Verdadeiro Olhar

Aterro em Sobrado causa maus-cheiros? Estudo diz que quase nenhuns

Apesar das queixas recorrentes da população de Sobrado sobre os maus-cheiros provenientes do aterro em Sobrado, Valongo, um estudo sobre odores atmosféricos realizado na envolvente, pela NOVA School of Science and Technology | FCT NOVA (da Universidade Nova de Lisboa, pedido pela Recivalongo, que explora o equipamento, concluiu que “a larga maioria das medições não detectou qualquer tipo de odor”.

“A maioria das avaliações realizadas ocorreu na ausência de qualquer tipo de odor (91% de todas as medições)”, lê-se nas conclusões do documento.

“Entre as medições que identificaram maus-cheiros, o tipo de odor mais frequentemente avaliado diz respeito a queimadas (4% do total das avaliações), associado a técnicas de redução de biomassa vegetal em terrenos agrícolas próximos”, diz o estudo. Garante ainda que apenas 3% das medições identificou o tipo de odor “Acre/Ácido/Pungente/Azeitonas”, relacionado com gestão de resíduos realizada pela Recivalongo, mas que era sobretudo “de intensidade fraca ou muito fraca”.

Este é o segundo estudo pedido e apresentado pela empresa. O primeiro concluiu que não foram encontrados “insectos prejudiciais à saúde pública no aterro” e foi contestado pela Associação Jornada Principal, que luta pelo fim do equipamento, que considerou as conclusões “extrapoladas e tendenciosas”.

“Não é um caso grave, em comparação com outros casos de poluição do ar que temos estudado”

O estudo apresentado hoje procedeu a 1206 avaliações no terreno, em 18 locais, ao longo de 67 dias, entre Dezembro de 2019 e Abril de 2021. Foram combinadas duas metodologias: a olfactiva simples e o olfactómetro de campo.

Fonte: Estudo FCT Nova

O documento explica que houve “avaliações semanais de odores em ar ambiente, efectuadas de forma aleatória sem conhecimento prévio da Recivalongo ou de qualquer outra entidade”. Além dos 18 pontos na área envolvente do aterro foram usados ainda como pontos de controlo adicionais a própria Recivalongo e a Etar de Campo.

Mesmo com as recorrentes queixas da população, os investigadores concluíam que em 84% das medições efectuadas com o nariz e 95% com olfatómetro não foi detectado qualquer odor.

Quando ao odor “Acre/Ácido/Pungente/Azeitonas”, associado a resíduos, Francisco Ferreira, professor da FCT Nova e coordenador cientifico do estudo, refere, citado em comunicado da Recivalongo: “Os locais onde tivemos maior intensidade deste tipo de odores foi na própria Recivalongo. Em alguns dos dias, também houve odores em localizações próximas, onde já vivem pessoas, mas de forma fraca ou muito fraca. Analisámos as queixas que existem, mas no terreno verificámos que o impacto é muito diminuto. Não é um caso grave, em comparação com outros casos de poluição do ar que temos estudado”.

A mesma fonte adianta que foi confirmado “com recurso à estação meteorológica e aos dados do IPMA, que os ventos dominantes são no sentido contrário à vila de Sobrado, o que leva a que os odores na zona habitacional sejam percentualmente bem mais reduzidos”, pelo que os odores são “incómodo para quem vive perto, mas apenas em situações meteorológicas muito particulares”.

“O estudo conclui ainda que os odores detectados não têm qualquer impacto na saúde pública”, salienta a Recivalongo.

Segundo a empresa, “a minimização destes odores está dependente de uma autorização de descarga das águas tratadas em meio hídrico que deverá ser emitida pela ARH Norte, autorização essa que já foi requerida pela Recivalongo em 2018 e conta com o aval técnico positivo dos técnicos da própria ARH Norte, da Universidade do Porto e da empresa de projecto Enviestudos”. “O investimento de um milhão de euros que suporta esta tecnologia já foi inteiramente realizado pela empresa, mas não pode operar por falta de licença de descarga, apesar da instalação da tecnologia já estar licenciada pela própria Agência Portuguesa do Ambiente e Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte”, conclui a informação enviada.

Recorde-se que quer a Câmara de Valongo quer a Associação Jornada Principal têm lutado pelo fim deste aterro. Já foi intentada uma acção popular para tentar fechar o equipamento.