O ano de 2022, ainda antes de começar, era já um horizonte de esperança em que se fixavam os nossos olhos, em busca de alívio de todas as tensões a que fomos submetidos em 2021 (e já antes…), individual e colectivamente, no decurso de uma pandemia que imaginávamos (queríamos imaginar) estar de saída, senão das nossas vidas, das nossas preocupações mais imediatas.
Não estando livres das consequências da covid-19, quer das sequelas incertas que deixará nos infectados e nos que virá a infectar, quer das suas múltiplas traduções na nossa realidade económica e financeira, antevíamos um progressivo regresso à vida, ao que poderíamos redescobrir após serem retiradas as restrições que nos têm aprisionado há tanto tempo, assim a ausência de novas variantes agressivas do vírus o permitissem.
Quando já nos preparávamos para isso, fomos apanhados desprevenidos por outro vírus, o da ganância do poder imperial, da eternização do poder pessoal e do maior desprezo pelo sacrifício de pessoas reais, inocentes destes mecanismos, com vidas já de si difíceis, para se chegar a essa meta.
A História, a História dos livros, a História que está nos livros para nos ensinar a não repetir erros repete-se, é repetida por quem tem interesse nisso e nenhum nos outros. Está lá, nos tais livros, que um homem chamado Hitler (era aquilo um homem?…) mandou incendiar o Parlamento e depois acusou os seus inimigos políticos de o terem feito. Depois, invadiu os Sudetas porque,nessa região da Checoslováquia, uma parte da população falava alemão, depois anexou a Áustria porque a sua população falava alemão (e porque Hitler era austríaco) e depois arranjou um simulacro de escaramuça junto à fronteira da Polónia para justificar a invasão deste país.Só nesse momento lhe declararam guerra.
Não nos parece, hoje, esta sequência de acontecimentos estranhamente familiar? Então os livros de História que deveriam servir, entre outras dimensões importantes, para nos prevenir de repetições das atrocidades contra os povos continuam, pelo contrário, a ensinar déspotas gananciosos a enganar os povos de hoje com estratagemas de ontem?
Como se detêm aqueles que só respeitam a força bruta? Com uma revolução em casa, uma revolução maciça da juventude na rua, qual Primavera árabe, capaz de substituir um ditador por um Estado de direito? E os beneficiários do sistema corrupto político-militar vão ficar a assistir? A um louco não se poderá seguir um louco e meio ou um vazio de poder não poderá dar origem ao caos generalizado de um novo Iraque? São tantos medos que podem explicar não ser contra, não fazer nada, deixar correr quem não quer a democracia à sua porta.
Mas o que é certo é que uma Rússia democrática permitiria uma “paz europeia” não dependente de uma “paz americana”, mas isso são muitas carroças à frente de muitos bois…