No máximo, Pedro tentou ser simpático animando Jesus, privadamente: «Deus não permita, Senhor, que isso aconteça!», por Jesus lhes anunciar que ia ser morto em breve. Graças a essa intervenção bem-intencionada, Pedro recebeu uma descompostura monumental, que deixou todos os discípulos aterrados.
O outro caso-limite tinha acontecido muitos anos antes, quando Jesus era ainda muito novo e esteve vários dias perdido. Nossa Senhora e S. José O encontram-No finalmente no Templo, com os doutores, e Maria queixa-se: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». O susto tinha sido tão grande…
De resto, as pessoas que protestaram contra Jesus foram os seus opositores. Coitados!
Entre os fiéis, apenas duas mulheres se atreveram a ralhar com Mestre. Eram irmãs, chamavam-se Marta e Maria, naturais de Betânia, a poucos quilómetros de Jerusalém, onde viviam com o seu irmão Lázaro. Naquela família, de enorme generosidade, habituada a ter a casa invadida de amigos, ficavam Jesus e os discípulos quando estavam em Jerusalém.
Segundo os Evangelhos, a primeira a ralhar com Jesus foi Marta: «Então, não Te importas que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que me venha ajudar!». Às duas irmãs, Jesus admitia tudo!
Noutra ocasião, quando Lázaro estava muito doente, mandaram-No chamar, mas o Mestre demorou alguns dias. Finalmente, quando chegou, Marta disparou imediatamente: «Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!»; daí a instantes vai chamar a irmã e a primeira coisa que ela faz é queixar-se do atraso: «Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!». Chora Jesus com as duas irmãs e comenta o povo «vede como Ele era amigo de [Lázaro]». Efectivamente, Jesus tinha uma amizade especialíssima com os três irmãos.
Amanhã, segunda-feira, nas Missas que se vão celebrar em todo o mundo, vai ler-se outro relato muito especial. Jesus tinha ressuscitado Lázaro há poucos dias, e os três organizaram um jantar para agradecer e tomar posição publicamente. É que, depois de Jesus ressuscitar Lázaro perante uma multidão numerosa – vários dias depois da morte, quando o corpo já cheirava mal –, os líderes judaicos decidiram matar Jesus. O banquete foi de tal ordem que, no fim, as autoridades judaicas decidiram matar também Lázaro. Não se sabe se os três irmãos tiveram medo, mas sabe-se que organizaram um jantar em grande e convidaram uma multidão a festejar com eles. A certa altura, Maria foi buscar um frasco enorme de perfume, de nardo puro, e entornou-o todo aos pés de Jesus. O perfume era caríssimo. E toda a casa se encheu com o perfume daquele bálsamo. A seguir, enxugou com os cabelos os pés de Jesus. Aquilo já não era uma festa, era uma adoração, a entrega mais plena, à frente de todos.
Levantou-se Judas Iscariotes para ralhar com aquela mulher: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários, para dar aos pobres?!».
Jesus, que deixava Marta e Maria protestarem quando quisessem, não admitiu o comentário de Judas e contou em público o que provavelmente só Ele e os três irmãos sabiam: «…ela tinha guardado o perfume para o dia da minha sepultura».
Maria não tinha sabido esperar, para prestar a Jesus aquela homenagem? Pelo contrário! Jesus explicou que vinha mesmo na altura certa: «Pobres, sempre os tereis convosco, mas a Mim, nem sempre Me tereis». Naquele momento, nem todos perceberam.
É o que se vai celebrar, dia a dia, ao longo desta semana: a condenação e a morte de Jesus. Que ressuscitou ao terceiro dia, sem dar tempo para O ungirem.