O realojamento da comunidade cigana, que reside no centro da cidade, assim como o resgate da concessão da água e saneamento no município foram os temas que mais aqueceram os ânimos no debate promovido pelo Verdadeiro Olhar, e que juntou, na mesma sala, cinco candidatos à presidência da Câmara Municipal de Paredes.
O Palacete da Granja, actualmente designado de Casa da Cultura, recebeu João Pedro Ferreira, pelo Bloco de Esquerda (BE), Álvaro Pinto, pela CDU, Alexandre Almeida, actual presidente do município e candidato pelo PS, e Ricardo Sousa, presidente da concelhia social-democrata e candidato pelo mesmo partido em aliança do o CDS, numa coligação denominada ‘Primeiro as Pessoas’. A terminar o painel, sentou-se Manuel Pinho, que lidera a candidatura ‘Movimento Juntos por Paredes’, apoiada pelo ‘Nós Cidadãos’ e ‘Aliança’. Teresa Monteiro, do Chega, esteve ausente do debate. A moderar a conversa estiveram o director Francisco Coelho da Rocha e a jornalista Fernanda Pinto.
O primeiro tema lançado envolveu o saneamento e a água, que é tido como um dos assuntos mais polémicos no município. Há quatro anos, os socialistas chegaram ao poder e prometeram resolver o assunto, mas o impasse persiste.
Recorde-se que a Câmara de Paredes iniciou um processo de resgate, de forma unilateral, o serviço, concessionado à Be Water, uma empresa do grupo chinês Beijing Enterprises Water Group Limited (BEWG). O município quer acabar com a concessão da água, uma relação que durava há 19 anos, sustentando que a Be Water estava a prestar um mau serviço, porque não fez os investimentos necessários, nomeadamente no alargamento das redes de águas e saneamento às zonas carecidas do concelho.
A edilidade terá que indemnizar a empresa, por quebra de contracto, mas o assunto ainda não tem fim à vista e os candidatos também não se entendem em relação a esta matéria. Pelo lado do BE, João Pedro Ferreira, destacou que a verba a pagar à empresa privada vai colocar a autarquia em maus lençóis. Ainda assim, prefere “esperar que os tribunais resolvam” o imbróglio.
“É importante que haja melhor água ao melhor preço” – Álvaro Pinto
A CDU aplaude o resgate, apesar de reconhecer que esta tomada de posição por parte da Câmara irá criar problemas ao município. Mas refere que o que importa nesta questão é que haja “melhor água e um melhor preço” para a população. O comunista também reforçou que este tema foi a bandeira socialista há quatro anos, mas, pouco ou nada foi feito.
Alexandre Almeida defendeu-se, dizendo que o seu executivo fez “muita coisa” e que, em relação a esta matéria, fez “o que não tinha sido feito” até então. Já sobre o resgate, anuiu que o contracto implica regras, que são para se cumprir, mas a empresa concessionária falhou. Sobre as verbas que a Be Water pede o socialista alega que a empresa terá que “provar em Tribunal” que fez o que lhe competia.
Apesar de o caso estar ainda longe de ser resolvido pela via judicial, o autarca alega que se antecipou e a obra de saneamento já está em andamento, sendo que, “existem duas candidaturas, cujos concursos públicos já foram aprovados” e as obras, que numa primeira fase, “vão beneficiar 600 habitações”, irão começar.
“A Câmara Municipal fez tudo mal” – Ricardo Sousa
Ricardo Sousa, o rosto do PSD/CDS, ouviu e discordou, acusando Alexandre Almeida de ter feito “tudo mal”, no que diz respeito a este processo. Mas, e “se alguém tem um contrato connosco e não cumpre, temos que resolver o contracto”, alega o candidato do maior partido da oposição, que lamenta o facto de Paredes “se encontrar num beco”, o que se deveu à “ingenuidade de Alexandre Almeida”.
Já Manuel Pinho defende que se trave o resgate. A Câmara Municipal deveria “assumir o que foi contractualizado”. Até porque, a solução deste problema deve ter como vectores a “água de qualidade, um bom serviço e o saneamento”. Por isso, o município, em pareceria com a Be Water, deveria recorrer a fundos comunitários, de forma a conseguir trazer para o concelho estes projectos. Manuel Pinho acusa ainda a Câmara Municipal e a Be Water de terem uma “posição obscura” no que diz respeito a este tema.
Ainda pela água, mas sobre a tarifa social, foi em Fevereiro de 2019 que o município anunciou a aprovação da proposta de regulamento do Tarifário Social de Água, Saneamento e Resíduos Sólidos. O objectivo passava por conceder descontos nestes serviços aos residentes com baixos rendimentos ou que estão em situação de carência económica. Mas, dois anos após esta aprovação, há vozes que acusam o executivo de não ter levado a cabo a sua implementação.
Alexandre Almeida alega que, e apesar de “não estar operacionalizada”, este não é um problema, porque “a autarquia está a conceder o desconto na tarifa a todas as pessoas que a solicitem”.
Ricardo Sousa lamentou que o preço mais acessível para famílias com dificuldades ainda não esteja implementado, e retomou o assunto do resgate, dizendo que se a edilidade tiver que pagar o que a Be Water pretende “será a desgraça do município”.
“Isto não é a política do beija-mão” – Manuel Pinho
Manuel Pinho também acusou a Câmara de não estar a aplicar a tarifa. “Isto não é política de beija a mão”, atirou o candidato, lamentando que os paredenses “não estejam a ser respeitados” e tratados de forma igual.
“Muitas pessoas precisam da tarifa social, mas não sabem como solicitar este benefício” – João Pedro Ferreira
Já o candidato do BE, defende que “a Be Water deveria aplicar a tarifa social”, reforçando que, e indo de encontro ao que Alexandre Almeida disse, “muitas pessoas precisam, mas não sabem como solicitar este benefício”.
Da água, o debate seguiu para outro tema que tem a ver com o realojamento da comunidade cigana, que vive num acampamento no centro da cidade de Paredes, sem condições dignas, há 20 anos.
O ainda autarca não teve dúvida em afirmar que “este é um daqueles problemas empurrados com a barriga”, ao longo de anos, e que o seu executivo “teve a coragem de resolver”.
“Para quem diz que eu não fiz nada, perde toda a credibilidade” – Alexandre Almeida
E sobre este assunto, Alexandre Almeida reiterou, “para quem diz que eu nada fiz”, e ao ver isto, “perde toda a credibilidade”.
Para a zona, estão previstos 26 fogos de habitação social, que vão servir para realojar cerca de 100 pessoas que integram esta comunidade, num investimento orçado em três milhões de euros. O concurso ainda não foi lançado, justificou, porque nesta altura “os empreiteiros estão muito ocupados”, e os preços “também são mais elevados”. Por isso, garantiu: “até ao final do ano, a obra arranca e vamos acabar com um problema de insalubridade no centro de Paredes”.
O candidato social-democrata lamenta que o custo médio de cada apartamento, neste empreendimento, esteja “orçado em cerca de 150 mil euros”. Uma verba que considera “impensável”, tanto mais que, e com esse dinheiro, se conseguiam fazer “o dobro das habitações”. Ricardo Sousa foi mais longe, e e questionou o candidato socialista se o executivo falou com a comunidade cigana, no sentido de auscultar se “reivindicavam outro tipo de construção”. Em algo os dois candidatos concordam, a forma como aquelas pessoas vivem “é indigna”.
“Este é o pior executivo desde o 25 de Abril” – Ricardo Sousa
A terminar, não deixou de sublinhar que este “é o pior executivo desde o 25 de Abril. “Só se lembrou das eleições há um ano e só temos visto folclore político de campanha eleitoral”, atirou.
Manuel Pinho também reconheceu que este “é um problema de saúde pública”. Mas, e apesar de admitir que deve ser realojada, o candidato da ‘Juntos Por Paredes’ não deixou de dizer que se o executivo tem obrigações para com esta comunidade, quem ali vive também tem “deveres” e é preciso “fazer com que os cumpram”.
O bloquista também anuiu a necessidade de construir o aglomerado habitacional, mas deu razão ao social-democrata dizendo que “150 mil euros é muito dinheiro por uma casa”. Ainda assim, e se essa “for a única forma de resolver o problema para que aquelas pessoas terem uma vida digna”, que se faça. E reforçou que esta decisão “não deverá ser unilateral”.
“Quantos mais bonitos eram os projectos, mais sabíamos que não iam ser concretizados” – Álvaro Pinto
Já foram aventados vários ideias de realojamento, mas “quanto mais bonitos eram os projectos, mais tínhamos a certeza que não iriam ser concretizados”, afirmou Álvaro Pinto, que durante anos viu projectos e ideias debatidos em Assembleia Municipal.
O candidato defende ainda que “a ideia de criar cooperativas de habitação não se deve deitar fora”, que poderão nascer ali, ou noutra zona do concelho.
A unidade de bio-resíduos, prevista para Baltar, num investimento de 18 milhões de euros e que vai criar 60 postos de trabalho, também não gera consenso entre os candidatos.
Par Ricardo Sousa “Paredes vai acolher uma unidade que ninguém quer”. “E se ninguém o quer, porque é que o presidente da Câmara está tão contente?”, questionou.
Manuel Pinho preferiu sublinhar que, “nos países mais evoluídos, estas estruturas já existem”. Criticável é apenas a forma como foi conduzido este processo, porque “a população deveria ter tido mais informação sobre o assunto”.
“O executivo deveria respeitar a vontade da população” – João Pedro Ferreira
Já João Pedro Ferreira acredita que aquele equipamento “vai criar impacto (ambiental) na vida das pessoas”, por isso, o executivo deveria “respeitar a vontade da população”.
Álvaro Pinto começou por dizer que “o populismo é inimigo da sobriedade”. Ainda assim, e pelos estudos apresentados, o comunista defende que os cidadãos, sobretudo os das freguesias afectadas (Baltar e Parada de Todeia), “deveriam ser esclarecidos” sobre a matéria e aquilo “que vai produzir”. E se tiver efeitos nocivos para as populações, “não deve avançar”.
Alexandre Almeida ouviu e tratou logo de dizer que faz todo o sentido construir a unidade de bio-resíduos em Paredes, porque é um concelho “central”, garantindo que a estrutura será “totalmente fechada”, não trazendo impacto ambiental para a zona.
A terminar a discussão, os candidatos esgrimiram argumentos, de forma a convencer o eleitorado em confiar-lhes o voto. Alexandre Almeida garante que a sua equipa tem “’know-how’ para fazer ainda mais e melhor por Paredes”.
Já Ricardo Sousa assegura que o programa eleitoral da sua equipa “é o melhor”, anunciando-se convicto que vai “ganhar as eleições” do próximo dia 26.
Álvaro Pinto pretende um lugar na vereação e acredita que será neste acto eleitoral que o vai conseguir. Esta postura, assegurou, mostra que a CDU opta por “falar a verdade às pessoas”, garantindo que se for eleito, as ideias dos munícipes “serão sempre respeitadas”.
Posição contrária tem Manuel Pinho que não luta por um lugar no executivo, mas pela presidência do município. “o ‘Juntos por Paredes’ tem “um projecto de cidadania, de inclusão dos paredenses”, e a sua eleição constituirá “um momento histórico para Paredes”.
“Paredes seja o quinto município onde existem mais abates de animais, o que demonstra muita crueldade e insensibilidade” – João Pedro Ferreira
Para o candidato do Bloco de Esquerda, mais importante que apelar ao voto, foi lamentar que Paredes seja o quinto município, a nível nacional, onde existem “mais abates de animais”, o que demonstra muita “crueldade e insensibilidade”. Por isso, e se for eleito, será certo que vai implementar um conjunto de medidas que passam por “esterilizar os animais, colocar chips, e aumentar o canil municipal” que, neste momento, está no limite da sua capacidade, porque recebe um número muito reduzido de animais.