Nestas eleições, novidade, novidade mesmo, só a “trackingpoll” com que a TVI/CNN nos bombardeou todos os dias.
Consequência?
Se já desconfiávamos da fiabilidade (e até da honestidade) das sondagens que cada vez mais ficam longe dos resultados finais, desta vez, ainda nos atiraram com a novidade diária da “trackingpoll”. Feitas as contas e em bom português trata-se apenas de mais um “traque” com lastro feito à dimensão de quem só procura as audiências. Os comentadores são meramente instrumentais. O que dizem só lhes serve para condicionar quem vota. Se depois das eleições se sentem obrigados e dizer o contrário do que afirmaram isso apenas revela que nem a eles lhes é dada a liberdade de pensar para além dos gráficos ou, então, e até é provável, estão eles também ao serviço da desinformação de que são porta-vozes. Se assim for, a coisa é ainda mais grave do que o que pensávamos.
Sondagens?
Falou-se muito sobre isto. As sondagens não têm qualidade técnica porque não tem uma amostragem adequada, disseram. As sondagens viciam os debates e os comentadores, afirmaram. Os partidos, vários, queixaram-se das sondagens, justa ou injustamente. Muito se debaterá ainda sobre as sondagens nestas eleições.
Como diz o outro: eles falam, falam, mas não fazem nada! Neste caso, quem menos fez foram aqueles que mais responsabilidades têm.
Quem nunca abriu a boca foi a ERC( Entidade Reguladora Para a Comunicação Social), entidade que- pensava-se – existia sobretudo para agir nestes momentos. Nada! Bola! E depois queixem-se que os “populistas” reclamem de um estado disfuncional que só dá tachos, mas nunca é capaz de nos fornecer a refeição.
E se a ERC fosse extinta e, já agora, levasse consigo a CNE (Comissão Nacional de Eleições) algum de nós sentiria a sua falta? Por nós, estão dispensadas de continuarem a sorver recursos do erário público se apenas servirem de emprego político para servir clientelismos partidários.
Extingam-nos e verão como, por isso, ninguém calará ambas.
Resultados eleitorais?
Certa direita ainda por aí a falar do síndrome de Estocolmo* para explicar a maioria absoluta do PS. Como se chamará a síndrome que explica que a direita tradicional vote alegremente duas vezes -e votaria terceira vez se fosse preciso – no seu génio mor para Belém o qual, em dois mandatos, de tanto virar a página, acabou com a sua base partidária de apoio – PSD, no mínimo, 11 anos na oposição e CDS (morreu)?Objetivamente, a direita portuguesa não tem grandes oportunidades de voltar ao governo antes de 2030, salvo algum desastre inesperado ou grave acidente de percurso do PS. Ou seja, só se o PS meter os pés pelas mãos (não seria a primeira vez) é que a direita poderá aspirar ao poder nos próximos anos. Contudo, à boa maneira portuguesa, continuará a acreditar num qualquer D. Sebastião, nem que ele saia de em dias quentes de uma qualquer praia algarvia. Venha de lá o messias que se segue!
Este cenário não deve, não pode, deixar de exigir ao PS que cumpra o programa com que foi eleito e não o dos partidos de direita – na saúde, na educação, na segurança social, no trabalho, na fiscalidade, no ambiente e não só. Cidadania atenta e ativavai ser muito mais necessária nos próximos anos.
*A Síndrome de Estocolmo, também conhecida como Vinculação Afetiva de Terror ou Traumática, é um estado psicológico em que vítimas desenvolvem um relacionamento com seu raptor.