Verdadeiro Olhar

“Autarca de Penafiel tentou ser coveiro, mas não conseguiu”. Universidade Sénior foi despejada, mas está a funcionar

Foto: Márcia Pimparel Vara

O Tribunal deu razão à Câmara Municipal de Penafiel que conseguiu reaver o edifício onde funcionava a Universidade Sénior, despejando uma instituição que funcionava naquele espaço há mais de 10 anos. Após a última decisão judicial, a autarquia mandou uma carta, a 9 de dezembro, onde dava um prazo de dois dias para o espaço ficar desocupado. A pedido dos alunos, a autarquia concedeu-lhes mais três dias, porque era impossível “tirar tudo em tão pouco tempo”, disse ao VERDADEIRO OLHAR, Sofia Leal, da direção da USP.

Com o Natal à porta, os mais de 90 alunos, professores e voluntários foram presentados com uma ordem de despejo, adivinhando-se a “morte da universidade que tem sido o porto seguro de tantas pessoas”. Mas a vida por vezes surpreende e um particular acabou por ceder um espaço, que estava fechado há mais de 30 anos, na Vila Gualdina. “É uma zona central e o edifício adequava-se às funções que pretendíamos. Ali funcionava a sede de uma empresa. Tem salas e boas condições”, revelou Sofia Leal.

Alunos, dirigentes e voluntários puseram mãos à obra e conseguiram fazer a mudança, sem “nunca prejudicar o funcionamento da Universidade”, explicou Sofia Leal que disse ainda que naqueles dias “apareceram carrinhas e furgões trazidos pelos alunos, muitos deles com dificuldades de locomoção outros que tinham sido operados recentemente, mas que não baixaram os braços e quiseram ajudar”.

Ninguém desistiu, ninguém, e todos, sem exceção, lutaram para que a escola funcionasse

Emocionada com a “união” de todos, a dirigente destaca que “ninguém desistiu, ninguém, e todos, sem exceção, lutaram para que a escola funcionasse”. Nesta altura, “ainda há muita coisa para fazer”, mas todos se “têm dedicado com muitas horas de trabalho” e “com esforço e empenho, estamos a conseguir”.

Sofia Leal lembrou que a autarquia disponibilizou um espaço mais central, onde funcionavam salas municipais de Ação Social, mas era “mais um presente envenenado”, porque albergava “29 funcionários”, ou seja, não se adequava às necessidades da instituição, sendo “impossível meter ali 90 alunos, mais professores e voluntários”.

Problema ficou resolvido temporariamente. “Edifício foi emprestado e não dado”

Agora todos aqueles que fazem parte da USP podem respirar de alívio, sem nunca esquecer que esta casa é provisória, porque o “edifício foi emprestado e não foi dado. Temos consciência que tem dono e que continuamos desamparados”. Esta solução é provisória, para cerca de um ano, mas, ainda assim, todos estão focados em “nunca abdicar de uma instituição que é abraço e colo de tantas pessoas”, frisou Sofia Leal.

Recorde-se que, o diferendo entre a Associação para o Desenvolvimento Integrado, Sociocultural, Recreativo e Económico de Penafiel, a ADISCREP (que integra a Universidade Sénior), e a Câmara Municipal de Penafiel começou em 2023, quando, ao fim de 10 anos, o município quis pôr fim a um contrato de cedência do espaço celebrado para 20 anos, alegando necessidade de criar novos gabinetes municipais no edifício onde, em tempos idos, funcionou a escola primária António Pereira de Castro.

Foto: ADISCREP (DR)

A USP contestou e a autarquia disponibilizou um edifício de uma outra antiga escola primária, recentemente reabilitado, situado em Novelas, mas que distava do centro da cidade vários quilómetros. Para além disso, estava situado “numa pequena colina, com escadas e de difícil acesso”. Ora, e porque estavam em causa alunos com idades compreendidas entre os 60 e os 90 anos, a mudança faria com que muitos deles deixassem de frequentar a Universidade.

Todo este processo com a autarquia envolveu tribunais, providências cautelares, cadeados, investidas de arrombamento por parte do município e até a GNR, mas a luta da USP não foi em vão e Sofia leal congratula-se pelo facto de “ter saído gorada a tentativa do autarca de Penafiel de ser o coveiro da Universidade Sénior”. Agora, e na “nova casa”, a instituição sabe que derrubou mais uma barreira, a par com a da solidão que todos ali pretendem combater diariamente. Porque as relações de amizade e a ocupação do tempo são fundamentais e adquirem uma nova dimensão nesta fase mais adiantada da vida. E todos sabemos que a solidão pode mesmo matar.