João Sousa tem 18 anos, é de Irivo, Penafiel, e, no passado domingo, conquistou o ouro na modalidade adaptada de Goalball, juntamente com a Selecção Nacional, no âmbito dos Jogos Europeus da Juventude, realizados pelo Comité Paralímpico Europeu, na Finlândia.
“A experiência foi incrível, muito boa mesmo e foi também a minha primeira vez na Selecção Nacional. Poder jogar com jogadores mais velhos, com mais experiência, com outros tipos de remate foi incrível. Não posso dizer que vi algum jogador fraco, há sempre equipas equivalentes a nós”, explica João Sousa com um sorriso de satisfação no rosto.
A equipa que viajou até Pajulahti (Finlândia) com João tem jovens entre os 17 e os 23 anos oriundos de várias partes do país, como Vila Meã, Vila Nova de Gaia, Lamego e Lisboa.
Para a família deste penafidelense a alegria desta vitória foi contagiante. “Acompanharam sempre os jogos todos até à final, mesmo com duas horas de diferença, e estavam a viver quase como nós”, explica.
“Foi uma alegria. Ele é um herói para nós, derivado ao que já passou. Adora este desporto e faz tudo por ele e pelos colegas, que são muito unidos. Nunca imaginei que ele fosse lá e trouxesse logo, no primeiro jogo dele na selecção, a taça e uma medalha”, conta a mãe, Maria Aguiar, muito orgulhosa.
No Parque da Cidade de Penafiel, João, que veio acompanhado pela mãe, explica que é ali onde costuma correr para se preparar fisicamente. Conta que o desporto esteve também presente na vida dos dois irmãos mais velhos, mas que ele é que o leva mais a sério.
Até aos 10 anos diz que praticou futebol, “como todos os miúdos”, altura em que descobriu que tinha um tumor na cabeça que afectou o nervo óptico e fez com que ficasse com baixa visão.
Começou, entretanto, a praticar goalball no desporto escolar, na Escola Joaquim de Araújo, até que foi convidado a integrar a equipa do F. C. Porto, há cerca de um ano, devido à sua dedicação. “Apaixonei-me muito por esta modalidade. É muito incrível porque temos de estar com os olhos tapados, ouvir pelo som da bola e acho que toda a gente que pratica, mesmo sendo uma vez, gosta muito”, descreve, explicando, contudo que a parte da defesa é mais complicada porque exige muita atenção.
Esta modalidade desportiva paralímpica foi criada exclusivamente para pessoas cegas e com baixa visão, em 1946, sendo que começou a ser mais desenvolvida em Portugal em 1992, dirigida pela ANDDVIS (Associação Nacional de Desporto para Deficientes Visuais).
É jogada num campo indoor e as equipas têm três elementos cada, que devem marcar golos na baliza adversária, disposta a toda a largura do campo, lançando uma bola que pesa 1,25 quilos e que está equipada com um dispositivo sonoro (que permite aos jogadores identificar a sua trajectória). Todos os praticantes usam viseiras opacas, o que permite que atletas com diferentes graus de deficiência visual participem em condições de igualdade. João Sousa explica que existem algumas semelhanças com o andebol por rematarem com a mão.
Neste momento, João tem em vista ir para a universidade tirar o curso de fisioterapeuta, mas afirma que “gostava muito de levar o goalball a um nível mais profissional, mas é muito difícil”.
“Só ligam ao futebol e não apostam noutras modalidades, então, é muito difícil conseguirmos viver disto. Somos muito apaixonados por este desporto, mas temos também de ver a realidade, pois Portugal não está preparado para isso e temos de ter um emprego para a nossa vida”, lamenta, referindo que o que a modalidade e os atletas precisavam era de patrocínios.
“Quero praticar goalball até à minha carreira acabar, mas isso ainda vai demorar muito tempo”, diz, entre risos.