Porque é que vão torrar mais de 20 milhões de euros neste projecto!?” – Armindo Ramalho
Armindo Ramalho, da ‘Nós Cidadão’, foi mais incisivo e classificou a obra de “imoral”, sobretudo porque Valongo é um concelho com “carências gritantes”. Por isso, questionou, porque é que “vamos torrar 20 milhões de euros” neste projecto. Para o candidato “não faz qualquer sentido”. Além disso, “o povo deveria ter sido auscultado” sobre esta matéria.
Miguel Santos alinhou pela mesma bitola e considerou que esta obra representa “um assalto ao erário público”. O social-democrata ainda atirou em direcção a José Manuel Ribeiro ao ironizar: “todos estão contra este projecto, só o senhor é que não!”.
A derrapagem no custo dos trabalhos, também foi chamada à conversa pelos candidatos, assim como o ‘timing’ de construção.
“Este candidato julga que tem as eleições no papo, mas é o povo que vai decidir” – Miguel Santos
Miguel Santos não foi parco em palavras e insistiu: a um mês das eleições “este senhor decidiu avançar com a obra”, porque “este candidato julga que tem as eleições no papo, mas o povo é que vai decidir”.
Estas afirmações mereceram uma acesa troca de acusações com o socialista, que tentou rebater todas as acusações. Mas Miguel Santos terminou mesmo por dizer que “a obra tem que parar, porque este senhor não a pode fazer apenas por capricho” e que “as verbas são necessárias para outros projectos”.
Outro tema quente do debate foi o aterro, situado na freguesia de Sobrado, que também suscitou uma azeda troca de acusações entre os candidatos da ‘Unidos Por Todos’ e PS.
Recorde-se que, recentemente, e depois de várias queixas da população devido ao aumento de mosquitos naquela área, a Recivalongo, proprietária do aterro, encomendou um estudo ambiental que concluiu que a maioria dos insetos detetados (na zona) não representam problemas para a saúde pública.
“Agora todos pagam a factura, quem licenciou e quem esteve calado” – Adriano Ribeiro
Para a CDU o processo que envolve a estrutura traduz-se num “problema grave”, sobretudo ao nível da saúde, e que tem que ser resolvido no concelho. O PS aproveitou a deixa para volta a atirar a responsabilidade para o executivo que o antecedeu, liderado pelo PSD, porque trouxe o aterro para Valongo “às escondidas da população”. Por isso, agora todos “pagam a factura”, porque “quem o licenciou esteve calado”.
Já Vítor Parati Ribeiro colocou o ónus deste problema, nas duas maiores forças políticas de Valongo. “O PS empurra a responsabilidade para o PSD e vice-versa”, lamentou. Sobre o encerramento daquela estrutura, “se fosse ontem, já era tarde”, concluiu.
“O aterro de Sobrado é um filho doente numa barriga de aluguer” – Armindo Ramalho
Armindo Ramalho apelida o aterro de “filho doente numa barriga de aluguer”. O cabeça-de-lista do Nós Cidadãos lança os encargos desta situação para os ministérios da Saúde e Ambiente e a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS), que nada fazem, depois de existirem queixas que alertaram para o problema de insectos que afectam aquela zona.
Para o candidato, o caminho a seguir deveria passar por todos os organismos, incluindo a Câmara Municipal, numa “união de esforços para resolverem o problema”.
Ainda por este assunto, Miguel Santos aconselha a população a subir ao baloiço de Valongo para vislumbrar “uma panorâmica assustadora”. Por isso, defendeu, “o aterro é para fechar”. Ainda assim, reconheceu que a vinda do aterro para o município de Valongo foi da responsabilidade do seu partido. Quando José Manuel Ribeiro ouviu esta consideração, tratou logo de dizer: “finalmente!”. Mas o candidato do PSD não se ficou e, além de lhe ter chamado “incompetente”, no tratamento de todo este processo, ainda atirou: “mas, nessa altura (em que o aterro veio para o concelho), José Manuel Ribeiro nem piou!”. A terminar, Miguel Santos sublinhou que “está comprovado que o aterro não funciona e que não é ambientalmente responsável”.
Para Nuno Monteiro estas estruturas são “necessárias”, mas é apologista que a de Valongo deveria ser deslocalizada para outro local. Instado sobre qual o melhor sítio, o bloquista defendeu que o “monte, longe das populações”, poderia ser uma boa opcção, de forma a melhorar a qualidade de vida das pessoas.
E do ambiente o debate saltou para a mobilidade, mais concretamente para os Serviços de Transportes Colectivos do Porto (STCP), empresa da qual Valongo é accionista. A oposição reclama a existência de mais carreiras que sirvam todas as freguesias do município.
“Devia ser colocado um autocarro municipal à disposição das populações das freguesias, sobretudo dos mais idosos” – Vítor Parati Ribeiro
É o caso de Vítor Parati Ribeiro que tem como bandeira eleitoral colocar um autocarro municipal à disposição das populações das freguesias, sobretudo dos mais idosos, que, muitas vezes, querem aceder às unidades de saúde e não têm como.
Armindo Ramalho defende a instalação de uma “frota eléctrica”, amiga do ambiente, sobretudo “mais a norte do concelho”. O candidato também defende que urge “que a STCP sofra alguma pressão”, no sentido de resolver os problemas de mobilidade da população. Além disso, denunciou que o serviço prestado pela CP, na freguesia de Campo, “é uma miséria”.
Uma linha de Metro até Ermesinde é o que defende Miguel Santos, lamentando que Valongo esteja “há 20 anos” fora deste meio de transporte que serve os municípios da Área Metropolitana do Porto (AMP).
O BE também realça que os mais idosos e mais desprotegidos “não têm transporte” para acederem aos vários serviços.
José Manuel Ribeiro rebateu os argumentos de todos os que dizem que Valongo não tem força necessária para estender os serviços prestados pelos STCP a todo o município, ao alegar que existe uma concessão que “pode ser revista”. Além disso, apontou, há transportes privados a servirem o município, e cobram “os mesmos preços” que o serviço público, ou seja, as populações não saem a perder, frisou.
O debate já ia longo e os candidatos continuaram a debruçar-se sobre outros temas de interesse municipal, como sejam o preço da água, que consideram excessivo, e um possível resgate do serviço à empresa ‘Be Water’, que detém a sua concessão. Também nesta matéria, os candidatos discordam das políticas municipais.
O representante do PAN gostaria de ver um desconto na factura para os mais idosos, verba que poderiam depois gastar em outras necessidades mais prementes.
Armindo Ramalho considera que em Valongo se “paga a água a preço de ouro”, afirmação subscrita por Miguel Santos que exigiu “mais competência” da edilidade e dos serviços que a empresa concessionária da água presta ao município. “Não há limpeza nas ruas, as vias não são lavadas e os contentores estão sempre cheios”. Nada “está a funcionar” neste sector, denunciou.
Nuno Monteiro recua no tempo ao afirmar que este serviço “nunca deveria ter sido privatizado”. Mas, e sobre o resgate da concessão, confessa que, neste momento, “o município não tinha condições financeiras para o fazer”.
Adriano Ribeiro não se conforma com os preços praticados, e atirou responsabilidades aos dois partidos com maior representação em Valongo, dizendo que “quem entregou o ouro ao bandido” foi o PSD quando liderou o executivo.
José Manuel Ribeiro começou por dizer que “em nenhum país a água é de borla”, por isso é um bem que tem que ser pago. Para além disso, voltou a apontar o dedo ao PSD, dizendo que foi este partido que “trouxe a concessão”. Ainda assim, congratula-se com o facto de o seu município ser o sexto a ter a água “mais barata” da AMP.
Discussões à parte, chegou a hora em que os candidatos olharam olhos nos olhos os eleitores, com argumentos que os convençam a votar no seu projecto político.
Todos foram unânimes em pedir à população que, no dia 26, se dirija às urnas para exercer o seu direito de voto.
Miguel Santos acredita numa vitória, porque tem projectos estruturantes para o concelho.
José Manuel Ribeiro optou por lamentar a “desinformação” veiculada pelos partidos da oposição, ao longo da campanha eleitoral. A finalizar considerou que o seu trabalho no executivo privilegia a “transparência, a modernidade, a cultura, o ambiente, a educação e a acção social”, deixando a garantia que vai “continuar a governar para todos”.
O candidato do BE criticou a situação de “atraso” vivida no município, logo a opção para Valongo, e para o resto do país, passa pelo voto no seu partido, que “pode fazer diferente”.
Adriano Ribeiro sublinhou que a candidatura a Valongo não é sua, mas da CDU, à semelhança do que acontece com as outras listas nacionais. A finalizar, não deixou de sublinhar a importância de conseguir representação nos órgãos municipais locais.
Armindo Ramalho acredita que as próximas eleições trarão “um resultado histórico” para os partidos que representa, lamentando que o “fosso” entre eleitores e eleitos seja cada vez maior em Valongo, fruto dos dois partidos que estiveram no poder.
Pelo PAN, Vítor Parati Ribeiro pediu às pessoas para apostarem no seu partido e para lutarem contra a abstenção, não fincado em casa no dia das eleições.