Não há certezas sobre a data de fundação, pelo que a Associação Desportiva de Lousada, pode até ter 87 anos, mas, na dúvida, a colectividade celebrou, recentemente, os 70 anos de existência.
É hoje uma das maiores associações da região e tem vindo a assumir-se, cada vez mais, como promotora do desporto no concelho de Lousada. Conta com perto de 500 praticantes divididos pela modalidade de futebol e voleibol e, ao longo da sua história, foi coleccionando inúmeros feitos.
Prima pela aposta na formação de jovens talentos, sendo encarada como um viveiro de valores que, nas mais diversas modalidades e actividades, têm singrado no desporto nacional.
Conheça os testemunhos do actual presidente, de ex-dirigentes e de atletas sobre o presente e o passado do clube.
“Para já, a nossa aposta é no futebol e no voleibol Mas seguramente que existem outras modalidades que o concelho e os clubes não têm e que a associação quer implementar”
Segundo o presidente da Associação Desportiva de Lousada, Sandro Sousa, o grande objectivo é continuar a honrar a matriz histórica da colectividade, os seus valores e consolidar o projecto desportivo que iniciou há mais de três anos com a sua entrada para a direcção da instituição.
Sandro Sousa admite subsistirem algumas dúvidas sobre a verdadeira data de fundação e que os historiadores não confirmam em definitivo quando se deu o início do clube, se em 1931 ou 1948.
“Tendo em conta que ao longo dos anos a colectividade foi passando por diferentes denominações jurídicas, fruto dessas diferentes estruturas jurídicas existe uma forte possibilidade de não serem 70 anos, mas 87 anos”, disse, salientando que foram todos estes anos, que transformaram a colectividade numa referência e numa verdadeira escola de formação e de valores e que a associação vai continuar a comemorar os feitos conseguidos, as conquistas realizadas, a passagem de muitos milhares de jovens pelos campos de valores.
“Há uma figura que é incontornável que foi a do presidente da Assembleia Geral e do clube, Mário Fonseca, um impulsionador da associação. Depois há vários dirigentes que marcaram a vida da instituição como ex-presidente de câmara, Jorge Magalhães, que continua a ser o presidente da Assembleia-Geral, o Francisco Barbosa que durante anos teve a responsabilidade de fazer a gestão do clube, o Eugénio Cunha que mais recentemente esteve ligado às direcções que apresentaram os melhores resultados de sempre, falhando por pouco o acesso à II Liga, numa partida que caiu para o Trofense”, afirmou, recordando, também, os nomes de Carlos Teixeira, José da Silva Meireles, Francisco Ferreira e Joaquim Valinhas, como figuras que tiveram um papel importante na vida da colectividade.
Sandro Sousa manifestou que a instituição é, presentemente, uma referência no concelho e na região e além do futebol e do voleibol, as únicas modalidades praticadas no clube, a colectividade já integrou nos seu seio o futsal, sendo propósito do clube alargar o leque de modalidades de uma forma sustentada.
“É verdade que a experiência com o futsal foi algo efémera, mas queremos retomar esta modalidade noutros moldes. Para já, a nossa aposta é no futebol e no voleibol, mas seguramente que existem outras modalidades que o concelho e os clubes não têm e que a associação quer implementar, mas os condicionalismos financeiros não nos têm permitido fazê-lo”, concretizou, sublinhando que o clube está a tentar criar raízes, dar passos sustentáveis no sentido de alargar o leque e a oferta de modalidades transformando-se num verdadeiro clube ecléctico.
“Há cerca de três anos, tínhamos mais de 100 atletas e neste últimos anos conseguimos aumentar o número de atletas e temos já necessidade de mais infraestrutura para as nossas actividades”
O dirigente recordou, também, que com a sua entrada na direcção, a associação tem vindo a crescer de forma sustentada, aumentando o número de praticantes, integrando, hoje, cerca de 500 atletas, sendo uma das maiores em termos regionais com condições únicas para continuar a crescer.
“Há cerca de três anos, tínhamos mais de 100 atletas e neste últimos anos conseguimos aumentar o número de atletas e temos já necessidade de mais infra-estrutura para as nossas actividades. Tudo isto só tem sido possível graças ao apoio de muitas pessoas que colaboram com a instituição de uma forma desinteressada”, adiantou.
“Quando assumi funções, desportivamente, a equipa principal encontrava-se na II divisão distrital da Associação de Futebol do Porto. Definimos como objectivo subir de patamares de dois em dois anos e felizmente as coisas correram bem logo no primeiro ano e em três anos conseguimos três subidas consecutivas de divisão”, atestou, reconhecendo que é vital implementar um novo modelo de forma a ultrapassar os constrangimentos que a actual estrutura de financiamento associativa impõe aos clubes.
No que toca ao futebol, e sem entrar em euforias, o dirigente lousadense assumiu que garantido o trajecto que o clube tem vindo a trilhar e implementada a sustentabilidade financeira, o Lousada tem condições para voltar a ocupar um lugar de referência nos nacionais e tornar-se ainda mais numa equipa suficientemente competitiva.
“Agora, temos de perceber primeiro como é que vamos fazer a sustentabilidade desse projecto sob pena de voltar a acontecer àquilo que sucedeu num passado recente”, disse, reforçando que este é uma discussão que tem de ser feita dentro da associação, envolvendo outros actores e protagonistas ligados à instituição.
Referindo-se à gestão da associação, Sandro Sousa admitiu que gerir uma instituição como a Associação Desportiva de Lousada não tem sido tarefa fácil, dada as dificuldades que a colectividade enfrenta no dia-a-dia, os inúmeros obstáculos e a falta de recursos.
“Toda a máquina fica caríssima. O elevado volume de atletas e equipas que temos implica que tenhamos de realizar um esforço financeiro acrescido. Os recursos são demasiado escassos”, afiançou, acrescentando que urge envolver os empresários no âmbito daquilo que são as responsabilidades sociais do clube.
Nesta questão, o dirigente reconheceu o esforço financeiro que a autarquia local, a Câmara de Lousada, tem vindo a realizar, assumindo que o município tem sido um parceiro incondicional no apoio à colectividade.
“O município de Lousada tem tido uma colaboração extraordinária, investindo no Complexo Desportivo, equipamento que ao longo dos últimos anos tem vindo a ser melhorado e é usado pela Associação Desportiva de Lousada em condições muito favoráveis e que motivam os atletas e têm contribuído para dignificar o trabalho quer dos atletas quer de toda a máquina que integra a equipa técnica”, manifestou, garantindo que o espaço reservado para a associação começa até a ser escasso para as dimensão das actividades, o número de atletas e equipas que integram a instituição.
Na vertente das instalações, Sandro Sousa confirmou, também, que os entraves e os obstáculos relacionados com as antigas instalações, localizadas junto ao Campo da Feira, com a construção do novo campo no Complexo Desportiva de Lousada foram gradualmente vencidas e, hoje, os associados e os seguidores do clube voltaram a apoiar os jogos do Lousada e a identificar-se com a mística do emblema.
Joaquim Valinhas, presidente da Associação Desportiva durante um ano, tendo exercido dois anos a função de tesoureiro e de presidente da Assembleia-geral durante vários anos, reconheceu que a Associação Desportiva de Lousada incorpora em si todo um legado histórico, que é, hoje, reconhecido por todos, sendo o futebol e o hóquei em campo as modalidades que mais contribuíram para projectar a instituição.
Da sua passagem pela Associação Desportiva de Lousada, Joaquim Valinhas recordou a disputa do campeonato regional, com o Lousada a defrontar equipas como o Paços de Ferreira, Penafiel, Paredes, o Felgueiras, o Lixa, entre outras, assim como a primeira subida, já com Joaquim Valinhas a presidente.
“Ao fim de 23 anos conseguimos protagonizar a primeira subida de divisão. Recordo-me que tinha uma equipa jovem a acompanhar-me e a eles devo, também, todo o trabalho e os feitos obtidos. Passamos para a segunda divisão e mais tarde estive na direcção com António Ribeiro e Amílcar Neto, nessa altura, já como vice-presidente, protagonizamos nova subida de divisão”, atalhou, recordando que enquanto presidente da Assembleia-Geral e empossou vários presidentes como Francisco Barbosa que é conjuntamente com Joaquim Valinhas um dos poucos sócios honorários ainda vivos do clube.
“Sou o sócio número 17, um dos mais antigos e continuo muito ligado à vida da Associação Desportiva de Lousada inclusive à parte mais recente da colectividade em que depois de vários erros e contra a minha vontade assisti à queda da associação no sentido em que teve de fazer uma alteração jurídica e começar por baixo”, declarou.
“O hóquei em campo foi e é ainda uma modalidade referência no concelho, fui co-fundador do hóquei em Lousada em 1967 e fui atleta federado durante 22 anos. A modalidade surgiu de uma forma interessante, um rapaz do Porto, que tinha sido jogador, veio viver para Lousada mobilizou um grupo de amigos e contribuiu de forma decisiva para promover o hóquei em campo”, confessou, sustentando que com o contributo deste os atletas foram evoluindo e os resultados começaram a surgir.
“A criação do sintético permitiu às equipas evoluir substancialmente e apraz-me verificar que miúdos que treinei há vários anos atrás, que foram campeões nacionais de infantis, hoje, estão na selecção nacional”
Joaquim Valinhas recordou, também, que a construção do piso sintético, da bancada e de um campo exclusivamente direccionado para a modalidade veio dotar a modalidade de condições únicas, num investimento único na região.
“A criação do sintético permitiu às equipas evoluir substancialmente e apraz-me verificar que miúdos que treinei há vários anos atrás, que foram campeões nacionais de infantis, hoje, estão na selecção nacional”, asseverou, confirmando que Lousada tornou-se na capital do hóquei em campo a nível nacional, sendo uma referência a nível internacional.
“O hóquei em campo tornou-se uma modalidade de gerações, uma espécie de paixão que une as famílias”, afiançou, salientando que o primeiro troféu obtido pelo clube foi uma taça olímpica e o título campeão nacional de juvenis, em Alfandega da Fé.
Como troféus obtidos pela associação, Joaquim Valinhas apontou, também, o título de campeões regionais da segunda divisão, um título que, confessou, marcou o hóquei em campo em Lousada.
Falando das figuras/dirigentes da colectividade que mais o marcaram, Joaquim Valinhas escolheu o nome de Jaime Ferreira, fundador da modalidade que a autarquia homenageou no ano transacto assim como António Miguel, ex-jogador, ex-treinador e ex-dirigente e esteve ligado ao salto qualitativo que o hóquei em campo deu a nível técnico.
No futebol, Joaquim Valinhas elegeu Francisco Barbosa e o António Ribeiro, este último ligado à construção do antigo estádio e que mais tarde seria demolido.
“Continuo a manter uma relação muito grande com o clube, infelizmente não vou ver os jogos que queria mas acompanho o futebol e o hóquei. O futebol está à conquista do lugar que merece e o hóquei tem amealhado títulos atrás de títulos”, expressou, confirmando que o actual presidente do clube está a realizar um trabalho meritório e que a continuar é expectável que o Lousada venha a subir aos nacionais.
“Se o Sandro não se cansar, se a câmara municipal e os associados ajudarem penso que o Lousada tem condições para subir aos nacionais. Esta é uma pretensão justa que honra a colectividade”, anuiu.
“Com a ajuda de muita gente, ajudei o Lousada a subir à II Divisão nacional onde esteve sete ou oito anos. Foi a primeira vez que no Lousada se praticou o profissionalismo. Até aí o clube vivia das camadas jovens, treinava-se à noite, num amadorismo sem outro espírito que não fosse servir a associação. A contratação do Joaquim Teixeira, técnico que esteve no FC Penafiel permitiu ao clube fazer uma época esplendorosa”, sustentou.
Francisco Barbosa ressalvou que, à data, o clube teve de enfrentar equipas mais experientes, não tinha a bagagem em termos competitivos nem orçamentais de outros clubes, mas conseguiu superar todos esses obstáculos.
“Nessa altura não sei se era mais difícil subir se manter na mesma divisão. Recordo-me de uma época em que desciam seis equipas da II divisão da zona Norte. Foi uma altura em que fizeram acertos de divisões e calendários. Éramos uma equipa que não tínhamos experiência e manter-nos numa divisão competitiva como era a III divisão com formações como o Rio Ave e outras não era tarefa fácil”, afirmou, realçando que, à data, e apesar de existirem outros emblemas com mais nome e visibilidade, o Lousada conquistou o seu lugar sendo já muito procurado por atletas que tinham passados por emblemas mais credenciados.
Francisco Barbosa esclareceu, também, que mais tarde em circunstâncias difíceis para o clube foi obrigado a assumir a direcção e a arranjar uma direcção.
“Caí na asneira de aceitar assumir a direcção da Assembleia-Geral. Foi um problema porque cheguei ao fim e tive de arranjar uma direcção”
“Caí na asneira de aceitar assumir a direcção da Assembleia-Geral. Foi um problema porque cheguei ao fim e tive de arranjar uma direcção. As pessoas que me pediram para assumir esse cargo assumiam também que no ano seguinte ficavam na direcção mas abandonaram e eu fiz várias assembleias gerais e já em vésperas de começar o campeonato tive que meter lá um filho meu, que tinha jogado nas camadas jovens, como presidente do clube. Fizemos um campeonato tranquilo, mas a associação já passava por dificuldades financeiras, era cada vez mais difícil arranjar direcções, toda a gente trabalhava por carolice e muitas vezes tínhamos que ir ao bolso e bater à porta de pessoas para liquidar compromissos”, atalhou, manifestando que, nessa fase, as dificuldades foram-se acumulando e o clube acabou por bater no fundo.
“Felizmente a Associação tem um presidente, um ex-atleta, que está a fazer um trabalho notável. O Sandro Sousa soube também apostar na formação, valorizar os activos jovens do clube, promovendo-os à equipa principal”, confessou, relevando o contributo que Joaquim, Valinhas e José Cunha, director do clube, e Eugénio Cunha deram à associação.
“O dirigente José Cunha que teve um trabalho notável na Associação de Futebol do Porto, fui eu que o mobilizei numa altura em que fui irradiado, fez uma sede, subiu uma equipa para a III nacional e na Associação de Futebol do Porto foi preponderante para desbloquear vários problemas do Lousada”, defendeu.
“O Lousada incutiu-me os valores do que é ser ambicioso, do que é ser jogador de futebol”
Emerson Monteiro reconheceu mesmo que foi a sua vinda para o Lousada que lhe permitiu evoluir enquanto jogador e ficar conhecido no futebol.
“O Lousada incutiu-me os valores do que é ser ambicioso, do que é ser jogador de futebol, e a mística que era jogar no campo do Largo da Feira, um campo mítico, fantástico, em que os adeptos estavam muito em cima dos lances. As pessoas viviam o futebol de forma apaixonada. Foi um ano e meio fantástico e o Lousada foi o clube em que joguei mais tempo e onde aprendi a gostar ainda mais do futebol”, referiu.
Emerson Monteiro, atleta que além do Lousada viria a integrar posteriormente vários clubes, reconheceu que no ano em que o Lousada subiu à III Divisão a equipa era constituída por jogadores com experiência, atletas que tinham jogado em clubes profissionais, pelo que, lembra-se, a expectativa dos associados do clube, à data, era imensa.
“Tínhamos uma equipa fantástica com um plantel feito à medida pelo Eugénio Cunha, um presidente fantástico. O treinador era o Garrido, um técnico com muita experiência que tinha passado pelo Benfica e no Boavista e atletas, também, com bastante traquejo como o Nelo, Miguel Babo, José Monteiro, Vitinha que me ensinaram imenso, atletas de primeira e II Liga”, atalhou.
Sobre a subida em 2001, Emerson Monteiro recordou, ainda, que o Lousada até nem começou nada bem a prova, tendo sofrido uma derrota pro 3-0 frente ao Serzedelo, mas a equipa recompôs-se e a partir daí foram mais as vezes que venceu do que as que perdeu.
Emerson Monteiro esclareceu, também, que, ainda consigo no plantel, o Lousada teve quase a subir para II Liga, tendo perdido para o Leixões, conjunto que curiosamente foi, nesse ano, disputar a Taça de Portugal.
“O Leixões tinha um orçamento muito superior., mas o Lousada foi brilhante porque nesse ano fizemos 30 pontos consecutivos. Ganhamos os dez primeiros jogos. Conseguimos a manutenção em 10 jogos”, acrescentou, confessando que há três presidentes que o marcam na sua carreira como jogador, Eugénio Cunha, Mário Fonseca e o actual presidente da Associação Desportiva de Lousada.
“O Sandro Sousa é uma pessoa ambiciosa, tem uma crença em tudo o que se mete, sabe claramente o que quer e está a fazer um trabalho fantástico com poucos recursos”, sustentou.
Emerson Monteiro além do Lousada representou emblemas como, o Rebordosa, Lixa, Vizela, o FC Penafiel, Vila Meã, entre outros.