Verdadeiro Olhar

Atleta de Paredes foi o melhor português em trail mundial que decorreu em França

Bruno Coelho é natural de Paredes e foi o melhor português no Ultra Trail du Mont Blanc (UTMB), a principal prova do Trail mundial, considerada mesmo como o expoente da modalidade, e que começou na passada sexta-feira, em Chamonix, na junção da França, Suíça e Itália, perto dos Alpes.

Com uma distância de 170 quilómetros, o atleta fez um tempo de 24h54 e 19 segundos, ocupando a 22.ª posição geral e o 17.º lugar do seu escalão.

Em entrevista ao Verdadeiro Olhar, Bruno Coelho confessa que conseguiu “escrever mais uma página” da sua vida, nesta prova, onde se vive “a 101% a montanha”.

Apesar das contrariedades, e de não ser ter preparado como gostaria, tanto mais que em Maio foi operado, acabou por “correr muito bem”. Talvez o facto de ter estado parado tenha servido “para desligar da pressão do treino” e, quando retomou as corridas, veio com “mais garra”.

Quando entrou na UTMB, confessa que desenhou “mentalmente a prova”, tendo a expectativa que tudo “corresse bem”. Apesar de ter acreditado “ser possível entrar nas 24 horas de prova”, Bruno Coelho confessa que, ao longo do percurso, passou “por fases menos positivas”. Ainda assim, e quando isso aconteceu, “perto dos abastecimentos e com a ajuda da equipa de apoio Furfor Running Project nas bases de vida, rapidamente as coisas voltaram ao normal”.

Sobre a estratégia, revela que passou por “impor um ritmo confortável e contínuo logo de início, sem sair das zonas de conforto”. A meio “a sensação era boa e o corpo respondia”, o que lhe permitiu manter o ritmo e ficar perto do objectivo.

Bruno Coelho tem 38 anos e é guarda prisional. Uma profissão que, e porque trabalha por turnos, lhe permite ter “muita dedicação” à modalidade, conseguindo “conciliar” vários aspectos da sua vida.

Olhando para trás, o gosto pela realização deste tipo de provas começou no ano de 2013. Altura em que os alguns “amigos” o aliciaram. Como era nadador salvador, já estava habituado à prática desportiva. Depois, com o tempo, veio a “paixão” pelo trail, que é uma prova longa que, muitas vezes, é feita de forma lenta, devido à dureza dos percursos.

“O trail permite ter um grande contacto com a natureza, o que me traz muita paz e tranquilidade interior”

E desde essa altura, não parou de “acumular experiências” sobre esta prática que o seduz, porque, explicou, lhe permite “ter um grande contacto com a natureza”, algo que lhe traz “muita paz e tranquilidade interior”.

Para além disso, e porque vivemos um período conturbado, os trails conseguem “afastar” Bruno Coelho do “stress do dia-a-dia, do trabalho e de tudo o que é pressão diária”, levando-o a “aliviar o corpo e a mente”.

“O trail é um vício e já faz parte do meu ADN”

E o que começou quase como uma “brincadeira”, já se transformou “num vício” e, hoje, faz parte do seu “ADN”.

Mas o atleta de Paredes não participa apenas em longos percursos, também gosta de fazer trajectos mais curtos. Aliás, antes desta prova em Mont Blanc, participou no Trail Bem Viver, que aconteceu ainda este mês de Agosto, em Marco de Canaveses e que contemplou percursos de 14 e 24 quilómetros.

E como esta actividade, além da sua profissão, o absorvem muito, Bruno Coelho ainda tem que ter tempo “para a filha, para a família e para os amigos”.

Essa disponibilidade implica um “grande esforço”, mas tenta sempre “compensar” de forma a “minimizar as ausências”. Mas é algo que “compensador” e consegue fazê-lo, sobretudo nesta fase da sua vida, uma vez que, em Maio, foi transferido de Lisboa para o Norte.

Bruno Coelho nunca deixa a prática desportiva de lado, e a prová-lo está o facto de se deslocar para o trabalho “de bicicleta”. Para além disso, também nada e corre, o que lhe permite estar sempre em “boa forma física” e preparado para as provas.

E enquanto saboreia o feito conseguido no último fim-de-semana, o atleta de Paredes já pensa em novos desafios. A época dos trails começa em Novembro, altura em que conhece o novo calendário, mas Bruno Coelho, e para já, recebeu um convite para uma prova individual, que vai decorre em Puebla de Sanabria, em Espanha. E, quase de certeza, que vai viajar até ao país vizinho, tendo apenas que se “organizar a nível pessoal e profissional”.

Sobre o futuro, Bruno Coelho pretende continuar a trilhar caminhos e a conquistar o bem-estar que estes percursos lhe permitem. Até porque, a felicidade não advém dos títulos, mas sim de poder “cortar a linha de chegada”, cansado, mas feliz por se ter conseguido superar.