Henrique Pereira vive em Frazão, tem 74 anos e desde os 14 que trabalha com a madeira. Actualmente é artesão e anda de feira em feira a mostrar o seu trabalho.
Começou por trabalhar com o seu pai na fábrica de móveis que ele geria em Frazão, assim que saiu da escola, aos 14 anos, a entalhar madeira. Ficou lá até ir para a tropa e, quando voltou, ficou apenas durante mais dois anos em duas empresas e depois resolveu trabalhar por conta própria, em 1971.
Chegou ainda a ensinar alguns rapazes que ficaram a trabalhar com ele durante uns tempos e diz que era dos poucos a entalhar madeira naquele local.
Conta que, nessa altura, a procura pela talha era muita – já que os móveis não eram lisos – e, por isso, não havia muito tempo para aperfeiçoar. “Naquele tempo, quer fosse bem entalhado ou pouco, não fazia diferença”, explica.
No entanto, com o passar dos tempos e mudança no design do mobiliário, a procura pela talha de madeira começou a desaparecer e, por volta de 2004, Henrique Pereira decidiu reformar-se. Mas a ligação com a madeira não ficou por aí.
O artesão conta que a Câmara Municipal de Paços de Ferreira pediu-lhe que fosse representá-la a uma feira de artesanato em Gondomar, depois em Vila do Conde e, de seguida, na Agrival, em Penafiel. Henrique Pereira começou a ganhar gosto e decidiu colectar-se como artesão por volta do ano de 2010. “Agora parece um bichinho que ficou ferrado na gente”, brinca.
“Antes quero estar a trabalhar do que estar quieto. E dá sempre vantagem, as pessoas que vão lá vêem que há alguns que trabalham ao vivo, como é o meu caso. E já há um convívio muito grande (com os outros artesãos)”, sublinha Henrique Pereira. Contudo, refere que a procura “tem vindo a descer de feira para feira há para aí três anos, pelo menos”. “É muito pouquinho para o esforço que a gente tenta fazer. Há uns que dizem que tem aqui peças tão bonitas, mas que são caras”, acrescenta.
Percorre várias feiras de artesanato do Norte do país, como Maia, Vila do Conde, Gondomar, Celorico de Basto, Chaves e São João da Pesqueira e a mulher, Albertina Carneiro, faz sempre questão de o acompanhar.
Henrique Pereira tem uma oficina na garagem de sua casa e é lá onde costuma trabalhar. Numa das salas, repleta de madeira, há uma máquina de recorte que o ajuda no seu trabalho. No outro espaço, as paredes estão preenchidas pelos vários moldes de peças que o artesão já fez ao longo de todos estes anos e é onde tem a banca onde trabalha.
Ainda numa outra sala mais pequena, Henrique Pereira guarda algumas peças que faz, desde espadas e baús a pequenos presépios. Mas imaginação não lhe falta. Conta que vai fazendo também uns quadros pequenos com os signos e também símbolos de clubes de futebol. “A gente tem que inventar muita coisa para não levar sempre as mesmas e porque os outros também inventam”, admite.
“Há peças que demoram muito”, refere, acrescentando que, por vezes, demora cerca de oito horas para encaixá-las umas nas outras, quando é algo mais elaborado, mais dois dias para entalhar.
Dos dois filhos que tem, revela que nenhum decidiu continuar a arte: uma trabalha numa escola e o outro é guarda prisional e tem uma agência de seguros. “Eu ainda o obrigava a vir cá ao sábado, quando andava na escola, mas ele reclamava. Lá o punha a riscar e a fazer e adiantava-me o trabalho. Havia aqui uns rapazes da idade do meu filho que ajudavam também, dava dinheiro para comprarem gelados e eles lá vinham todos contentes”, explica, mas admite que “até foi bom ele não querer, porque tinha que ajeitar outro modo de vida”.
“São 60 anos a trabalhar com a madeira e estão aqui estes ombros cheios de tendinites. Foram muitos anos e era para ganhar para o nosso pão”, confessa.