Foi vereador na Câmara Municipal de Penafiel, pela Coligação Penafiel Quer (PSD/CDS), até 2011, quando foi eleito como deputado à Assembleia da República.
Mário Magalhães assume-se como um militante do PSD, mas apresenta-se como candidato independente à Câmara de Penafiel. Garante que não é um contra-senso e que não está a trair o partido.
Critica o rumo que a Coligação que já integrou está a dar ao concelho e diz que o projecto foi desvirtuado e “perdeu gás” sob a liderança de Antonino de Sousa. Por outro lado, Mário Magalhães sustenta que o PS não está preparado para governar a câmara e que a sua proposta é um ponto de equilíbrio, permitindo à população manter o caminho iniciado em 2001, com algumas correcções.
Caso seja eleito, a captação de investimentos será uma prioridade, sendo que o grande objectivo é que os jovens saiam do concelho, quer para emigrar quer para arranjar emprego. Também prevê a necessidade de duplicar ou triplicar o orçamento camarário no que toca ao apoio à área social.
O social-democrata acredita ainda que o Governo do PS está à espera que passem as eleições para avançar com a obra do IC35.
O que o motivou a candidatar-se à presidência da Câmara de Penafiel?
Essencialmente, a vontade de trabalhar pela minha terra, pela minha cidade. Tenho uma experiência autárquica grande. Servi sempre Penafiel, representei Penafiel em Lisboa, conheço o concelho como as minhas mãos, conheço a dinâmica da autarquia, conheço os problemas da minha terra. Acho que há necessidade em colocar ao serviço da terra essa minha experiência. Daí estar disponível para este desafio.
Como é que alguém que é militante do PSD se apresenta como cidadão “livre e independente”?
Continuo a ser social-democrata, aliás, sou o único candidato social-democrata à Câmara de Penafiel. Faço-o de uma forma independente porque este é o caminho. As dinâmicas dos partidos tendem a alterar-se e, no futuro próximo, acho que vamos ter candidaturas independentes na maioria dos concelhos.
Mas o que é que esta candidatura traz de novo?
A minha recandidatura traz um projecto renovado, traz uma equipa nova, com mais motivação, mais força, mais energia, com gente nova, quer para as juntas de freguesia quer para a câmara e assembleia municipal.
Acho que não há aqui contra-senso. Sou social-democrata, é a minha ideologia. Em termos nacionais revejo-me no PSD, mas a nível local, hoje, o que contam são as pessoas. As amarras das estruturas partidárias muitas das vezes são um elemento que dificulta o aparecimento de novos valores. No futuro, o maior partido será o dos independentes.
Quando fala de amarras está a falar do facto de o PSD ter optado em Penafiel por manter a Coligação?
A Coligação existe há vários anos e muito bem. Não me referia a nada muito em concreto. Sabemos que as estruturas partidárias têm uma dinâmica que se esgota em si própria, no mesmo conjunto de militantes, reúnem poucas vezes, não ouvem as bases.
Criam-se entropias ao próprio processo. Infelizmente, isso existe em todos os partidos, que impõem candidatos, promovem e despromovem pessoas. Os partidos não deixam, muitas vezes, eles próprios, que são o pilar do regime democrático, respirar a própria democracia interna.
Não estou a trair o partido. Sinto muito apoio de pessoas do PSD.
Não deixam surgir novos candidatos?
Não se faz um debate profundo, isso é notório em muitos concelhos, seja do PS seja do PSD e, portanto, há necessidade de as pessoas, de a sociedade civil, responder fora destas amarras que existem dentro dos partidos. Isso está a acontecer um pouco por todo o país. Não tenho dúvidas que este será o caminho.
Mas quando se candidata como independente, apesar de ser do PSD, num concelho em que o PSD optou por manter uma coligação com o CDS, não sente que está a trair o partido? Que está a dividir votos?
Não sinto. Sinto que estou a exercer, de uma forma livre, a cidadania. Muitas pessoas revêem-se nesta situação de haver cidadania de participação. Se fosse de outra forma não teria centenas de militantes do PSD e mesmo militantes de outros partidos nas assinaturas para a candidatura. Os partidos não se esgotam em si mesmos. Acho que é um dever disponibilizarmo-nos.
Então não sente que está a trair o partido?
De forma alguma. Sinto muito apoio de pessoas do PSD.
Sobre o que foi feito nos últimos quatro anos. Antonino de Sousa não soube estar à altura do legado de Alberto Santos?
Esse é um ponto central. A Coligação Penafiel Quer, constituída em 2001, foi um grande projecto para o concelho. Infelizmente, nos últimos anos, fruto de vicissitudes várias, perdeu gás, perdeu o rumo. Neste momento, vive muito à sombra dos projectos que estavam lançados no passado. Por exemplo, no que toca à Penafiel Verde, à água e saneamento, todos os projectos que foram feitos durante este mandato foram os que deixei financiados, projectados até 2011. Contrariamente ao que acontecia no passado, em que existia uma equipa, hoje cada um gere os seus próprios interesses e deixaram de funcionar como equipa.
A Coligação Penafiel Quer perdeu gás, perdeu o rumo.
É preciso pôr em causa o que existe para podermos dar continuidade ao projecto de uma forma mais dinâmica e melhor para Penafiel, sob pena de este projecto se esgotar e os penafidelenses se divorciarem de vez deste projecto e, obviamente, encontrarem alternativas. A minha é uma alternativa de equilibro, de ajustamento, não de destruir a obra feita, não de pôr tudo em causa, mas de fazer melhor. Quero estar no meio do equilíbrio em termos do espectro partidário, sob pena de Penafiel virar completamente.
Está a falar de a câmara ser conquistada pelo PS?
Sim. Temo que, se a minha alternativa não vingasse ou não existisse, e como começa a existir bastante descontentamento, se corra o risco de haver uma passagem para o PS.
Mas o meu desacordo não é só com as propostas do actual executivo é, também, com a oposição. Acho que a oposição em Penafiel, em alguns dossiers, não está muito bem preparada, tinha que se preparar melhor. Dou como exemplo os tarifários existentes de água e saneamento que foram aprovados, por unanimidade, com os votos do PS. O preço do saneamento dobrou e, agora, o PS vem dizer que se ganhar vai reduzir, mas vai reduzir um tarifário que eles próprios aprovaram favoravelmente.
Das duas, uma: ou mudaram de opinião ou não sabem o que é que estão a fazer. O PS precisa de ter um projecto melhor para Penafiel. Isto não é o Porto/Benfica, quer dizer, não temos que mudar para ser do contra. É preciso propostas. Dentro desse equilíbrio, não quero ficar na crítica, mas apresentar novas propostas e indicar o caminho certo.
Como já disse, este executivo está a ser “uma desilusão” e “desvirtuou” o projecto iniciado em 2001?
O projecto foi desvirtuado, alterou-se daquilo que era a sua trajectória em vários factores. Em primeiro lugar, a proximidade. O nosso projecto em 2001 baseava-se muito no contacto com as pessoas, em trabalhar com os presidentes de junta, em estar disponível para todas as pessoas. A câmara tinha a porta aberta para os munícipes. Agora, durante os últimos tempos, ouvimos que há presidentes de junta que não são atendidos, que as pessoas esperam meses para serem atendidas. Há um divórcio, um afastamento, coisa que não acontecia no passado. As pessoas querem proximidade.
Em segundo lugar, existia uma estratégia. Estavam definidas as prioridades, no curto, no médio e no longo prazo. Neste momento, vivem do curto prazo, vivem do “show off”, do imediatismo, do marketing e de obras imediatas sem uma estratégia definida para o futuro.
Por exemplo, como é que posso concordar que Penafiel tenha feito mais investimento nos últimos seis meses que nos últimos quatro anos anteriores? Alguma coisa está errada.
O executivo justifica as obras em curso com o atraso dos fundos comunitários, que só chegaram agora.
Não aceito essa resposta porque mais de 60% das obras que foram feitas não têm quaisquer fundos comunitários. Isto é apenas para iludir as pessoas. Não é verdade. Se lhe colocar aqui os 14 ou 15 milhões de euros de obras vamos ver quantas tiveram fundos comunitários efectivos. Pavimentações em ruas, à última da hora, é com fundos comunitários? Se calhar não houve foi um trabalho anterior. Penafiel perdeu porque não tem projectos, porque não tem uma estratégia. É isso que falta.
Aliás, na questão dos fundos comunitários é outro dos temas em que Penafiel está mal. Chegam poucos fundos comunitários a Penafiel. Têm que chegar muitos mais. Temos de ser mais exigentes e para sermos mais exigentes temos de ter mais e melhores projectos. No passado, Penafiel estava na linha da frente e aproveitava todos os fundos comunitários, agora baixou esse aproveitamento.
Parece-me que o PSD, que era o partido maioritário, se pôs a jeito para perder a liderança da coligação
Ainda acredita Antonino de Sousa, sendo do CDS, não deveria ter sido escolhido para liderar a coligação?
Esse é um assunto do passado. Faz parte da história. Não quero estar a repisar. O tempo, que é sempre bom nestas questões, nos dará ou não razão em relação a essa questão.
Parece-me que o PSD, que era o partido maioritário, se pôs a jeito para perder a liderança da coligação. É óbvio que o poder do CDS aumentou exponencialmente dentro da coligação. Mas não é essa a questão. O projecto tinha era que continuar a acelerar, mas perdeu gás.
Há projectos com os quais concorda e que teria mantido caso estivesse na liderança da autarquia?
Sim, há muitos projectos com os quais concordo. Muitos deles foram projectos onde participei e não posso estar contra esses projectos, como o alargamento do Parque da Cidade. Na zona industrial de Recesinhos deixei tudo encaminhado em 2011 para poder ser uma realidade e não entendo que em 2017 se faça bandeira de uma obra que em 2011 poderia ter arrancado. Havia protocolos com empresas, inclusive, que deixaram de estar em Penafiel porque a câmara não teve a capacidade de construir a zona industrial.
Depois, todas as obras de saneamento que foram inauguradas até 2014 e 2015 foram obras que deixei financiadas, aprovadas, e a maior parte com os concursos lançados. O Dia dos Avós foi uma iniciativa que o meu pelouro lançou que se tornou um sucesso.
Na área social, lutei juntamente com Alberto Santos para que se implementassem. Quando fui para deputado, muitas delas vieram a ser implementas, mas fui eu que as propus. Tenho muito gosto nisso, mas ainda há muito trabalho a fazer nesta matéria.
Na área do desporto, não posso deixar de concordar com os dois ou três campos sintéticos que foram construídos. A única coisa que não concordo é que não fossem feitos dez em vez de dois ou três. O campo de Rio de Moinhos, em 2011, quando eu saí, estava preparado para arrancar. Demorou mais dois ou três anos.
E não posso deixar de abordar a questão das juntas de freguesia. Hoje, há menos investimento nas freguesias do que existiu no passado. Houve mais investimento nos últimos seis meses, mas se analisarmos o mandato houve muito menos investimento.
Estou em desacordo com que se renove as piscinas de Penafiel? Não. Mas estou em desacordo que elas demorassem três anos a ficar prontas quando o projecto estava pronto quando saí em 2011.
Não estou em desacordo com o que foi feito, queria era que tivesse sido feito mais. Andamos mais devagar, investimos menos.
Não estou em desacordo com o que foi feito, queria era que tivesse sido feito mais.
Está a dizer que não houve novas ideias nos últimos quatro anos? Tudo o que foi implementado já estava definido?
Existem algumas novas ideias e uma delas foi estreitar a variante do Cavalum. Foi uma nova ideia, não estava previsto.
Não concorda com essa obra?
É uma ideia infeliz. Em 2001 criticamos o PS por algumas obras que tinham sido feitas e que não tinham a dimensão que se queria para a cidade em termos de mobilidade. Lembro-me do caso da variante junto ao hospital. Quando chegamos ao poder conseguimos alterar a EN 15, entre Paredes e Penafiel. A câmara lutou junto das Estradas de Portugal para que tivesse duas vezes duas faixas. A ligação de Guilhufe para o Tapadinho, que tem duas vezes duas vias, o projecto inicial também não era assim. Quisemos introduzir uma nova filosofia.
Não entendo como é que, 16 anos depois, voltamos ao tempo do PS. É algo que me faz confusão. Se houvesse uma justificação, se me dissessem não há terreno, agora num sítio onde existe largueza suficiente, onde era possível fazer um trabalho em condições, enfim, fomos infelizes. Foi uma nova ideia que correu mal.
Então concorda que poderiam ter melhorado a mobilidade pedonal mas com novos terrenos e não roubando espaço à estrada?
Acho que isso é do mais elementar. Não é preciso tirar um curso de engenharia ou de arquitectura para perceber que aquilo não ficou bem. É seguramente uma mancha que fica no trabalho deste executivo.
Posso contribuir com a minha experiência, com os meus contactos internacionais para trazer mais investimento para Penafiel.
Como espera transformar Penafiel numa terra de oportunidades, como afirmou na apresentação da sua candidatura?
Estamos neste momento a criar a melhor geração que existiu em Penafiel em termos de competências. No passado dizíamos que havia pouca formação. Hoje, os jovens têm formação a mais para a terra e temos que colocar isto ao contrário. Penafiel precisa muito dos nossos jovens. Não podemos dar-nos ao luxo de ser o concelho com menos de 100 mil habitantes onde mais pessoas emigram para o estrangeiro. Esse é o grande desafio, conseguirmos que oportunidades de verdade venham para o concelho. Não oportunidades para o “show off”, não dizer que vão ser criados 400 postos de trabalho por uma determinada empresa e, chegando ao final de dois ou três anos, descobrirmos que afinal só criaram vinte…
Precisamos de captar investimento. Posso contribuir com a minha experiência, com os meus contactos internacionais para trazer mais investimento para Penafiel. Além disso, as câmaras preocupam-se muito o investimento que vem de longe, mas esquecem-se da sua própria terra. Penafiel tem mais de cinco mil empresas. Existem muitas empresas que precisam de massa crítica. A câmara tem de ter um papel de coordenador, de articular, para que as empresas em Penafiel possam melhorar os seus quadros, apostando em pessoas cada vez mais qualificadas.
Penafiel é um concelho bastante apetecido e uma das coisas que fiz enquanto deputado foi tratar de tirar Penafiel da zona mais deprimida de Portugal. Temos um PIB per capita em Penafiel que está ao nível do da Turquia. Temos que alterar isso. Apresentei um projecto de resolução, que foi aprovado no Parlamento, e conseguimos que Penafiel tivesse uma majoração de 10% em todo o investimento. É preciso que essa mais-valia, esses 10% a mais, se transformem em resultados reais no terreno. Temos que criar mais zonas industriais. Não podemos estar, outra vez, 30 anos sem criar uma zona industrial. O resto do concelho precisa de espaços industriais.
É nesse sentido que falo de terra de oportunidades.
Essa captação de investimento passaria então por mais zonas industriais. Também iria oferecer benefícios fiscais às empresas?
A autarquia tem de usar todos os meios disponíveis. Em primeiro lugar tem de ser facilitador. Um licenciamento para um investimento tem de ter prioridade. Não podemos demorar o tempo que demoramos. Temos de ajudar os investimentos através dos instrumentos legais, de taxas e tem que existir uma equipa da câmara que, de manhã à noite, todos os dias, 365 dias por ano, se foque em captar investimento para Penafiel. Essa não pode ser uma área cinzenta de um pelouro qualquer. Tem de ter dimensão, tem de ser um pilar estratégico para o concelho. Penafiel tem de aproveitar o boom que existe de turismo, a imagem de credibilidade, de segurança do país. Temos de estar nessa linha da frente para ajudar quando alguém quer investir em Portugal. Não podemos ficar no final da linha à espera que alguém, depois de investir em vários concelhos, se lembre de abrir um centro em Penafiel.
Está a falar na Altice?
Sim. A Altice não veio para Penafiel, quem veio foi a Randstad, e só chegou a Penafiel depois de abrir 20 ou 30 centros no país.
O investimento não funciona assim. Tem que se ir atrás dele. Temos que ir atrás das empresas de Penafiel para os incentivar a investir. A câmara tem de ser um parceiro. Temos que usar a marca Made in Penafiel para criar um rótulo ou um cunho de positivo junto dos exportadores, aumentar as exportações. Um dos grandes desafios de Penafiel é aumentar as exportações. Somos o quarto concelho do Vale do Sousa em termos de exportação, quando Penafiel deveria estar em primeiro lugar.
Um licenciamento para um investimento tem de ter prioridade. Não podemos demorar o tempo que demoramos.
Temos muito que trabalhar. Não podemos ficar contentes por termos ficado em 64.º ou 62.º no ranking nacional das cidades com melhor qualidade para viver. Temos que lutar com as capitais de distrito. Não podemos nivelar por baixo. Não há mais nenhuma sede de uma comunidade intermunicipal que esteja tão mal como Penafiel.
Foi esse o grande desafio que quisemos atingir durante anos. Depois, em 2013, baixou-se as expectativas. Tentamos vender, todos os dias, uma imagem muito simpática à população, mas, na verdade pouco fica. Fica na espuma dos dias.
Está a dizer que Penafiel está a viver de aparências?
Em alguns aspectos sim. Temos uma boa imagem exterior, fazemos muitas festas… Não quero acabar com nenhuma, quero é que se supere e fazer cada vez fazer melhor.
Mas falta-nos o outro lado, aquele que cria valor para a terra, onde as pessoas se possam desenvolver e ter objectivos. Penafiel tem um grande potencial.
Temos que tirar partido de sermos sede da comunidade intermunicipal. Penafiel tem que se assumir como um grande parceiro das outras autarquias. Dou o exemplo da Agrival, que é um grande sucesso, mas pode ser ainda mais potenciada. Sendo a Feira Agrícola do Vale do Sousa e do Baixo Tâmega pode te mais contributos e participações dos outros concelhos. Neste momento todo o enfoque está em Penafiel. Devemos ter uma elevação para abrir os braços e acolher esta comunidade e puxar pela comunidade.
Penafiel tem de ser o motor do Tâmega e Sousa
Penafiel tem de ser o motor do Tâmega e Sousa?
Tem que ser o motor do Tâmega e Sousa e não pode estar à espera deste ou aquele benefício. Esses benefícios têm de acontecer com naturalidade.
Já falou várias vezes da questão da captação de investimento. Este executivo criou um plano municipal para captar investimento e anunciou mais de 400 postos de trabalho. Está a dizer que não foram criados?
Claro que não, nomeadamente na Randstad. Continua-se a criar a expectativa às pessoas que a câmara vai criar muitos empregos. Eu não estou a dizer que vou criar muitos empregos. Estou a dizer que quero que os empresários criem muitos empregos.
A câmara não cria, faz com que os outros criem. Temos de ser parceiros. Ficamos muito aquém. Temos de recordar que, neste período, saíram de Penafiel mais de duas mil pessoas que tiveram de emigrar.
O desemprego baixou porque as pessoas emigraram?
Muito do desemprego baixou porque há alguma actividade económica, mas também porque saíram da vida activa mais pessoas do que as que entraram. Os números estão aí. Somos o município campeão a exportar pessoas.
Somos o município campeão a exportar pessoas.
Os números do desemprego são para baixar e acho que vão baixar. A dinâmica do país aponta nesse sentido. Com câmara, sem Governo, sem nada, a dinâmica está no sentido positivo e isso vai acontecer. Não é o presidente da câmara A ou B que vai resolver o problema. Agora, a câmara pode ser uma alavanca no sentido de acelerar o investimento. Mas, acho que ficamos aquém das expectativas ou daquilo que era a trajectória que queríamos para Penafiel.
Afirma que a juventude não está a ser devidamente potenciada. O que pretende fazer para mudar este panorama, caso seja eleito?
Vou apresentar um programa eleitoral mais detalhado em que farei esses enfoques, mas a minha principal preocupação para a juventude é que possa continuar em Penafiel.
Obviamente que temos de voltar a ter políticas de juventude, até porque, cada vez há menos jovens. O número de jovens em Penafiel até aos 24 anos baixou 10%. A autarquia além de querer que os jovens continuem no concelho, tem de ter políticas de inserção, apoios ao nível do ensino e do desporto. Mas sobretudo temos que manter os jovens cá.
Também já elencou o combate à solidão e isolamento e a diminuição de desigualdades como prioridades.
Temos que antecipar o futuro e temos de nos preparar. Penafiel tem uma rede simpática de protecção social, mas precisamos de antecipar a questão da demografia. Vamos ter no futuro mais pessoas com mais de 80 anos que crianças com menos de 10 anos. Muitos dos nossos idosos precisam de combater a solidão, de estar em centros de dia e de convívio. Temos de dispor destes equipamentos em todas as freguesias. A rede que existia foi construída com um cenário do passado, com as políticas de há 15 ou 20 anos atrás, temos de projectar uma rede para daqui a 10 ou 20 anos. As escolas vão sobrando, mas é preciso mais centros para as pessoas. A minha proposta é que em cada freguesia, deve existir um centro de convívio ou centro de dia, para manter a proximidade.
Diria que Penafiel tem que duplicar ou triplicar o orçamento para investir na acção social.
Esta é uma área que vai ter um impacto tão grande na autarquia como tiveram no passado as infra-estruturas. Penafiel foi dos primeiros a lançar a Comissão de Protecção do Idoso, mas não bastam medidas administrativas.
Penafiel tem que duplicar ou triplicar o orçamento para investir na acção social.
Não basta um plano?
Não. É preciso é passar ao próximo passo e isso implica que exista uma fatia do orçamento significativa. Se Penafiel tem uma capacidade de investimento de 10 ou 15 milhões de euros por ano, investimento líquido, sem contar com as despesas, tem de pôr 10% no apoio social. Esta é uma prioridade. Isto tudo tem de ser feito de forma articulada com as associações.
Um assunto por resolver em Penafiel é o da construção do IC35, que nos últimos quatro anos voltou a sofrer reveses e que já atravessou vários governos do PS e do PSD. Quando foi deputado à Assembleia da República afirmou que lutou pela obra. O que é certo é que ainda não saiu do papel. Se for eleito o que pretende fazer para que a obra arranque?
Honestamente penso que depois de ser eleito não vou precisar de fazer muito para que a obra arranque até porque acredito que vai arrancar. Todo o trabalho que foi conseguido no sentido de colocar a obra no Plano Especial dos Transportes e das Infra-estruturas foi feito. O facto de ter sido arranjado financiamento e lançada a obra em 2015, do projecto estar a ser concluído para a segunda fase, faz-me pensar que ela vai começar.
Perguntam-me, mas porquê esta paragem? Devido às eleições. Se a obra tivesse arrancado haveria uma repartição de louros entre o trabalho que desenvolvi e, também, algum da autarquia. Acho que o Governo do PS está à espera que passem as eleições para vir lançar a obra. Trata-se apenas uma questão de tempo. Aliás, porque um dos grandes argumentos para o impasse da obra, a questão financeira, está resolvida. As Estradas de Portugal, ainda no ano passado, tiveram um lucro de 55 milhões de euros. Não é falta de financiamento, não é incapacidade, é apenas assinar a adjudicação. O concurso está feito.
Acho que o Governo do PS está à espera que passem as eleições para vir lançar a obra [IC35]
E foi travado.
Está feito. Acredito mesmo que esta vai ser uma das grandes surpresas para depois das eleições. Aliás, como acontece com outra obra que é a da Escola D. António Ferreira Gomes. Foi feito o protocolo, está para começar há muito tempo, já começaram outras escolas noutros concelhos. Por que é que não começa a obra? É por falta de dinheiro? Penso que esta é outra das obras que vai iniciar depois de dia 1 de Outubro porque o Governo precisa de mostrar obra feita em Penafiel, onde não tem feito nada.
No Parlamento, O IC35 deve ser a obra que mais foi falada. Os projectos de resolução foram aprovados por unanimidade, desde o Bloco de Esquerda ao CDS. Por que é que não arranca? Não faz sentido. O Governo não tem justificação para não arrancar com esta obra. O traçado está definido. A obra é necessária. Este é um processo que não tem reversão.
Acha que este executivo soube reivindicar a obra? Culpa apenas o Governo pelos atrasos?
Este executivo teve uma parte em que esteve mal, principalmente quando não acreditou na obra. Quando queremos lutar por algo temos que acreditar. Lembro-me que durante muito tempo, enquanto estava no Parlamento, falei sozinho sobre o assunto. Fizemos visitas de deputados e da parte da autarquia houve algum esmorecimento, um desacreditar. Mesmo depois de estar lançada a obra, a autarquia continua a não acreditar muito. Essa é a parte menos boa.
Na parte de lutar pela obra, está de parabéns e temos de estar do mesmo lado, seja a autarquia, seja a oposição. A sociedade política tem de estar unida em torno desta construção. A autarquia está a fazer o seu trabalho. A oposição, enfim, agora, está mais calada, esteve mais activa no passado, isso é fruto da política, mas no dia, quando a obra arrancar, vai estar na primeira fila para cortar a fita. Vamos estar todos de acordo no final.
Podem-me acusar de ser arrojado demais ou de querer puxar demais pelo concelho. Não me podem é acusar de não ter ideias, de não ter uma estratégia
A sua experiência na vereação deu-lhe competências para ser presidente de câmara?
Isso é um julgamento que os penafidelenses vão ter de fazer. Sinto-me preparado, conheço a câmara como ninguém, conheço os dossiers, conheço praticamente todos os pelouros, fui dos que mais pelouros tive na câmara, conheço as associações e o concelho como poucos.
Podem-me acusar de ser arrojado demais ou de querer puxar demais pelo concelho. Não me podem é acusar de não ter ideias, de não ter uma estratégia, de não querer o concelho a evoluir. É isso que o presidente de câmara tem de ser. Alguém que puxe, que esteja na primeira fila dos problemas, que dinamize o concelho. Pessoalmente sinto-me preparado para isso.
Enriqueci com a experiência que tive na autarquia, mas muito mais com as funções que exerci enquanto fui deputado, os contactos que tive nas comissões e mesmo a nível internacional. Conheço bem a dinâmica do Governo por dentro, conheço os caminhos do poder. Hoje sei como isso é importante para resolver os problemas.
Quero tentar captar investimento internacional para Penafiel e tenho contactos nessa matéria. É algo que posso fazer por Penafiel, para ajudar a que o concelho dê um salto e isso move-me. Pode ser difícil a conquista da câmara, mas para mim será muito mais fácil conseguir os objectivos que tenho para Penafiel. É a minha missão.
O seu objectivo é vencer estas eleições ou já consideraria uma vitória eleger-se como vereador?
Tenho que ter a capacidade de liderar a câmara para conseguir impor o meu projecto. Quero que toda a gente esteja envolvida neste projecto. Não é o projecto da minha lista, o meu projecto pessoal, é um projecto para todos. Quero ganhar para introduzir uma nova governança na câmara, onde todos os vereadores eleitos tenham funções executivas. Sei a importância de ter funções executivas.
Não existe esta tradição, mas cada um tem competências em determinada área que pode colocar ao serviço da comunidade. Obviamente que sei que é difícil colocar o meu projecto ao serviço dos penafidelenses contra as máquinas que estão instaladas na sociedade há mais de 40 anos. É muito difícil um independente afirmar-se num território onde, muitas das vezes, existem pequenos caciques. As pessoas têm medo de perder o seu pequeno poder.
Mas não nos esqueçamos do exemplo da Câmara do Porto. Há quatro anos atrás, o candidato tinha 14% nas sondagens e os outros tinham 40% e ele ganhou. Acredito que na sociedade há muitas pessoas, que no seu íntimo, estão disponíveis para dar uma oportunidade, para acreditar neste projecto. Não para dar um cartão vermelho no sentido de uma viragem à esquerda completamente, mas para dar um sinal e para corrigir o caminho que está a ser seguido. Esse é o meu grande objectivo.
Se os penafidelenses não me confiarem esse voto terei de tirar ilações dos resultados eleitorais.
Se ganhar, sei exactamente aquilo que quero para câmara. Farei convite a todos e negociarei com todos os vereadores para que tenham pelouros, para que tenham responsabilidades.
Caso seja eleito vereador e a coligação vencer esta eleição sem maioria estaria disponível para trabalhar em conjunto com Antonino de Sousa?
Não tenho esse cenário. Se ganhar, sei exactamente aquilo que quero para câmara. Farei convite a todos e negociarei com todos os vereadores para que tenham pelouros, para que tenham responsabilidades. No outro cenário, irei avaliar os resultados. Tenho que me manter fiel às minhas ideias e princípios e fiel às pessoas que estão com esta candidatura. É um grupo alargado de pessoas. Muitos dos projectos de que falei são de médio prazo. A adesão das pessoas aos movimentos independentes vai continuar a aumentar e o facto de ter em Penafiel implementado esta semente cria-me algumas responsabilidades para o futuro e tenho que avaliar com algum cuidado o pós-eleitoral.
Candidata-se apenas à Câmara e Assembleia Municipal. Porque é que não tem candidatos a assembleias de freguesia?
As candidaturas independentes têm essa vantagem. Não temos as obrigações, como os partidos, de estar a concorrer a todas as juntas.
Há muitas juntas de freguesias onde há presidentes de junta que eu tudo fiz para que pudessem ser eleitos. Seria de muito mau tom, agora, virar-me contra pessoas com quem trabalhei. São pessoas que têm um bom trabalho, com quem tenho um bom relacionamento e onde existe uma empatia pelo trabalho que estão a desenvolver. Não posso estar a fazer listas gratuitas.
Temos listas independentes em muitas freguesias, algumas não são ligadas exclusivamente a este movimento independente, mas há um número, cerca das 10 listas, que estão muito mais próximas deste movimento. Para uma primeira vez é satisfatório.
Não andei de freguesia em freguesia a bater às portas, como faz o Partido Comunista. Há uma máquina montada, no terreno, e temos praticamente candidatos a todas as freguesias, vamos estar nas mesas de voto e vamos cobrir o território.